Obsidian Kingdom e Gaerea – Metal Ibérico em noite de Península una

Obsidian Kingdom e Gaerea - Metal Ibérico em noite de Península una

Depois de, no dia anterior, terem estado no Porto, os espanhóis Obsidian Kingdom e os lusos Gaerea estiveram no RCA para uma noite intensa. O público esteve à altura.

Este vosso escriba já não colocava os ouvidos num concerto há mais de ano e meio, como tal, julgo estar nesta fase algo «ferrugento» e a culpa é da pandemia. Mas enfim, são pormenores.

À porta da sala lisboeta alguns fans acumulam-se enquanto se verificam os (infelizmente!) habituais atrasos, seja na abertura de portas, seja no início dos concertos. O facto de ser Sábado ajuda a justificar a contingência, contudo, é sempre uma nota que considero ser menos positiva numa noite que se revelou bem mais do que mera música.

As luzes baixam e o palco é apoderado pelos misteriosos Gaerea, cujo último registo, «Limbo» (2020), foi e ainda é, um grande disco, mas, melhor do que isso é perceber que o quinteto está no pico de forma e que é impossível ficar indiferente a uma muralha sonora feita de guitarras densas, de uma secção rítmica avassaladora e, claro, de um vocalista possuído por um qualquer demónio terreno, ou talvez não!

Os Gaerea são uma marca, são uma só unidade de desespero inquietante, são as máscaras que todos usamos. São a doença e são a cura. O público, esse, vai reagindo como pode, ora estático ora com uma qualquer forma de movimento psicótico que se move pelo fumo (imenso! Demasiado!) que enche o RCA. Os Gaerea estão em excelente forma e, esta noite, o RCA presenciou, talvez, uma das melhores bandas actuais do black metal.

De Barcelona, os Obsidian Kingdom regressaram a Lisboa e se em 2014 a formação estava a dar os primeiros passos, 2021 traz uma banda que cresceu e cujo som vai além das sonoridades mais pesadas. Com três discos debaixo do braço, com especial destaque para «Meat Machine», a banda não esqueceu os anteriores e, por isso mesmo, esta noite serviu-os um a um, até para se entender melhor a evolução do (agora) quarteto! Com menos fumo, mas com um jogo de luzes imponente, Rider Omega na voz e guitarra ia mostrando que estes catalães são metal, são rock e são, também, experimentais q.b. Há ainda um guitarrista fortemente tatuado e um baixista que irrompe público adentro para uma confraternização «à antiga!». Depois disso, o público não mais deixou de estar com a banda e soltou definitivamente as amarras num mosh fez esquecer todas as regras em vigor! Quando «The Pump» termina ficamos com a sensação de que os Obsidian Kingdom são agora mais Nine Inch Nails do que Cult of Luna e que isso só lhes fica bem.

Em suma, esta foi uma noite de celebração de duas bandas cujo lugar se vem cimentando no rock e que, inclusivamente, partilham a mesma editora. Esta foi uma noite em que o que tantas vezes nos separa se tornou na união. Espanha e Portugal unidos na densidade do rock e do metal, numa Península Metal que deveria acontecer mais vezes. Como estão tão grandes e crescidos ambos os projectos… Ninguém saiu ileso de um RCA que roçou o esgotado. Afinal, o metal ainda se sente.

 

Fotos: Sónia Ferreira – World of Metal
Revisão: Daniela Azevedo

Nuno C. Lopes  

Melómano convicto, dedicado ás sonoridades mais pesadas. Fotógrafo, redactor, criativo. Acredita que a palavra é uma arma. Apesar de tudo, até é boa pessoa.


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