O fabuloso infinito de Yann Tiersen – Reportagem no concerto do CCB

O fabuloso infinito de Yann Tiersen - Reportagem no concerto do CCB

Conhecido por compor a banda sonora do filme Le fabuleux destin d’Amélie, desta vez Yann Tiersen deixou a jovem Poulain em casa para dar a conhecer ao público a sua nova mistura de estilos e tendências no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém. A sua estreia discográfica começou em 1995 com a colectânea La Valse des Monstres, e depois de várias actuações em Portugal, regressou a Lisboa com um novo trabalho de originais, Infinity, editado no dia 19 de Maio.

Com um claro dom para fazer despertar os sentimentos da sua plateia, o multi-instrumentista francês compõe em piano, acordeão e violino, aproximando-se em algumas das suas composições do rock. A sua música assemelha-se à de Erik Satie e do minimalismo de Steve Reich, Philip Glass e Michael Nyman, mas desengane-se quem esperava ouvir a banda sonora de Amélie. O público estava expectante e não sabia muito bem para o que ia. As luzes apagam-se, começa a música «Meteorites» e entra Tiersen acompanhado por quatro músicos e uma cantora. Esqueça-se a ideia de uma concerto de música clássica para se assistir a um recital de um compositor experimental que combina o rock com batidas electrónicas, violinos e percussão para proporcionar um produto único que não é adequado para todos os gostos.

Yann Tiersen não gosta do conceito de inspiração, não acredita nela e acha-a uma estúpida ideia romântica. Ao fim da segunda música interpela o público e acha-o aborrecido, parado e pouco entusiasmado. Mas o músico da bretanha francesa acredita no trabalho e gosta de brincar com os sons, por isso volta à experimentação de «A Midsummer Evening» em busca dos limites do próprio instrumento. Apesar de assegurar que nunca tem tudo sob controle, Tiersen sabe o que faz. Já no encore, a tocar a solo, rebenta com as cerdas do arco, mas não pára. Ele e os seus companheiros de tour, movem-se no espaço como uma máquina bem oleada, e criam diante dos instrumentos de metal, cordas, sopro, percussão, sintetizadores e teclados para os fazer soar de uma forma precisa, definida, proporcionando melodias evocativas.

Pouco atento ao público, a quem graceja ligeiros «Obrigado», Tiersen abstrai-se diante dos instrumentos. Não os toca, sente-os, e raramente abre os olhos quando está imerso na melodia. Às primeiras notas do piano de sopro, a plateia entusiasma-se como se esperasse músicas de composições passadas, mas Yann está ali para apresentar novos trabalhos e mostra como o seu novo disco é uma mistura bem forjada de tendências e culturas, ritmos e classes sociais, que vai muito além da «chanson française». A música de Yann Tiersen está cheia de referências naturais que fazem o público sentir-se em contacto com os elementos, mas essa sensação dissipa-se quando interpreta temas com um sabor mais francês, causando uma exibição de telemóveis de forma a imortalizar o autor da trilha sonora Good Bye Lenin!.

Num cenário nu e despido, com meros apontamentos de lâmpadas frias, o concerto de um dos compositores mais admirados foi uma autêntica viagem sem sair do lugar. O segredo é que o espectador perceba a liberdade criativa do artista, como se em cima do palco decorresse uma contínua jam session, na qual a música se separa da linearidade de uma partitura, para fazer viajar o espírito sem um rumo fixo, mas com um destino bem definido. O público gostou. O público adorou. Tantas foram as palmas e os assobios que, depois de um bloco de canções amarradas por meio de distorções e sintetizadores, Yann Tiersen regressa para um encore a solo, primeiro ao piano, depois com o violino, viajando ao passado tão desejado e termina, então, com a banda completa ao cantar «Till The End», do álbum Dust Lane.

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Mafalda Saraiva  

Eu sei lá resumir-me numa frase. Mas escrevo muitas no meu blog.


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