O Rock (In Rio) está de volta à Bela Vista
O Rock in Rio voltou a Lisboa! Quatro anos depois da última edição e com uma pandemia pelo meio, a Cidade do Rock voltou a abrir portas para deleite das milhares de pessoas sedentas de festivais.
Foram os ícones do Rock português, Xutos e Pontapés, os primeiros a estrear o Palco Mundo nesta que é a 9º edição do festival com origem no Brasil. Xutos, que são juntamente com Ivete Sangalo, batem os recordes de actuações no festival da Bela Vista, estiveram presentes nas nove edições mas nem por isso deixam de ter um público coeso, presente e com sede de rock’n’roll. Tim, João Cabeleira, Kalú e Gui abriram o Palco Mundo com a música Fim-de-semana, com a casa ainda a encher. Nesta altura assume-se mesmo que “Todos os autocarros que vão cheios” só têm um destino: a Bela Vista.
Os Xutos não deixam que se esqueça Zé Pedro, com Tim a envergar uma camisola em jeito de homenagem. O dia mais rock do Rock In Rio há de ter alguma culpa nas músicas escolhidas, onde tocaram algumas das mais antigas como: Voo das águias e Dados Viciados.
O público do concerto vai aumentado com o passar do tempo e quando começam a aparecer os maiores êxitos como Homem do Leme.
Tim tempera o concerto com pitadas de sentido de humor, introduz a Para ti Maria com “Temos mais concertos para dar, vamos apanhar uma carrinha para o norte”. Já se passaram alguns anos e a viagem de Bragança a Lisboa agora fica por volta de 5 horas, e não as 9 de que Tim falava em 1988, no álbum 88.
A mais icónica banda de rock português despede-se com A Minha Casinha cantada em uníssono, mesmo que com o erro “no rés do primeiro andar” em vez da versão original com a letra “modesto primeiro andar”. Um belo concerto para abrir este dia mais “rockeiro” do festival lisboeta.
Do outro lado do Parque da Bela Vista, no Galp Music Valley, começa o concerto de The Black Mamba, com um rock que se mistura com uma espécie de soul e blues. Um palco já com um público considerável, a maior parte vindo do palco principal e dos Xutos & Pontapés. Tatanka enuncia: “é o regresso da liberdade.
Podemos estar todos juntos outra vez. Vamos exorcizar esse bicho que nos tem atormentado”. Antes do concerto acabar, prometeram ainda que o próximo álbum está prestes a sair. Este palco tem ainda a curiosidade de disponibilizar uma intérprete gestual.
A tão esperada Love is On My Side foi cantada por todos os que estavam naquele vale na Bela Vista.
Pelas sete da tarde, no Palco Mundo, devoto do rock n’ roll e do clube de futebol Manchester City, entra Liam Gallagher. O ex-vocalista dos Oasis, trouxe um alinhamento composto tanto por músicas dos seus álbuns a solo, como por músicas dos Oasis e da outra banda de que faz parte, Beady Eye.
Com um parque da Bela Vista já muito composto, nas primeiras filas estão muitos ingleses com as camisolas dos seus respetivos clubes de futebol, mas não eram muitas as pessoas que sabiam todas as músicas de Liam. Também não seriam muitas as pessoas que conseguiriam perceber o sotaque de Manchester entre elas.
De Manchester vieram também os elogios aos jogadores portugueses do Manchester City FC, Bernardo Silva e Rúben Dias. Veio ainda de Inglaterra a tradição de acender tochas nas primeiras filas do concerto, ainda durante as primeiras músicas.
Mas só na penúltima música veio aquele que é dos refrões mais conhecidos do mundo: o da Wonderwall. O maior hit dos Oasis foi cantado em harmonia por todos aqueles que por ali passaram, mesmo pelos que não sabiam de quem era a música.
De volta ao Galp Music Valley, temos um concerto dos Linda Martini. Um alinhamento entusiástico de onde até surgiram alguns “moshpits”, no Vale da Música onde, por ironia, há camas de rede com várias famílias estavam deitadas.
Entre o rock energético, tivemos ainda espaço para uma crítica ao Partido Chega por parte de Hélio Morais, o baterista, para introduzir a música E não sobrou ninguém: “Esta canção fala sobre o crescimento de um certo extremismo. Neste momento, temos doze fascistas no parlamento. É muito importante que não nos calemos. Procurem cuidar uns dos outros”.
Voltando ao Palco Mundo e ainda antes do próximo concerto, sobe a palco Simone de Oliveira, com um discurso no qual apela à paz.
No mesmo palco, foi a vez dos The National. Na plateia, muitos céticos já à espera de Muse, que se deixaram levar pela voz de Matt Berninger tanto pelas músicas mais pesadas como pelas baladas melancólicas que marcam a discografia dos The National.
Um concerto muito emocional e quase íntimo, mesmo apesar do tamanho do palco, amplificado pela timidez do vocalista que esconde assim a experiência que tem a dar concertos. Já perto do fim, Matt, assume que para a banda é especial voltar a Lisboa porque foi o local do último concerto que deram pré-pandemia.
Após quebrarem corações, Matt entra no fosso no fim do concerto e despede-se com um “See you soon”.
Agora era suposto o cabeça de cartaz deste primeiro dia ser o grupo Foo Fighters, mas os escolhidos para os substituir foram os Muse, de Matt Bellamy. A banda do sul de Inglaterra abre logo com muita energia, com a Will of the people, música do próximo álbum, que sai em agosto, e o “will of the people” era mesmo ouvir a banda que encheu o palco do Rock In Rio.
Mesmo de máscara é impossível não se ficar marcado pela voz inconfundível de Matt Bellamy. Quando os Muse tiram as máscaras, cantam Hysteria, que puxa da plateia o primeiro refrão cantado. Os vários riffs de guitarra, com ajuda da pirotecnia, levaram o público à euforia.
A chuva começou a cair gradualmente, crescendo em intensidade, mas nem isso fez com que o público arredasse pé. Mesmo encharcado, o público vibrava com o início de cada música.
O fogo e a pirotecnia do palco contrastavam com a chuva que ia caindo. Antes da tão esperada Plug In Babytemos um dueto entre a guitarra de Matt e a plateia, que deixa o Parque da Bela Vista em delírio.
Ainda antes do fim passamos por Uprising, Prelude e Starlight. Abandonam o palco durante uns segundos, chegando a enganar os mais desatentos que achavam que o concerto tinha mesmo acabado, mas voltaram para trás assim que apareceram os primeiros acordes de Kill Or Be Killed. A música que fechou o Palco Mundo neste primeiro dia de Rock In Rio 2022 foi Knight of Cydonia, antes do espetáculo de fogo de artifício que caracteriza o fim da noite de Rock In Rio.