O NOS Alive está de volta – Rendez-vous no sítio do costume

O NOS Alive está de volta - Rendez-vous no sítio do costume

Em 2019 terminámos o último dia de NOS Alive assentes na alegria como resistência. Ironicamente, nem sabíamos que tal resistência, seria crucial para suportar este hiato festivaleiro e pandémico, dos últimos dois anos.

No primeiro dia da 14ª edição deste festival, a expetativa e ansiedade reinavam a caminho do Passeio Marítimo de Algés. Bastantes questões e inquietudes pairavam no ar, e ecoavam pelos nossos cérebros sedentos de momentos catárticos (que só a música nos sabe tão bem proporcionar):

O que esperar de um evento destas dimensões, após tanto tempo de pausa? Ainda sabem fazer isto? Ainda sabemos, NÓS? E até que ponto, a nossa mente e corpo, ainda têm resistência para aguentar este back-and-forth entre palcos?

Contudo, demorou pouco tempo para acalmar tais desassossegos e obter respostas mais positivas a tais pensamentos frenéticos.

Neste fim-de-tarde veraneio, encontrámos Mallu Magalhães, que ficou com a resposabilidade da abertura do palco NOS. A voz de Sambinha Bom, que aqui já é experiente, continua a ser o amor paulista e melodioso, a que outrora já nos habituou. E foi um prazer ouvir temas mais recentes, como Deixa Menina, do seu último álbum, do qual o título Esperança, não poderia ter sido melhor empregue aquando o lançamento em 2021.

Igualmente, a banda seguinte do palco Heineken foi também uma reunião feliz. Os Balthazar, cujos concertos no Hard Club (ESGOTADO 31/11) e na Aula Magna (01/11), pela mão da Everything Is New, foram excelentes eventos-teste. Principalmente, para a confirmação de uma conexão com a massa humana portuguesa, que se voltou a verificar no dia de ontem. Conexão essa, fruto de um trabalho evolutivo no indie-rock belga, que já conta com quase duas décadas. Se Applause (2011) e Thin Walls (2015) lhes deram o reconhecimento necessário, Fever (2019) e Sand (2021) assentaram raízes na relação que têm com o público português.

Soam as sirenes e assim entram Jungle…

Novamente no palco principal, assistimos à derradeira confirmação, de que, o corpo e a alma ainda aguentam (e precisam disto). Em 2018, deixámos aos Jungle convite aberto para voltarem ao nosso país, sempre que quisessem. Desta vez, o reencontro foi ao fim da tarde, algo que permitiu apreciá-los de uma perspetiva diferente e igualmente prazerosa. As cores do sunset em Oeiras, adequadamente, se misturaram com os tons marron dos visuais em palco, a que já nos afeiçoámos desde os primórdios da banda.

Iniciaram a atuação com Keep Moving, cuja letra e sonoridade tanto nos deram alento e ânsias de perseverar, mesmo durante um segundo ano pandémico. Assim como o restante álbum Loving in Stereo, no qual se debruçaram bastante nesta atuação. Sem obviamente, deixar para trás êxitos como Time, The Heat, Happy Man e Busy Earnin’ (com o qual terminaram) e Casio, que a meio nos deu direito a um snippet de Stayin’ Alive dos Bee Gees. Entre canções, Josh Lloyd-Watson provoca-nos e diz:

We hear the Portuguese are the best dancers in the world, let’s see it!”

Se somos ou não, fica a dúvida. Mas mesmo sem esta provocatória, já estava impossível não abanar todo o esqueleto com estas mesclas de modern soul e electro funk. E a grande novidade deste alinhamento, foram os recentes singles Good Times e Problemz, que já são um tease para um novo disco que aí se avizinha…

Ao início da noite e ainda no palco NOS: viajámos um pouco com a neo-psicadélica americana dos The War On Drugs. Os norte-americanos apesar de toda a mestria dos sub-géneros alternativos rock que representam, continuam a ser um tipo de banda usada como pré-headliners para desacelerar o ritmo cardíaco. Porém, depois de Jungle, a vontade que fica é de continuar à procura de libertação pela música. Desse modo, regressámos ao palco Heineken, para um daqueles que se previam ser DOS concertos da noite: Fontaines D.C.

