Moonspell – 1755
O dia 1 de Novembro de 1755 ficará para sempre marcado como o dia mais trágico que Portugal já viveu e, como tal, a memória deve permanecer, não só por respeito aos mortos mas, igualmente, por respeito ao país que fomos e ao Portugal que somos. É isso mesmo que os Moonspell nos trazem no 12.º disco de originais.
Já se sabe que a banda é capaz de fazer o inesperado e 1755 é isso mesmo: um disco baseado nos eventos desse ano, onde a banda apresenta um retrato do que foi esse dia e de todo o terror vivido. Porém, a maior surpresa neste disco acaba por ser o facto de ser cantado em português, algo que a banda já tinha feito anteriormente mas que aqui assume o papel principal sendo o resultado arrebatador.
Apesar de ser um disco que não encaixa à primeira, causando até alguma estranheza, 1755 é um disco que lentamente nos consome e que se entranha nos nossos ossos, como se estivéssemos lá, como se aqueles gritos de horror fossem os nossos. Fernando Ribeiro faz um retrato fiel do Portugal do séc.XVIII e traz canções profundas, cantadas com a dor de um país que acordou ainda antes de adormecer. Como se tal não bastasse, há ainda a presença do fadista “maldito” Paulo Bragança em In Tremor Dei, naquela que é a canção que nos arrepia todos os poros e há ainda tempo para Todos os Santos ou para a abertura Em Nome do Medo. Estes são apenas alguns exemplos daquele que será, porventura, o melhor disco de Moonspell, aquele que mais reflete a génese da banda e, claro, de Portugal.
Não deixa de ser uma curiosidade infeliz o facto de o disco ser lançado numa altura em que o ar de Portugal respira morte. A morte de cada um de nós em nós. 1755 é um disco para Portugal, para o Mundo e para todos os que respiram esta forma de estar tão portuguesa.
Lê também a entrevista com Fernando Ribeiro, a propósito do lançamento de 1755.