Quem és tu, Super Bock Super Rock?
São 24 anos de mudanças: o Super Bock Super Rock tem histórico de festival camaleão e habituou-nos a isso. A pergunta que ficou no ar, durante esta edição, é de índole existencial: quem és tu, SBSR?
Facto: a 24ª edição do SBSR proporcionou bons concertos. Tivemos a oportunidade de vos falar, aqui, do tributo ao Zé Pedro, dos The xx, de Slow J, de Anderson .Paak. Houve mais concertos e bandas que se revelaram; outras que estreitaram laços com o público.
Mas não houve só música: vinte anos depois, a companhia catalã La Fura Dels Baus regressou ao Parque das Nações, para apresentar Voando Indoor. O espectáculo foi criado a pensar no festival e incluiu a participação da cantora de flamengo, Mariola Membrives. A direcção da performance esteve a cargo de Miki Espuma. Houve duas actuações, na última noite do festival, que contaram com a participação de alunos do Chapitô. O público presente registou o momento e eram muitos os telemóveis erguidos para partilhar com os amigos, nas redes sociais.
Picture or never happened
Não é novidade para ninguém: se não está no instagram ou no twitter, nunca aconteceu. Por esse motivo, os recintos dos festivais disponibilizam espaços que cabem na categoria do “instagramável”.
O Super Bock Super Rock não foge a essa regra: desde as letras gigantes ali mesmo perto do Pavilhão de Portugal, à instalação da Underdogs, com trabalhos da Wasted Rita, passando ainda pelo espaço lounge, onde podíamos desfrutar de outras redes sociais.
E por falar em instagram: já viram bem a presença de Anderson .Paak nesta rede social?
Quem é o teu público, SBSR?
O público do Super Bock Super Rock tem sido uma surpresa. O cartaz deste ano fez com que rumasse até ao Parque das Nações uma verdadeira mistura de tribos, com motivações diferentes.
Segundo dados da organização, o festival esgotou na sexta-feira: estiveram presentes 20.000 pessoas. Terá sido Travis Scott o motivo de tal afluência? Confirmamos que foi o dia em que sentimos mais afluência e até algumas dificuldades em transitar do palco EDP para a Altice Arena. Slow J foi recebido por uma plateia composta, mas nada que nos desse a entender que os bilhetes tivessem esgotado. Na quinta-feira foram 16.000 os festivaleiros presentes; e no sábado, 17.000.
Curiosamente, foi no sábado que se viveu um compasso de espera no início do concerto de Stormzy. Tal situação deu a entender que se esperava que o público largasse tudo o que estava a fazer para rumar até à Altice Arena. Tal não aconteceu. Por sua vez, Benjamin Clementine foi recebido por um público que o estimava, mas fica a dúvida se teria havido alguém a comprar bilhete só para ir ver o londrino. Alguém comentava que talvez isso tivesse acontecido com os The The, que actuaram na mesma noite, no palco EDP.
Nessa mesma noite sentiu-se um grande vazio no pavilhão aquando da actuação de Julian Casablancas & The Voidz. A par do vazio, houve imensas queixas acerca da qualidade do som.
Confirmo. Isto é o concerto do Julian Casablancas #sbsr pic.twitter.com/n6zAB0mMUi
— Bruno Barão (@bbarao) July 22, 2018
Identidade SBSR
Não vamos questionar a ausência de rock no cartaz da 24ª edição do Super Bock Super Rock. Afinal, a expressão rock é abrangente o suficiente para acolher os artistas que por lá passaram. A verdade é que o hip-hop atrai muito público, até porque alguns dos músicos mais criativos, mais influentes, mais amados se posicionam neste estilo musical. Em 2016 foi Kendrick Lamar o nome que arrastou uma enchente de fãs para a Altice Arena, recordam-se?
O SBSR morreu? É um exagero afirmar isso. O que sentimos é que este cartaz trouxe indefinição, de tal forma que o público acabou por não responder. A afluência aos concertos foi o que se pode ver em imagens como esta que se segue, partilhada via twitter.
O SBSR estava assim quando desligaram as luzes para os the Voidz, que são os headliners de hoje. Nem a oferecer bilhetes se livraram do flop total. pic.twitter.com/JxoHe8pRKX
— cybergoth dance party (@AROMANTlClSM) July 21, 2018
Alguém que chame um médico legista ao Parque das Nações, o SBSR morreu.
— Tiago André Alves (@otiagoandre) July 21, 2018
Perguntar pela identidade do SBSR é fazer votos para que continuem a reinventar-se, a adaptar-se e a fazer parte da história dos festivais, em Portugal.
Afinal, o “ÉsseBêÉsseÉrre” já nos trouxe tantos e tão diferentes artistas como os The Cure (em 1995), o David Bowie (1996), Morphine (1998), os Pixies (2004), Prince (2010), Eddie Veder (2014), Iggy Pop (2016), Kendrick Lamar (2016), Red Hot Chili Peppers (2017) – só para citar alguns.
Até 2019, Super Bock Super Rock!