15 Ago 2018 a 18 Ago 2018

Último dia com balanço saudosista em Paredes de Coura – o dia que esgotou!

Último dia com balanço saudosista em Paredes de Coura - o dia que esgotou!

As despedidas são sempre difíceis, por isso todos aproveitaram ao máximo a tarde de banhos no rio Coura com Mr. Gallini e Penicos de Prata. Até para o ano água gelada, vizinhos do campismo de norte a sul (e além fronteiras) e adeus anfiteatro natural da música.

As datas da edição 2019 do Vodafone Paredes de Coura estão anunciadas: 14 a 17 Agosto, com 3 dias de antecipação de Sobe À Vila. Neste meu décimo ano de presença no festival, confirmo que muito mudou. Só quem faz campismo e se envolve a 100% no espírito do mesmo, percebe o quanto. E quem já o frequenta há mais tempo terá ainda uma opinião mais saudosista do que a minha.

A quantidade de hipsters, pseudo hipsters e verdadeiros rock ‘n’ rollers é cada vez menor. Pessoalmente, culpo um certo patrocínio, num certo e determinado ano que não teve respeito algum pelo festival. Mas com a Vodafone o mesmo já não acontece, a operadora tem plena noção que Paredes não é só música, é muito mais do que isso. Mesmo assim, parece que está difícil voltar a recuperar um público mais eclético e apreciador da natureza e de letras com conteúdo. Não viemos aqui para ouvir 2 ou 3 concertos à noite e ir embora, viemos por tudo o que o festival envolve. Pelas tardes passadas na praia fluvial do Taboão, pela a vila em si e por tantos outros aspectos que vão para além da música.

Tal como João Carvalho nos referiu no habitual almoço de despedida com os jornalistas, fazer um festival no meio da natureza, não é o mesmo que nas grandes cidades. A logística é muito maior, e as bandas que aqui atuaram não o fizeram pela conveniência de no dia anterior estarem em Espanha. Além disso, tem-se tornado difícil trazer bandas que não tenham vindo a Portugal antes.

Quem criticou a opção de trazer The Blaze e Jungle está claramente preso ao passado. Eu sei, também já passei por isso, cheguei a vir cá de propósito para ver apenas Sex Pistols. Mas depois com o passar dos anos, adaptei-me. Com a reintrodução do hip hop em Paredes de Coura, a adaptação já não foi de todo a mesma. Considero que o género merece ser apreciado, mas noutro tipo de festival. Chamou um tipo de público muito jovem que não se soube comportar durante o concerto (nem no campismo). Mas João Carvalho garantiu que o Vodafone Paredes de Coura jamais será um festival de hip hop, a organização quis apenas experimentar, tendo em conta o actual mercado musical.

17 de Agosto de 2018 foi mais um dia para ficar gravado na memória do festival

A tarde começou muito bem com Myles Sanko. Estar sentado (ou de pé) a apreciar uma voz tão soul e poderosa, é simplesmente divinal. Já tinha feito uma mini tour no início do ano pelo nosso país, mas em Coura teve o palco absolutamente perfeito para deliciar o público com temas do seu 3º álbum, Just Being Me. Conseguiu o que nenhum artista que iniciou as performances às 18:30 no palco Vodafone conseguiu: palmas do público da frente, das laterais e do público que relaxava sentadinho bem atrás no recinto (mesmo, mesmo até cá trás). Em Março até estivemos à conversa com ele em Vigo.

Seguiu-se-lhe Curtis Harding, também uma voz soul com influências de blues, gospel, R&B e rock. O artista do êxito Need Your Love esteve igualmente bem, com uma plateia muito atenta à sua performance. Plateia essa que não o abandonou, nem quando começou a atuação de Silva no palco secundário. Por sua vez, o artista brasileiro viu a plateia compor-se no fim de Harding. De típico sorriso brasileiro, deu um concerto fleumático muito próprio do seu carácter multi-instrumentista.

Os Big Thief, encabeçados por Adrianne Lenke, apresentaram o seu segundo álbum de originais intitulado Capacity. A vocalista e guitarrista ficou mesmo emocionada com a quantidade de gente a assistir, confessando que nunca tinha atuado para tanta gente. São mais uma banda de indie rock “calminho”, ainda em início de carreira, não sabendo envolver completamente a multidão de Coura. Vamos dar-lhes tempo para amadurecer…

Dead Combo, o fruto que envelhece como o vinho do Porto

Se há algo que já está madura e sabe envolver a multidão é a atitude dos portugueses Dead Combo. O concerto com Mark Laegan (que se juntou aos portugueses em três temas) foi o triunfo total, especialmente com a conjugação do poema I Know, I Alone do nosso Fernando Pessoa.

