Perdoem-nos os restantes, mas a noite foi de Kiwanuka – Dia 1 de Super Bock em Stock
Os cantos e recantos da Avenida da Liberdade voltaram a ganhar vida e o Super Bock em Stock lá se encaixou no intervalo de tempo ideal entre as chuvas de Novembro. Desta vez não saímos da Avenida molhados, só com os corações mais aconchegados.
A premissa era semelhante à de anos anteriores. Dez palcos distribuídos pela Av. da Liberdade prepararam-se para receber, entre os dias 22 e 23 de Novembro, mais uma edição do Super Bock em Stock. Feito o estudo de horários, bebida a ginjinha e calculadas as distâncias entre salas, estava dado o início das festividades.
Sinkane, o londrino nascido como Ahmed Gallab, foi o primeiro artista a pisar o palco do Coliseu dos Recreios naquele que foi o primeiro dia do festival. Para a a sua terceira passagem por Portugal, o músico veio munido com o seu recém-lançado álbum Dépaysé mas não deixou de fora temas como U’Huh ou How We Be, mais conhecidas do público presente. Ingrata talvez tenha sido só a hora do concerto. Entre jantares, reencontros e conversas, foram poucas as pessoas que se dedicaram de corpo e alma à hora de groove e psicadelismo do londrino e da sua banda.
Terminado o concerto de Sinkane o coliseu foi enchendo até à sua lotação máxima para receber o também londrino Michael Kiwanuka.
Ver Kiwanuka em palco é quase como uma viagem no tempo, sentimo-nos na presença de uma alma antiga. Sem qualquer interesse nos holofotes do mediatismo Kiwanuka está ali puramente pela música, e é exatamente por isso que ali estamos também. Não é todos os dias que temos oportunidade de ouvir uma voz soul como aquela com que foi agraciado. Ainda que Kiwanuka tenha ficado associado à popularização de alguns dos seus temas, nomeadamente Cold Little Heart e Home Again, conduziu o concerto de forma exímia e mostrou porque não nos devemos prender a esses dois temas. Do recém-lançado álbum Kiwanuka trouxe apenas Hero e You Ain’t The Problem tendo dado primazia ao álbum Love & Hate de onde saíram o single homónimo e a poderosa Black Man In a White World.
Kiwanuka não é de grandes discursos, nem sentimos falta deles. O básico e essencial foi falado mas Kiwanuka comunica-nos com a sua música e é precisamente na sua música que ficámos envolvidos durante a sua hora de concerto. Esperamos ter a oportunidade de o ver fora do circuito de festival, numa sala igualmente intimista como ele o merece.
A perseguição de vozes poderosas levou-nos até ao teatro Tivoli, sala que recebeu o músico de Conventry, de origem congolesa, Jordan Mackampa. O músico tem vindo a lançar EPs regularmente desde 2016 de onde nos chegaram temas como Yours To Keep, Walk on the Wild Side, ou o recente Parachutes. Mackampa apresentou-se em palco sozinho, gerindo à sua maneira o seu one man show e em menos de nada o Tivoli estava cheio para o receber.
Talvez por estar sozinho em palco se tenha sentido motivado a dialogar ocasionalmente com o público contando histórias sobre a sua carreira, e sobre a infância e como foi forçado a abandonar o Congo com a sua família em pleno conflito militar. Não se perdeu, contudo, nas palavras. Mackampa foi capaz de nos dar um concerto simples, intimista, sentimental e que numa hora tanto nos fez sorrir como sentir a lágrima a espreitar no canto do olho.
O corre-corre pela Avenida foi eventualmente acalmando e noite de 22 de Novembro terminou no Coliseu dos Recreios com o DJ set dos ingleses Friendly Fires.