O último voo do cisne – a despedida dos Swans à capital
Depois do concerto no NOS Primavera Sound, no Porto, os Swans regressaram a Portugal para mais dois concertos. Estivemos no do Lisboa ao Vivo, na capital, no passado dia 9 de Outubro.
Anunciava-se o fim, e desde então que as expectativas dos fãs portugueses só aumentavam com o aproximar da data que trazia a tour de despedida dos Swans a território nacional. Duas datas, uma em Lisboa e outra no Porto, prometiam matar as saudades de alguns sortudos que conseguiram marcar presença no concerto destes gigantes da música experimental na sua passagem pelo festival NOS Primavera Sound em Junho deste ano.
Depois de uma noite mágica no Porto, ficou nas mãos dos lisboetas fazer uma despedida à altura a Michael Gira e restantes membros da banda e nós marcámos presença no Lisboa Ao Vivo, na passada segunda-feira, dia 9 de Outubro.
Cedo se viu a multi-instrumentalista e performer Baby Dee subir a palco a par da sua excentricidade, atitude determinada e sonoridade única. Fez-se acompanhar por um acordeão e ainda uma guitarra acústica, deixada a cargo de um rapaz que tão bem se imiscuiu no estilo e mensagem daquela curta, mas intensa performance. De salientar o ambiente descontraído e a voz tão característica de Baby Dee, bem como as suas frequentes interacções com o público, pejadas de histórias de vida e algum humor negro. Mesmo tendo Swans como principal foco naquela noite, Baby Dee foi certamente uma agradável surpresa para todos os presentes.
Pouco tempo houve de intervalo, até que se começassem a sentir as primeiras movimentações dos americanos em palco. Chegava o momento mais esperado e num misto de sentimentos lá vemos entrar Norman Westberg, Paul Wallfisch, Phil Puleo, Christopher Pravdica, Christoph Hahn e, claro, Michael Gira. A sala já cheia reagia e aplaudia a banda, mesmo antes de ouvir qualquer acorde. Gira levanta os braços em tom de agradecimento e ao mesmo tempo gesticula e pede que se mantenha a calma, como quem nos reconforta e prepara a alma para algo maior, ao mesmo tempo que diz que o melhor ainda está para vir. E estava.
Poucas bandas têm o condão de nos guiar até aos recantos mais bonitos e sombrios da nossa mente em simultâneo e os Swans conseguem fazê-lo de uma maneira exímia. Mesmo com algumas dificuldades ao nível de luz e de som, que foram sofrendo ligeiros ajustes durante a actuação, a banda conseguiu apresentar-nos um conjunto de temas coesos, muito baseado nos seus mais recentes trabalhos. Embora o rock experimental se tenha tornado a imagem de marca desta banda, nunca será possível atribuir-lhes um qualquer rótulo de forma pacífica. Nas paisagens sonoras que constroem não faltam as influências folk e jazz, e até um tom mais ritualista e transcendental, trazido pelas entoações de Michael Gira.
A actuação fez-se em crescendo, tanto para a banda como para o público que, no início esteve tímido, mas no final já se podia ver de olhos fechados e movimento corporal coordenado com a monstruosidade sónica criada pela união de seis brilhantes instrumentistas. Qual maestro, Gira manteve os braços no ar para guiar a banda, os presentes e o som, para que a viagem se fizesse no sentido pretendido.
Não faltaram temas como Screen Shot ou Cloud of Unknowing, mas mais do que isso vivemos dentro daquela sala duas horas de caos organizado, onde a música se transformou em algo maior. No final o público desfez-se em aplausos e a banda em agradecimentos, num adeus emocional, mas sobretudo esperançoso… de que este fim seja apenas outra pausa.
Edição de Daniela Azevedo