6 Jul 2017 a 8 Jul 2017

Rock n’Roll, amor e festa no primeiro dia de NOS Alive’17

Rock n'Roll, amor e festa no primeiro dia de NOS Alive'17

A 11ª edição do NOS Alive arrancou ontem. Ryan Adams fez-nos acreditar no Rock n’Roll outra vez, The xx celebraram o amor, Royal Blood levaram fãs ao rubro e The Weeknd fechou com a festa que se pedia.

Coube aos You Can’t Win, Charlie Brown abrir as hostes do palco NOS. O sexteto lisboeta apresentou maioritariamente temas do mais recente Marrow e foi recebido por uma plateia bem receptiva. Apesar de os preferirmos em ambientes mais calmos, a banda provou estar apta a entreter grandes públicos até porque, afinal, não são estreantes nestas andanças (abriram o palco principal deste festival na edição de 2014). Above The Wall abriu caminho para um breve showcase do melhor que os You Can’t Win, Charlie Brown têm para oferecer, onde ainda ouvimos temas como After December, Over The Sun/Under The Water ou Pro Procastinator. Função de aquecer a plateia cumprida com rigor, até porque a mancha de público à votla do palco foi crescendo a bom ritmo, ao longo do concerto. “Não têm noção do prazer que é estar aqui a tocar para esta gente toda”, disse a certa altura Afonso Cabral. E o prazer dos vos ver fazê-lo? Nem imaginam.

Pela hora de jantar, ao chegar ao palco Heineken era fácil perceber que a maioria do público que esperava pelo concerto seguinte não é português. Arriscaríamos até em dizer que serão ingleses. A banda que estava prestes a entrar em palco chegava do Reino Unido com o estatuto de grande promessa, será que têm estofo para vir a ser mais do que isso? À hora marcada, subiram a palco os Blossoms. Os seis de Stockport, Manchester, (que por acaso até nasceram todos no mesmo hospital) trouxeram consigo a sua pop que é doce mas também é melancólica e até tem guitarras em riste. A combinação é interessante e resulta em canções orelhudas que os presentes foram acompanhando entusiasticamente – At Most a Kiss, Getaway, Blow e Honey Sweet são os momentos mais celebrados. E a julgar pelo espaço tão bem composto, a reacção à infalível Charlemagne e a bandeira portuguesa que Tom Ogden (vocalista) mostrou orgulhoso no final do concerto, diríamos que os Blossoms passaram no teste e saem de Lisboa com novos fãs.

Logo depois, tentámos visitar o palco EDP fado café, situado na rua EDP, para ver um dos concertos de Miguel Araújo, mas já não havia como chegar perto. O público ocupava a largura de toda a rua e por muito que nos esticássemos já não vimos nada lá para dentro. Nem ouvimos, que o som vindo do palco principal abafava tudo o resto.

Por esta altura, o público presente no Passeio Marítimo de Algés já era muito e foi-se naturalmente espalhando pelos restantes espaços do recinto. Ora na electrónica de Dotorado Pro no Coreto, no hip hop de Karlon no palco NOS Clubbing ou no indie pop dos franceses Phoenix, no palco NOS. Mas já havia um grande aglomerado de caras ansiosas para os lados do palco secundário. E não, não falo das filas para jantar, falo, claro está, do regresso de Ryan Adams ao nosso país.

Seis anos depois, o músico americano voltou finalmente a pisar um palco em solo luso. Trouxe tudo o que esperamos dele, e tudo o que esperamos dele é o Rock n’Roll honesto a que sempre nos habituou. Cabelo a tapar a cara, casaco de ganga coberto de remendos, guitarra Flying V: Do You Still Love Me?, do seu mais recente ábum, Prisioner, deu o mote. Apoiado por uma banda a quem não poderemos acusar de falta de entrega e um cenário repleto de amplificadores, velhas tv’s e animais de peluche, o pequeno rebelde de Jacksonville entregou-se de corpo e alma. “As pessoas ainda acreditam no Rock n’Roll”, rematou no final. Pois bem, deixe-me acrescentar que ainda acreditamos no Ryan Adams, também. Que bom é tê-lo de volta. *

