6 Jun 2019 a 8 Jun 2019

O novo normal no NOS Primavera Sound

O novo normal no NOS Primavera Sound

Ao último dia, as mulheres roubaram as atenções. Rosalía e Erykah Badu foram donas e senhoras de um dia em que também Amyl And The Sniffers, Kate Tempest, Big Thief, Lucy Dacus e Lena D’Água foram estrelas. Do samba ao punk, assim se despediu a edição mais eclética que o NOS Primavera Sound já viu.

O derradeiro dia de NOS Primavera Sound arrancou com uma surpresa. Os Shellac, banda residente do certame, ofereceram um concerto improvisado à entrada do recinto, logo à hora da abertura de portas. Mas o ânimo só subiu quando os palcos começaram a funcionar. Ali ao lado, no palco SEAT, os brasileiros O Terno encantaram uma plateia que já os conhece bem. Já do outro lado do recinto foi Lena D’Água e Primeira Dama, com a banda Xita, a fazer a festa.

Olá Barcelona

Os Viagra Boys decidiram começar o seu concerto no palco SEAT a testar a boa vontade dos presentes. Felizmente, o seu punk altamente dançável e a presença em palco de Sebastian Murphy fazem-nos esquecer a provocação. Muito mais cordial, a americana Lucy Dacus partilhou histórias e belas canções perante uma plateia relaxada, espalhada pela encosta do palco Super Bock.

Também de passada lenta, os Big Thief foram fazendo as delícias de quem pretendia levar à tarde com calma, no palco SEAT, antes da festa à séria. Festa que chegou em grande com o samba tropical de Jorge Ben Jor. Acompanhado por uma vasta e notável banda, o histórico da música brasileira desfilou boa onda, sendo que Mas Que Nada, País Tropical e Fio Maravilha foram os temas mais celebrados.

Ali ao lado do vale de toalhas e grupos de amigos sentados a absorver o samba vindo do palco NOS e o último sol do dia, surgem os bombásticos Amyl And The Sniffers. Australianos que parecem nunca ficar sem energia, a banda liderada pela jovem Amyl pratica punk rock à antiga – rápido e directo, como tem de ser – com uma genuinidade em palco invejável. Uma autêntica mini avalanche que passou pelo Parque da Cidade. Mas quem todos queriam ver era Rosalía, catalã que se apresentou de seguida no palco NOS. Depois de ter surgido quase como um cometa na cena internacional, a voz que une o flamenco à electrónica e à pop mostrou que já não é só uma promessa. Com palco, guarda-roupa e bailarinos de estrela pop, Rosalía apresenta-se dona e senhora do palco, e o público também a tratou como tal. Falou português, cantou quase a cappella, dançou e mostrou a sua voz em todo o seu esplendor. Con Altura e Barefoot In The Park – parcerias com J Balvin e James Blake, respectivamente – voltaram a ouvir-se no recinto, depois dos concertos do colombiano e britânico na véspera, mas foram os temas de El Mal Querer que melhor foram recebidos, como Pienso En Tu Mirá, Que No Salga La Luna, Bagdad e, claro, Malamente.

Tempo havia ainda para mais uma senhora fazer do palco o seu parque de diversões. Erykah Badu, começou, no entanto, por brincar com a paciência do público presente, com um atraso de 40 minutos até se apresentar em palco. Queríamos fazer-nos de difíceis, mas Badu, quando finalmente chegou, iniciou um grandioso concerto que só terminou duas horas depois. Com uma banda exímia a apoiá-la e um jogo de luz muito bem estudado, Erykah Badu fez da sua voz carregada de soul centro do universo, fazendo o público navegar por temas altamente sensíveis até outros de erupção emocional, puxando o funk que há em todos nós. Pode não ter sido um espectáculo coeso, mas a energia (e devoção dos seus fiéis) de Badu compensa todos os tiques de diva que vai mostrando (não só não permitiu captação de fotografias do seu concerto por parte dos meios de comunicação como ainda mostrou o dedo do meio a um drone que nunca voltou a aparecer…).

Entre o samba, o punk, o soul, o flamenco, o indie rock, o reggaeton ou a pop, a edição deste ano do NOS Primavera Sound alastrou a novos estilos e horizontes. O público dispersou e todos fomos apresentados às várias versões do novo normal.

Teresa Colaço  

Tem pouco mais de metro e meio e especial queda para a nova música portuguesa. Não gostava de cogumelos mas agora até os tolera. Continua sem gostar de feijão verde.


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Mais sobre: Amyl and the Sniffers, Big Thief, Erykah Badu, Lena d'Água, Lucy Dacus, O Terno, Primeira Dama, Rosalía, Shellac, Viagra Boys


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