Moonspell fazem tremer o Lisboa Ao Vivo em dia de apresentação de novo disco
A 31 de outubro, pelo segundo dia consecutivo, o Lisboa Ao Vivo encheu-se para ver os Moonspell e para ouvir as novas canções de 1755.
São 22h30, começam a ouvir-se em fundo os primeiros sons de Em Nome do Medo, na sua versão orquestral, enquanto o palco mostra uma das memórias do terramoto de 1755, o Convento do Carmo. Um a um começam a surgir os intervenientes; primeiro um coro, depois os elementos da banda até que Fernando Ribeiro surge com uma máscara de corvo para nos levar até ao dia em que todos os santos foram poucos.
Sem qualquer aviso, a alcateia arranca logo com 1755 e, de imediato, o público fica à mercê dos Moonspell.
Seguem-se as devidas vénias da banda e fica o aviso para o que aí vem: este não é um concerto qualquer; é um concerto nosso e para nós. Em In Tremor Dei surge a primeira surpresa com o fadista Paulo Bragança a aparecer em palco, vestido a rigor, para “fazer frente” a Fernando Ribeiro. Os restantes membros ficam no mesmo sítio, como se sentissem no ar o mistério sobre o momento que se avizinha. Assistimos, então, ao primeiro grande momento de um concerto que durou cerca de duas horas e que não deixou ninguém indiferente.
Em cada tema Fernando Ribeiro faz questão de nos lembrar o que foi aquele dia, porém, as novas canções do grupo tocam-nos fundo e a sua voz cavernosa faz os ossos tremer, tal como no Desastre que foi o Abanão no Evento do 1º Novembro. Percebe-se que a banda se sente já confortável nos novos temas e que se preparou muito bem para este espetáculo. Enquanto Aires se mostra mais efusivo e mais “raivoso” no ataque ao seu baixo, Ricardo Amorim está mais calmo, mais escondido, deixando que a sua guitarra faça o trabalho. Quanto a Mike Gaspar e Pedro Paixão continuam iguais a si próprios e parecem (quase) distantes do mundo que os rodeia, absorvendo a energia que vem de um público rendido ao álbum novo.
Depois da tormenta vem a bonança e somos levados a ver as Ruínas até que Todos os Santos, o primeiro single, começa a ecoar. Estranhamente (ou talvez não) o público sabe toda a letra e acompanha Fernando Ribeiro, cujo olhar, tantas vezes sombrio, mostra alguns sinais de satisfação. Com a cidade desfeita, com o pesar do luto, os Moonspell chegam ao fim da primeira parte do espetáculo, com as Lanternas a mostrar o caminho. Foi assim que deixámos 1755.
Para a segunda parte do concerto a banda escolheu alguns temas mais “obscuros”, começando desde logo com Everything Invaded de The Antidote ou Night Eternal, do registo com o mesmo nome, no entanto, a banda tinha ainda um trunfo escondido nas ruínas… Rui Sidónio de seu nome, dos Bizarra Locomotiva, que vem trazer o caos e tocar uma versão de Medo, bem mais agressiva que o original e que o leva até um público assustado com a sua máscara e com a sua presença, sempre altiva. O tema termina com Ribeiro às cavalitas de Sidónio, em mais um momento de redenção que se manteve na viagem ao passado que foi Vampiria e Mephisto. O concerto aproxima-se do fim e é aqui que surge um dos momentos mais emotivos de todo o disco, quando o frontman recorda os incêndios de Pedrogão Grande e as vidas que lá se perderam. O público reage ao seu discurso com aplausos que quase tombam os céus. No final, é isto que somos, Alma Mater e, sob o manto da lua, a banda termina em beleza com Full Moon Madness.
Para sempre fica a memória: celebrar a vida através dos mortos. A certeza que fica é que os Moonspell são nossos e de todos. Este foi um grande concerto e, perdoem-me, mas o registo final fica para a entrega, simbólica, das luvas de Fernando Ribeiro a um espectador que não tinha mais de quatro anos; uma criança. O grupo, que em 1992 se formou na Brandoa, está hoje num lugar de destaque entre os melhores nacionais e internacionais.
Edição: Daniela Azevedo