Se os Arcade Fire encheram Coura, os Dead Combo calaram-na! Esse Olhar Que Era Só Teu calou completamente a multidão, que no fim do concerto teve direito a encore com um grande sucesso da banda, Lisboa Mulata.

A banda de Pedro Gonçalves e Tó Trips já não é desconhecida destes palcos, mas este foi “O” concerto de Dead Combo em Paredes de Coura. Mais uns portugueses a mostrarem e a provarem o que valem nesta 26a edição do festival. Estão completamente de parabéns! Que momento memorável!

Arcade Fire, novamente em Paredes de Coura

A banda que já cá esteve em 2005 voltou a fazer das suas e conseguiu pelo menos dois ou três momentos que ficarão bem gravados na memória de Coura. Podia começar como costume de onde são, quais os álbuns, etc… Mas esta banda já fez correr tanta tinta em Portugal, que dispensa de qualquer tipo de apresentação.

Apareceram no palco vestidos de space cowboys (o grandioso Bowie deve ter dado voltas no túmulo de contentamento), começaram com Everything Now e de seguida o vocalista mostrou o seu agrado por estar de volta. Confessou-nos que, quando cá veio pela primeira vez não conhecia bem a Europa, mas falaram-lhe muito bem de nós. Quando se estreou em Paredes de Coura é que reparou:

So that’s what they were talking about? Oh shit, you guys are amazing!

Foi um concerto que passou um pouco por toda a história dos canadianos. Não falharam temas como The Suburbs, Ready To StartRebbellion e até um throwback a 2001 com a música que nunca foi editada em estúdio, Cars and Telephones. Pelo meio, antes da Intervention, Win Butler até a dedicou a Donald Trump (bem necessário).

Percebemos agora porque deixaram o fim de semana todo reservado para o Vodafone Paredes de Coura. A logística de trazer cá esta banda é monumental. Não são só meia dúzia de instrumentos, luzes e um ecrã em palco, é um turbilhão de materiais. Incluindo a bola de espelhos gigante que embelezou ainda mais o recinto do Taboão.

A subida da cintilante Régine Chassagne num micro palco junto à regie em Reflektor foi um momento marcante. Assim como no início do encore quando todas as lâmpadas (distribuídas pelo naming sponsor ao longo do festival) se ligaram em simultâneo ao som de alguns acordes de Everything Now. A banda terminou, como habitual e epicamente, com Wake Up, na qual até os espectadores mais tímidos cantaram, ou trautearam, efusivamente.

Com muita pena nossa este ano, e por constrangimentos pessoais, não nos foi possível ir a nenhuma Vodafone Music Session, como fizemos em 2016. O objetivo é conhecer sítios de Paredes de Coura e incorporá-los com música, o que acaba muitas vezes por ser a simbiose perfeita entre espaço e sonoridade. Ainda me recordo da minha primeira experiência em 2013 quando fui abordada na margem do rio com a pergunta – “queres ir a um concerto secreto num local secreto?” – à qual reticente respondi “humm quando lá chegar vão-me tirar um rim vender no mercado negro, não vão?”. Mas não, não tiraram. Na Igreja Ecce Hono esperavam-nos os CITIZENS! e nunca mais me esqueci deles e desse momento.

Para o ano há mais. Encontramo-nos de 14 a 17 de Agosto no sítio do costume. Foi um prazer, Vodafone Paredes de Coura: não percas a magia nunca!

Ana Duarte  

Consultora Musical na Fonograna e fundadora da webzine CONTRABANDA. Estudou Music Business na Arda Academy e Línguas, Literaturas e Culturas na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Tinha uns pais melómanos que a introduziram a concertos/festivais, ainda tinha ela dentes de leite. 3 décadas depois, aproveita para escrever umas coisas no ponto de vista de espetador melómano (quando a vida de consultora musical lhe permite).


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2 Comentários

  1. Marta Jobling diz:

    Os Arcade Fire não tocaram Neon Bible e a música Cars and Telephones foi gravada em estúdio, porém, nunca foi editada.

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