E no amor, será que ainda acreditamos? A julgar pelo concerto dos The xx no Palco NOS, continuamos devotos. O trio londrino regressou ao NOS Alive e o NOS Alive mostrou-lhe o amor que sempre lhes deu. Palavras deles, atenção. Romy Madley Croft, Oliver Sim e Jamie Smith estiveram em perfeita sintonia com a imensa plateia que os recebeu, passaram por todos os álbuns e não se fartaram de agradecer o carinho. “Gostamos mesmo de Portugal e estávamos à espera deste concerto há muito tempo”, disse Romy, reforçando a mensagem semelhante que Sim tinha já deixado. Mas a verdade é que ninguém se cansou, o público recebeu cada tema em êxtase e os temas mais recentes de I See You receberam tratamento de clássico. Lá para o fim, Jamie Smith oferece Loud Places e On Hold leva dose extra de electrónica – estava criado o final apoteótico. Mas faltava uma. Faltava Romy dedicar Angels à sua noiva, que fazia anos. Faltava cantarmos todos o amor, e se cantamos é porque acreditamos, pois claro.

Por esta altura já o palco Heineken estava a abarrotar para receber os britânicos Royal Blood. O duo de Mike Kerr e Ben Thatcher era uma das bandas mais aguardadas da noite e não desapontou o seu público. De regresso a Portugal depois da passagem pelo Coliseu de Lisboa em 2015, banda em que muitos depositam a responsabilidade de manter o Rock n’Roll vivo e saudável apresentou o mais recente How Did We Get So Dark? perante uma plateia ao rubro.

Cinco minutos antes da hora marcada, Abel Makkonen Tesfaye, sobe ao palco NOS ao som de Starboy. O canadiano, mais conhecido por The Weeknd, trouxe os êxitos dos seus dois últimos discos e fez do público o que queria: ora a dançar, ora a saltar, ora a pôr as mãos no ar. É uma estrela pop à escala global e um artista de bases R&B sólidas, com uma voz que nunca lhe falha e letras sempre sobre o mesmo (a fama, as miúdas, as drogas, o dinheiro). A banda em palco (teclas, bateria e guitarra, elevados numa plataforma) ofereceu-lhe o pano de fundo musical de que necessita e as projecções e jogos de luzes ajudam The Weeknd, que faz o resto do show sozinho. Comanda a multidão e vai passando por todas as que se queriam ouvir. Wicked Games, Tell Your Friends e Die For You foram alguns dos temas mais celebrados, dos mais miúdos aos mais graúdos, vimos gente de todas as idades e proveniências a acompanhar as letras de The Weeknd. Para fechar, Can’t Feel My Face, I Feel it Coming e The Hills (com fogo no palco, literalmente) trouxeram a festa final que se pedia. *

Houve ainda tempo para os britânicos Glass Animals apresentarem o seu mais recente How to Be a Human Being, no palco Heineken. Não sendo um dos maiores nomes no cartaz do dia, havia ainda assim muita expectativa e o grupo foi recebido por muito público junto ao palco secundário.

O primeiro dia de NOS Alive’17 arrancou morno mas aqueceu bem para o final, com The xx, Royal Blood e The Weeknd. Hoje a música continua no Passeio Marítimo de Algés e nós, como sempre, lá estaremos a acompanhar.

 

Vai ser tão bom, não foi?

Esta é a nova rubrica do musicfest.pt em que convidamos alguém a dizer-nos, à chegada ao festival, quais as suas expectativas e, no final do dia, a contar-nos como correu afinal. A nossa primeira convidada foi a Sofia Rebocho.

 

* Nota da direcção: Por opção dos artistas não nos foi possível fazer registo fotográfico dos concertos de Ryan Adams, The Weeknd e alt-J.

Teresa Colaço  

Tem pouco mais de metro e meio e especial queda para a nova música portuguesa. Não gostava de cogumelos mas agora até os tolera. Continua sem gostar de feijão verde.


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Mais sobre: alt, Blossoms, Glass Animals, Miguel Araújo, Royal Blood, Ryan Adams, The Weeknd, The xx, You Can't Win Charlie Brown


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1 Comentário

  1. Vi o concerto de The XX a 300 Km daí e mesmo considerando que foi através da ‘pequena tela’, foi mesmo muito bom.

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