15 Ago 2018 a 18 Ago 2018

Do regresso dos DIIV, à recordação dos Slowdive até ao hip hop de Skepta – o 3.°dia de Paredes de Coura

Do regresso dos DIIV, à recordação dos Slowdive até ao hip hop de Skepta - o 3.°dia  de Paredes de Coura

A grande aposta de ontem, foi Skepta, o rapper britânico que afirma que o grime não esteve adormecido, mas sim, mais underground. O público e a música foram os mais diversificados até agora na edição deste ano do festival minhoto. Destaques para DIIV, Slowdive, Skepta e a desilusão com Pussy Riot.

Neste terceiro dia, a enchente de pessoas a que já nos habituamos, foi-se compondo para Kevin Morby. O texano (que já aqui atuou em 2016) deu uma vez mais, aquele típico concerto contemplativo de indie folk, que sabe tão bem ouvir sentado enquanto o sol se põe. Apesar de ter escrito na sua conta de Instagram que usaria a camisola do Futebol Clube do Porto, optou por não o fazer, dizendo que gosta de Portugal por inteiro, para desgosto de alguns fãs, que neste dia apareceram envergando com orgulho a camisola do clube portuense mais consagrado.

Voltemos ao que realmente interessa, a música. Ao anoitecer os nova-iorquinos DIIV estrearam-se no principal palco courense. Na primeira canção uma corda da guitarra de Zachary Cole Smith partiu-se. Passaram-se uns 5 minutos para consertar o problema, entre os quais, o vocalista e guitarrista se marcou num momento cómico:

Hey Siri, Google how to change a guitar string

Tais palavras puxaram imediatamente por risos na audiência. De Oshin, o primeiro álbum lançado em 2012, Doused (a canção que todos aqueles que ouvem religiosamente a rádio Vodafone.fm conhecem tão bem) foi a mais cantada. Apoiados com um ecrã onde foram passados vídeos alusivos a vários aspectos de pop culture (entre os quais imagens de Beavies and Buthead e até Nirvana). Poderíamos dar nota negativa ao aspecto envelhecido do vocalista face ao antes e depois do seu período do abuso de substâncias. Tendo em conta que o mesmo outrora admitiu a dificuldade em manter-se sóbrio, através da sua música. Mas não foi isso que pôs em causa a performance da banda.

Desde início abismado com a quantidade de gente no festival, Zachary terminou, novamente em tom de brincadeira e trocadilho:

Make dive (DIIV) cool again

Já no palco secundário os …And You Will Know Us By The Trail Of Dead deram um concerto de puro rock post-hardcore. Mais uns texanos que já conhecem bem estas bandas, visto que aqui atuaram há 7 anos. Estive por cá em 2011 e comprovei novamente que a banda que já tem mais de 20 anos de experiência, continua em forma. Terminaram com acordes tão loud e agressivos que até conseguiram abafar os primeiros segundos de Slowdive, que iniciavam a sua performance no palco principal.

Com os britânicos Slowdive tal como o nome nos indica, fizemos um mergulho lento pelo mundo indie rock do shoegaze. Mas o som de cada instrumento (ao contrário de outras bandas do mesmo género musical) foi perfeitamente perceptível, tal como aconteceu na edição de 2015. O palco do Vodafone Paredes de Coura é o palco português com o som mais limpo de todos. Já me deu bastantes momentos com bandas assim intimistas para recordar (Slowdive será um desses). Obviamente que o espaço sendo um anfiteatro natural também ajuda imenso, vale-lhe muito bem o cunho de ‘habitat de música natural.

Skepta com público bipolar: fãs mal comportados, mas entusiasmados

Pelo início de madrugada, entrou o cabeça de cartaz Skepta, conterrâneo dos Slowdive. Mas apenas o país e a língua unem este artista aos seus conterrâneos. Que diferença de géneros absolutamente abismal! O mestre que transportou novamente o grime para a ribalta teve um início de concerto conturbado. O público arremessou diversos objetos para o palco, entre eles lanternas, pilhas e até uma t-shirt. Se isto é uma maneira de demonstrar amor pelo artista, é uma maneira muito estranha. Skepta pediu ao público que parasse com a atitude senão teria que abandonar o palco. Quando o concerto não ía sequer a meio, fartou-se e cumpriu a promessa. A produção do festival teve de intervir e o rapper regressou, continuando o concerto sem mais incidentes. Não me pareceu um momento à Nickleback no Ermal, uma vez que, Skepta tinha imensos fãs na plateia, principalmente desde a cabine de som até à frontline que sabiam de cor músicas como Man, Shutdown e Konnichiwa.

Talvez seja a imaturidade de ditos fãs a causa principal, o que apoia algo que muitos de nós já suspeitávamos: este artista não é um artista para Coura.

Estamos habituados a que se peçam baquetas e palhetas aos artistas do Vodafone Paredes de Coura, mas o público de Skepta quer apenas “algo”.

Sei que os tempos mudam e temos de nos adaptar (Paredes outrora já recebeu artistas como Sam The Kid e Dealema) mas a desconexão de géneros entre os artistas principais neste terceiro dia, deixou-me muito confusa.

Pussy Riot, com um pouco de desencanto à mistura

Iniciaram o show dando-nos mais de 20 pontos do seu manifesto com exigências e desejos que têm para o seu país e para o Mundo, abordando temas como feminismo, homofobia e até pobreza. Mas a falta de composição musical deixou-me um pouco desiludida, a banda que outrora se dedicou ao punk rock apoia-se agora numa vertente de electro pop bastante desconectada e que ao vivo tem muito pouco impacto. Contudo, não deixou de ser um concerto político bem assente na necessidade de mudança. A entrega da mensagem foi recebida com temas como Make America Great Again, Police State e Unicorn Freedom (ЕДИНОРОГ).

Falta mais um dia de festival e hoje os grandes cabeça de cartaz são os Arcade Fire!

Vê a programação completa em musicfest.pt/festivaledicao/vodafone-paredes-coura-2018/ e usa o teu telemóvel para marcar com uma ⭐️ os concertos que não queres perder!

Ana Duarte  

Consultora Musical na Fonograna e fundadora da webzine CONTRABANDA. Estudou Music Business na Arda Academy e Línguas, Literaturas e Culturas na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Tinha uns pais melómanos que a introduziram a concertos/festivais, ainda tinha ela dentes de leite. 3 décadas depois, aproveita para escrever umas coisas no ponto de vista de espetador melómano (quando a vida de consultora musical lhe permite).


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