Precisamos de agradecer aos salvadores da noite – o segundo dia do Super Bock Super Rock
A chegada ao recinto para o segundo dia do Super Bock Super Rock parecia agoirar um festival quase fantasma. Não é exagero, se quiséssemos podíamos ter contado uma-a-uma as pessoas presentes sem que nos cansássemos. Desta vez o sol não foi rei, vamos agradecer à noite e aos salvadores que arrastou com ela.
Os londrinos Shame fizeram passar o seu furacão pelo palco Super Bock e em momento algum mostraram-se inibidos pela fraca afluência do público (para vos ajudar, Conjunto Corona pareceu-nos ter um número bem mais generoso de pessoas). Pode ter faltado público, mas não faltou energia, cerveja nem rock do bom. Soube bem matar as saudades do género pelo Meco.
A golden hour do dia 19 de Julho ficou reservada para o regresso dos Capitão Fausto que, sem grandes surpresas, encheram a lotação do palco EDP. Surpresa mesmo só o facto de terem sido colocados num dos palcos secundários. Um concerto fluido, leve a condizer com a hora, recheado dos maiores hits da banda lisboeta e com um público dedicado a entoar todas as letras.
Foram mais os que preferiram continuar com Capitão Fausto mas, ainda assim, pelas 21h já se notava alguma movimentação para o palco Super Bock para receber a francesa Christine and the Queens. Num dia recheado de artistas franceses, Héloïse Letissier, Christine entre nós, deu-nos um pop francês fresco, leve, novo e cativante. Distribuiu-se amor, abraçaram-se as diferenças, dançou-se muito dentro e fora de palco e só lamentámos o desinteresse generalizado do público por ela. Esperemos que volte, num setting mais adequado e com um público à medida.
No meio desta revolução francesa o palco principal foi de seguida entregue aos cabeça de cartaz, Phoenix. Veteranos em festivais, veteranos em Portugal e oficialmente condecorados um dos salvadores da noite. Se até aquela hora o recinto parecia vazio, de repente foi como se a poeira do Meco tivesse arrastado uma pequena multidão de gente colina abaixo.
Entre temas mais recentes não faltaram clássicos como If I Ever Feel Better, Lisztomania ou 1901, com coros, entusiasmo e dança à medida. São mais uma das bandas que inevitavelmente nos deixam alegres e o público entregou-se facilmente aos franceses. No final do concerto o vocalista Thomas Mars acabaria por se entregar também aos braços do público e pareceu-nos uma ótima forma para terminarem a sua digressão.
Perto da meia-noite começou nova romaria para o palco EDP para um daqueles fenómenos da era digital que não parece querer acalmar para já. Vincent Fenton é também French Kiwi Juice, ou FKJ. O multi-instrumentista francês trouxe o seu one man show até ao Meco e durante uma hora deixou a multidão do palco EDP completamente envolvida no meio do seu soul, jazz, blues ou mesmo pop. FKJ consegue ser tudo isso em simultâneo. Tadow ficou guardada para as músicas finais. Entre dia 19 e 20 vamos ver quem consegue levantar mais telemóveis com o tema, se FKJ ou Masego.
Aquecidos por FKJ e para completar o trio de salvadores da noite o palco Super Bock foi o palco de estreia do DJ e produtor haitiano-canadiano Kaytranada. Voltando aos fenómenos da era digital, Kaytranada tem sido provavelmente o DJ mais requisitado em tudo o que sejam plataformas sociais e a receção do publico mostrou bem a sede para o ver por cá. A lista de colaborações do DJ é invejável, desde Anderson .Paak, BADBADNOTGOOD, Vic Mensa, Kelela, Freddie Gibbs, entre muitos outros. Praticamente sempre atrás da sua mesa, sem qualquer foco em si, e quase escondido pelas suas próprias projeções, Kaytranada mostrou como explodiu para o mundo e como há poucos capazes de misturar house, soul, hip-hop e R&B como ele. Venham mais noites de Kaytranada por favor.