Tanto por tão pouco – Spoon no Coliseu dos Recreios de Lisboa

Tanto por tão pouco - Spoon no Coliseu dos Recreios de Lisboa

A banda texana regressou a Lisboa depois do concerto no NOS Alive deste ano para apresentar o mais recente disco, Hot Thoughts, no Coliseu, no passado dia 17 de Novembro. A primeira parte esteve a cargo dos britânicos Husky Loops.

É sempre frustrante ver uma banda tão coesa e quase irrepreensível em palco ser recebida com tamanha apatia pelo público. Os experientes Spoon mereciam melhor despedida da sua tour europeia, mas a noite no Coliseu raramente passou do morno.

Vimo-los este verão no palco Heineken do NOS Alive e estranhámos a falta de temas do último disco no alinhamento, pois no regresso à capital os Spoon apostaram forte em Hot Thoughts e deixaram alguns golden oldies para trás.

 

Britt Daniel (voz e guitarra) e companhia pareciam adivinhar a difícil tarefa de convencer a plateia, questionando Do I Have To Talk You Into It. O tema é exemplo do mais dançável e arrebitado último trabalho dos texanos, Hot Thoughts. Lançado no final do ano passado, o disco é o mote para este concerto na sala nobre lisboeta, cidade onde o grupo não tocava em nome próprio desde 2008. Mas o tempo de espera pelo retorno dos Spoon não parece ter aguçado o interesse do público. A sala meio vazia reagiu sem grande entusiasmo aos fortes Inside Out, I Turn My Camera On ou Rainy Taxi e nem o clássico Don’t You Evah animou os presentes. Lá chegou Do You, êxito do penúltimo trabalho, e lá se ouviram então as vozes da plateia.

A entrega em palco, no entanto, não se deixou afectar pela falta de entrega do outro lado da barricada. Britt Daniel, apesar de pouco falador, esteve sorridente – passeou-se pelo palco, ergueu a guitarra como quem levanta um copo em saudação, brincou com os colegas de banda – e o grupo apresentou-se de forma exemplar, sem acusar o cansaço expectável depois de uma intensa tour pela Europa. Alex Fischel (teclas, guitarra e voz) oferece horizontes mais experimentais à banda – da qual faz parte desde 2013 -, o reforço para a formação ao vivo, Gerardo Larios (teclas e guitarra), permite mais liberdade a Britt em palco e a secção rítmica de Rob Pope (baixo) e Jim Eno (bateria) garante aos texanos o groove que lhes é tão essencial. Ouvimos sintetizadores sonhadores no interlúdio Via Kannela (garantido por um Alex Fischel que parece ele mesmo viajar sem sair do lugar), que vem introduzir uma das canções mais bem recebidas da noite: I Ain’t The One. Logo depois viajamos no tempo até Girls Can Tell para uma magnífica Everything Hits At Once. Foi o tema mais antigo que ouvimos toda a noite uma vez que, infelizmente, Telephono e A Series Of Sneaks não tiverem representantes no alinhamento.

Para a recta final, iniciada com Can I Sit Next To You – mais um tema altamente dançável do último disco -, ficaram reservados alguns clássicos como Don’t Make Me a Target, Got Nuffin e Black Like Me – belíssimo momento estragado lamentavelmente por problemas técnicos com o microfone de Britt Daniel. E houve também espaço para espantosos momentos como o final magistral de My Mathematical Mind (sempre bom lembrar que está aqui uma bela de banda de rock, sim senhor) e uma reacção bem calorosa (finalmente!) ao hit The Underdog.

WhisperI’lllistentohearit é uma preciosa viagem em forma de canção e foi muito bem recebida no regresso da banda ao palco, para o encore. Logo depois, Pink Up, também ela do mais recente trabalho da banda de Austin, regressa às teclas de Fischel e Larios e cria toda uma nova atmosfera. Não pensámos que fosse possível reproduzi-la ao vivo – estávamos enganados. O final foi em festa – no palco e na plateia – com Hot Thoughts e Rent I Pay a entusiasmarem os lisboetas e a aquecer os ânimos. Foi pena o calor do público ter chegado tão tarde: os Spoon deram muito mais do que receberam.

A abertura do concerto foi garantida por uns surpreendentes Husky Loops. Os britânicos (de raízes italianas) não têm um som fácil de descrever, mas podemos dizer que há potentes riffs à guitarra, samples arrojados e ritmos fora do comum. A julgar pela quantidade de discos debaixo dos braços de membros do público à saída da sala no final da noite, diríamos que a banda saiu de Lisboa com novos apoiantes.

 

Edição: Daniela Azevedo

 

Teresa Colaço  

Tem pouco mais de metro e meio e especial queda para a nova música portuguesa. Não gostava de cogumelos mas agora até os tolera. Continua sem gostar de feijão verde.


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