New Order: intemporais, universais e atuais – o segundo dia de Paredes de Coura
Mais um dia com lotação esgotada, devido a uma grandiosa banda do início dos anos 80. Ontem, perdemos a conta de quantas vezes ouvimos Blue Monday nas colunas dos campistas. Temíamos que o público mais jovem apenas reconhecesse esse hit. Contudo, os nossos receios eram completamente infundados…
Mais um banho “fresquinho” nos míticos chuveiros do campismo, seguido de um cafézinho (ou 4 no meu caso) para repor energias. Atrasámo-nos devido a um engarrafamento na zona de tomar banho, mas chegamos bem a tempo de ver (e principalmente ouvir) Khruangbin às 18:15h. O horário em que os colocaram gerou um pequeno descontentamento nas redes sociais. Mas fez todo o sentido e foi um início de tarde perfeito! Não podíamos pedir mais ao trio texano instrumental que mistura psychedelia, funk, soul, rock, dub, etc, etc, etc… Laura Lee e parceiros tocaram e encantaram!
Os canadianos Alvvays liderados por Molly Rankin foram tímidos e tal como a Julia Jacklin no dia anterior, não permitiram fotografias. Na hora do concerto já não encontraram um público completamente atento e sentadinho. O fluxo de pessoas a passar de um lado para o outro foi exacerbante, mas no fim sempre tiveram merecidos aplausos.
Já com as atenções redobradas no palco secundário, encontramos a banda norueguesa Boy Pablo. Porém, ainda antes do fim da sua atuação tivemos de os trocar por Car Seat Headrest no palco principal. Embora com intakes diferentes, ambas se inserem no género primário do indie rock. Mas Boy Pablo trazem consigo também indie pop, e isso torna-os imparáveis.
No que toca aos Car Seat Headrest, a banda dos Estados Unidos que por aqui se estreou numa tarde de 2017 voltou a ser fortemente acarinhada pela plateia. Principalmente da régie até à frontline. Destaco Drunk Drivers/Killers Whales do álbum Teens of Denial (2016), que se transformou numa espécie de hino, cantada e declamada por todos.
New Order + Joy Division = Forever
Peter Hook já nos tinha convencido em 2010, neste mesmo festival, com Unknown Pleasures (álbum mais consagrado dos Joy Division). Embora actualmente, já não faça parte da banda inglesa, ontem sentimos a sua falta. No entanto, mesmo sem a sua presença, foi um concerto vitorioso. Uma combinação perfeita de temas da banda renascida como uma fênix, após a morte prematura de Ian Curtis.
Às 22:50h ouvimos Das Rheingold: Vorspiel (canção de Richard Wagner) e assim entram em palco Bernard Summer (vocais e guitarra), Stephen Morris (bateria), Gillian Gilbert (teclas), Phil Cunningham (guitarra) e Tom Chapman (baixo). Os aplausos e assobios ecoam por todo este anfiteatro natural e por ali ficamos vislumbrados durante mais de hora e meia.
Ainda deram um breve salto ao novo álbum e a mais temas compostos (e editados) já neste século. Apesar disso, não falharam êxitos como Sub-culture, True Faith, Bizarre Love Triangle. Êxitos esses com novos arranjos (ainda mais electrónicos) pensados para a fatia maior do público de Paredes: os jovens campistas.
Também não falhou, Blue Monday, claro. Esta última levou o público ao rubro, como já esperávamos.
Pouco depois do início do concerto, Summer pergunta-nos se queremos ouvir Joy Division. É óbvio que a resposta foi positiva. E cantamos vigorosamente She’s Lost Control e Transmission. Para alguns de nós, usar a famosa t-shirt da capa de Unknown Pleasures não significa só que somos cool e alternativos. Significa que alguns ainda sentem cada acorde, cada batida e cada palavra. No fim, o vocalista visivelmente satisfeito diz-nos:
I am so glad there are so many Joy Division Fans here!
E para o encanto dos demais, para encore ficou Atmosphere, aliada ao videoclipe oficial projectado no ecrã. Destaco-a como sendo o momento mais emocionante da noite. Vislumbrar imagens de Ian Curtis, sobrepostas umas às outras, e sentir o lirismo de letras como “don’t walk away, in silence” foi poderoso. Mas não tão poderoso como o tema final: Love Will Tear Us Apart, obviamente. Adoro quando se dá uma simbiose perfeita entre a plateia e os artistas. Não poderia ter sido melhor! No ecrã apareciam palavras como Joy Division Forever, e serão mesmo… Ian Curtis ficaria orgulhoso certamente!
Para trás ficou Disorder, mas talvez não tenha sido a única. Independente disso, e tendo em conta o alinhamento das setlists mais recentes da banda, nem estávamos à espera. Ainda, a maneira como terminaram o concerto pode ser clichê para muitos. Todavia, ouvir diferentes gerações (principalmente as mais novas) a cantar em uníssono um tema de 1980, revela uma universalidade e intemporalidade sempre positivas. Essa mesma universalidade é o núcleo que aqui nos une a todos.
Consta-se no burburinho das redes sociais, que foi pedido à banda de Will Toledo (Car Seat Headrest) para encerrar os espectáculos da noite no palco Vodafone, mas recusaram assumir tal responsabilidade. É que os New Order apesar de serem cabeças de cartaz, viram-se num horário prematuro devido ao horário do seu voo de regresso (dizem). Por isso, coube aos portugueses Capitão Fausto executar a tarefa. Algo que fizeram sem grandes problemas, visto que contaram com um público que os acompanhou nas cantorias de início ao fim.
No After-Hours ainda estiveram os Acid Arab e Krystal Klear. Hoje é o terceiro e penúltimo dia do Vodafone Paredes de Coura. Não te esqueças que podes consultar a programação completa em https://musicfest.pt/festival-edicao/vodafone-paredes-de-coura-2019/