A atitude irlandesa de angry cis white rock n rollers, assenta a Grian Chatten e companhia que nem uma luva. E desde o primeiro momento que põem os pés em palco, é possível perceber ao que ali vêm. O quinteto de Dublin não inventou a pólvora no que toca ao post-punk irlandês, mas certamente sabem lograr da perfeita apoteose do mesmo. Se houvesse dúvidas, a exaltação de Drogel (2019) terminaria com as mesmas e o concerto de ontem também.

Os cabeças de cartaz, The Strokes (que por motivos que nos são alheios não pudémos fotografar 😤), deixaram um misto de reviews e sentimentos divididos em Algés. Quem não tinha o trabalho de casa feito, sobre o que tem sido a presença pouco-sóbria de Julian Casablancas ao vivo, certamente saiu desiludido. Os monólogos prolongados (muitos rudes e sem nexo) e a atitude “too cool for school“, já são um must have do filho mimado de John Casablancas. Mesmo assim, a maioria dos espetadores vibrou com os nova-iorquinos. Para as delícias dos millennials que cresceram com hits como You Only Live Once, Juicebox e Reptilia a sua setlist foi menos previsível do que o esperado. E os fervorosos fãs que encontrámos para o regresso da rubrica “Vai ser tão bom, não foi?são o espelho real do público-alvo deste dia:

Além de termos de fazer uma menção honrosa a Da Chick, que atuou no WTF Clubbing Stage horas antes. Outra menção e surpresa (ou não) do fim da noite, foi Parov Stelar a fechar o Heineken. O austríaco contou com a ajuda de uns energéticos músicos que o acompanharam e deu-se um autêntica festa de início ao fim, que levou a plateia ao rubro. Para quando transportar esta festa para o palco principal?

Stromae a comprovar a magnitude da Mosaert

O cantor, compositor e produtor belga chegou a estar confirmado para este festival em 2015, tendo cancelado por motivos de doença. Todavia, a espera de mais de meia década para uma nova confirmação da sua presença no NOS Alive, valeu totalmente a pena. Conduzido por uma forte componente visual digital e física (que é pensada ao pormenor), Stromae foi mais do que um mero concerto. Foi todo um espetáculo mirabolante e politizado, onde recriou, literalmente, os seus videoclipes. Tanto o encontrámos num pódio de imitação da conferência de imprensa que dá em Fils de joie (canção dedicada aos trabalhadores da indústria do sexo e seus filhos). Como o vemos a replicar parte da dança de Tous les Mêmes, onde goza com a caricatura básica de estereótipos de género nas relações humanas. Pelo meio, até o seu cão-robô que já tinha feito furor no Coachella, marcou igualmente presença. Da mesma forma, que o amor partilhado entre a audiência e o artista foi singular. Que mar de almas a cantar de pulmões abertos temas mais célebres como Papaoutai, Formidable, Santé, e claro, Alors on danse.

Este autêntico show, deveu-se sobretudo à criatividade audiovisual que conseguiu explorar com a sua label Mosaert, que é um anagrama do seu próprio nome artístico. Este coletivo, nos últimos anos despoletou de forma ‘independente’ e original, tanto no meio musical como fora dele. Tendo ontem, sido a prova viva da magnitude do mesmo.

O convite que deixámos aos Jungle, estende-se para Stromae:

Reviens toujours’! S’il vous plaît!

Ainda faltam mais três dias de festival! Vê a programação completa aqui: https://musicfest.pt/festival-edicao/nos-alive-2022/, relembramos que podes usar o teu telemóvel para marcar com uma ⭐️ os concertos que não queres perder!

Ana Duarte  

Consultora Musical na Fonograna e fundadora da webzine CONTRABANDA. Estudou Music Business na Arda Academy e Línguas, Literaturas e Culturas na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Tinha uns pais melómanos que a introduziram a concertos/festivais, ainda tinha ela dentes de leite. 3 décadas depois, aproveita para escrever umas coisas no ponto de vista de espetador melómano (quando a vida de consultora musical lhe permite).


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Mais sobre: Da Chick, Fontaines D.C., Jungle, Mallu Magalhães, Parov Stelar, Stromae, The Strokes, The War on Drugs

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