Uma carta de amor ao interior – o último dia de Bons Sons
O último dia em Cem Soldos foi mais uma vez fiel ao ecletismo que todos os anos preenche o cartaz do Bons Sons. Do novo mundo de Pedro Mafama à tradição de Sopa de Pedra + Joana Gama, da Nova Lisboa de Dino D’Santiago ao rock and roll de Tape Junk, mais uma vez, quem saiu vitorioso foi a música portuguesa.
Começámos o dia no palco Giacometti com o hip hop que vai para lá da caixa de Pedro Mafama. A carregar no auto tune e em beats a que ninguém fica indiferente, Mafama rapidamente fez amizade com a aldeia, que retribuiu com alguns coros em Jazigo ou Lacrau.
De regresso a Cem Soldos pela terceira vez, as Sopa de Pedra já nos habituaram a concertos mágicos sempre que por cá passam. Desta vez, trouxeram Joana Gama consigo para um espectáculo totalmente novo em que reinterpretaram temas do repertório de Fernando Lopes-Graça. O palco Zeca Afonso acabou por ser o cenário perfeito para este concerto: rodeado de oliveiras (uma delas entra palco adentro), onde o fundo é a paisagem natural que rodeia a aldeia.
Já depois do jantar, pelo palco Lopes-Graça ecoaram melodias a cavaquinho e bandolim. Só poderia ser Júlio Pereira, que se estreou no Bons Sons com uma praça repleta a dançar e cantarolar os temas que trouxe, muitos dele, mas alguns adaptados de canções de Zeca Afonso, por exemplo.
A noite começou a aquecer verdadeiramente quando os Tape Junk subiram ao palco António Variações. Com uma banda de luxo, João Correia apresentou o último Couch Pop perante uma plateia interessada. De riffs e refrães fortes se faz o rock and roll sem espinhas de Tape Junk, que certamente ganhou fãs em Cem Soldos.
Quem já não precisa de ganhar fãs (porque o somos todos) é Dino D’Santiago. A sua Nova Lisboa ecoou pelo palco Lopes-Graça e embalou uma plateia repleta em danças românticas, rodas em grupo, e muita animação. Como sempre, Dino desceu ao público para obrigada toda a gente a saltar sem parar e, assim, confirmar que o seu concerto seria um dos pontos altos deste festival.
Antes de fechar, a última dupla comemorativa juntou-se no palco António Variações para uma viagem única. Sensible Soccers e Tiago Sami Pereira misturaram a electrónica ambiental com um toque de psicadelismo dos primeiros à percussão tradicional (o bombo, neste caso) do segundo. Uma mistura cuidada e meticulosa, caótica apenas quando necessário.
O encerramento ficou a cargo de Moullinex e a sua banda. Ao disco house habitual que é Hypersex Live, Luís Clara Gomes juntou acordeão, cavaquinho e flauta e criou uma secção do espectáculo especial onde recriou temas tradicionais da zona de Viseu, de onde é natural. Uma carta de amor ao interior, uma prova de como é possível juntar modernidade com tradição, o concerto de Moullinex foi a forma perfeita de fechar esta décima edição de Bons Sons.
À noite prolongou-se com um DJ Set de Moullinex.