O todo é finalmente maior do que as partes – reportagem no concerto dos PAUS no Capitólio

O todo é finalmente maior do que as partes - reportagem no concerto dos PAUS no Capitólio

Os PAUS apresentaram o novo álbum Madeira no Cineteatro Capitólio, em Lisboa, na sexta-feira, 13 de Abril.

Se desde o início é impossível apontar o dedo à sonoridade dos PAUS, ao longo do tempo foi-se tornando cada vez mais difícil reduzi-los a uma só expressão ou género musical. Não que fosse necessário caracterizá-los (é boa música, não basta?), mas com Madeira, os PAUS deram finalmente o salto para um corpo próprio e deixaram de ser só o resultado de todas as sonoridades e influências que agregam em si. Crescimento esse que se nota particularmente no espectáculo ao vivo, onde a música dos PAUS se sente naturalmente mais à vontade.

No Capitólio, apesar da promessa de apresentação de novas canções, foram Pela Boca e Mo People que deram início ao concerto, que cedo virou para os temas do novo disco, com Blusão de Ganza (partes I e II a serem tocadas numa só), L123, Sebo na Estrada e 970 Espadas. É aqui que sentimos melhor este crescimento dos PAUS, que somam ao pulso do seu maior trunfo – a bateria siamesa de Joaquim Albergaria e Hélio Morais – o baixo hipnotizante de Makoto Yagyu e as teclas electrizantes de Fábio Jevelim. Falam de um disco sobre amor, sobre juntar o bom numa ilha e protegê-lo do resto do mundo, que “quando há amor, só uma ilha basta”. Falam da família, do orgulho em serem de um país cujos governantes haviam aprovado horas antes uma nova e mais inclusiva lei da identidade de género e de uma cidade que foi também a cidade de Manuel Reis, homem que fez por elevar a cultura local e promover o encontro entre as diferentes pessoas que a habitam. Tudo isso se sente na música dos PAUS: a inclusão, a mistura consciente e o amor pelo que fazem. Amor esse que é claramente recíproco, sendo que o público presente na sala bem composta do Capitólio já acompanha palavras dos novos temas de Madeira que a banda continuou a desfilar, como A Mutante, Madeira e Faca Cega. Houve ainda tempo para regressar a Clarão e Mitra, com Primeira e Era Matá-lo, antes de uma derradeira e emotiva despedida com uma inesperada Deixa-me Ser.

Se mais provas fossem necessárias, ficaram bem assentes na passada sexta-feira: os PAUS são dos mais interessantes e importantes projectos da música nacional.

Teresa Colaço  

Tem pouco mais de metro e meio e especial queda para a nova música portuguesa. Não gostava de cogumelos mas agora até os tolera. Continua sem gostar de feijão verde.


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