Samuel Úria em ponto pequeno é ainda maior
O músico tondelense apresentou esta semana o seu último EP, Marcha Atroz, com cinco datas no Auditório Carlos Paredes, em Benfica. A ante-estreia do espectáculo foi assim.
Não é a primeira vez que Samuel Úria se apresenta em palco apenas acompanhado por Miguel Ferreira (Clã), fiel companheiro de estúdio e palco dos últimos anos da carreira do tondelense, mas desta vez fá-lo em salas pequenas em vários pontos do país à boleia do último EP, Marcha Atroz. Sem a banda de suporte (bateria, baixo, teclas, guitarra e coro) que o costuma acompanhar, a música de Úria ganha outra dimensão, com melódica, omnichord, samples e teclas a dar-lhe espaço para novas viagens (tudo pela mão do seu colega de palco), mas não perde o essencial.
As canções apresentadas foram maioritariamente do último longa duração, Carga de Ombro (2016), com Dou-me Corda, Aeromoço e Graça Comum a abrir alas para a primeira visita ao mais recente EP, com Mãos. Ainda assim, houve espaço para algumas viagens à discografia mais distante com a polka de Essa Voz ou o cheiro a faroeste de Não Arrastes O Meu Caixão, sendo que Teimoso não perdeu um pingo da sua energia e Lenço Enxuto foi, como sempre, um dos pontos mais altos da noite. O tema que juntou Úria a Manel Cruz em 2013 já é um clássico a que ninguém consegue ficar indiferente, como Para Ninguém, e a nova Vem de Novo também deviam ser.
Num auditório pequeno, com cenário a preceito e a boa disposição a que lhe estamos habituados, Samuel Úria conseguiu manter a fragilidade e robustez da sua música intactas, dando espaço à voz do público (Carga de Ombro, É Preciso Que Eu Diminua) e sem poupar na energia (Repressão, Fusão). Um dos maiores músicos nacionais apresenta-se sem truques, e ainda assim não perde a magia.