Um festival de festivaleiros, para festivaleiros – Patti Smith é a mais verdadeira de todos nós
O último dia em Paredes de Coura não poderia ter terminado de melhor forma. Despedimo-nos de mais uma edição fantástica, que segundo a organização foi a melhor de sempre, com uma média de 26 mil pessoas por dia, passes gerais e 2 dias de bilhetes diários esgotados.
Na conferência de imprensa a organização anunciou as datas do próximo ano e fez um balanço desta edição do festival. Como disse anteriormente e volto a repetir: há algo intrínseco neste festival que só o público daqui percebe. É aquilo a que chamamos essência, algo que não começa pela música, mas sim em todos nós. Não precisamos fazer parte da cultura do glitter e de poses desnudas de Instagram, para nos sentirmos integrados. Aqui somos todos unidos por outros motivos. O campismo é uma espécie de segunda casa, na qual partilhamos latas de conserva com vizinhos vindos de Norte a Sul. Levamos daqui momentos para a vida. Levamos daqui amigos para a vida. Levamos daqui tanta coisa boa e deixamos sempre um pedacinho de nós (pelo menos até ao ano seguinte, onde esta rotina festivaleira começa toda outra vez).
Mas a música também importa e a vencedora da noite foi Patti Smith
Após a conferência de imprensa deu-se uma Vodafone Music Session com a banda portuguesa Time For T. Estas sessões são ideais para uma maior proximidade entre pequenas bandas e o público.
Já no recinto percebemos que a diva Mitski não sabe fazer contas. Após ter tocado apenas 2 músicas, deita-se numa mesa e diz que já tocou 3, dando a dica para os fotógrafos abandonarem a área. Damos um salto até ao palco Vodafone.fm onde nos esperam os portugueses Sensible Soccers, e ficamos ainda mais mesmerizados do que em 2014 (precisamente aqui neste festival). Voltamos ao palco principal sem oportunidade de ver o final do seu concerto.
No palco Vodafone, estava Patti Smith com toda a sua imponência humilde e vestes sóbrias. Começamos bem (muito bem) com a famosa People Have The Power. Não consigo descrever o que esta senhora representa para mim. Tenho-lhe um respeito enorme, que apenas se intensificou mais ainda ontem. É uma artista de peso que influenciou diversas gerações, sendo um imenso prazer poder dizer que risquei Patti da bucket list de concertos.
Tem 72 anos e uma vitalidade que a maioria de nós não tem. Pelo meio da atuação vai sempre gritando palavras de ordem e dando conselhos contra o sistema político mundial que temos. Patti Smith incorpora todo o espírito essencial do rock‘n’roll de raging against the machine. Pelo meio, ainda nos delicia com covers de Are You Experienced? (The Jimmy Hendrix Experience), Beds Are Burning (Midnight Oil) e um mashup entre I’m Free dos Rolling Stones e Walk On The Wild Side de Lou Reed. No final deste medley grita:
We are fucking free! We will change the future!
Quanto a mudarmos o futuro tenho algumas reservas, mas certamente Patti mudou a nossa vida. Foi impossível ficar-lhe indiferente e a energia do público esteve exemplar.
Claramente em lágrimas, canta After the Gold Rush de Neil Young. Eis que as lanternas distribuídas pelo patrocinador oficial se erguem bem ao alto, e todos permanecemos em silêncio, observando história a ser feita nas margens do rio Coura, uma vez mais. Mas era certo que o original Because The Night e a cover dos Them, Gloria, levariam o cunho das mais celebradas e cantadas da noite. É seguro afirmar: deu-se mais um concerto memorável na história do Vodafone Paredes de Coura.
No final, ainda tentamos entrar no mood de Kamaal Williams, cujo jazz eletrónico foi exímio no palco secundário. Já com Freddie Gibbs & Malib não foi amor à primeira vez. A introdução do hip hop em Paredes de Coura não tem sido vista com bons olhos. Mas da régie para a frente não faltaram fãs fervorosos. Pelo menos não voaram sapatilhas e outros itens para cima do palco como no ano anterior com Skepta. Para os próximos anos podem sempre apostar novamente nos Run The Jewels em Portugal, é certo que será um género de hip hop muito melhor recebido por terras minhotas.
Igualmente bem recebidos foram os Suede. Mas temos de ser muito sinceros, a maioria de nós continuou completamente vislumbrado por Patti Smith. Mesmo assim, foi possível apreciar a banda britânica, autora de She’s In Fashion. O frontman Brett Anderson mostrou-se muito carismático e com vontade de atuar no festival que o recebeu há precisamente 20 anos.
Em 2020 temos encontro marcado, de 19 a 22 de Agosto, no cenário idílico e ecléctico da Praia Fluvial do Taboão?
Pequeno reparo : “Gloria” é um original de Van Morrison e não da Patti Smith.
Bom trabalho para vocês
Olá Wiki guy, o “Gloria” é um original dos Them. Já corrigimos o artigo. Obrigado.
Primeiro, “I’m Free” é dos Soup Dragons, e não dos Stones. A Patti quando disse Rolling Stones, talvez, mencionou o nome pelo facto que, efectivamente, a banda tem evocado na sua musica o espírito da liberdade…ou ela enganou-se. Depois, aquele hip hop que segue à mensagem de amor, paz e uniao da Patti, saiu muito mal no line up. Não sou fan do estilo hip hop, mas reconheço que há bandas de qualidade…esta não era, mesmo. Quem incita a violência não merece estar num palco.
Olá Flor, o “I’m Free” é efectivamente dos Rolling Stones. Os Soup Dragons fizeram uma cover dessa música. Mais info: https://en.wikipedia.org/wiki/The_Soup_Dragons
Quanto ao resto, não nos pronunciamos, é a opinião de cada um 🙂