Entrevista com Fernando Ribeiro dos Moonspell na antevisão dos concertos de apresentação de 1755

Entrevista com Fernando Ribeiro dos Moonspell na antevisão dos concertos de apresentação de 1755

Numa altura em que se preparam para o lançamento de 1755, aquele que será o 12º registo dos Moonspell, lançamos um olhar sobre o disco e antevemos o que poderá ser a apresentação da banda em Lisboa e no Porto.

Há muito que os Moonspell se encontram no trono do metal nacional e internacional, muito graças a discos como Irreligious, The Antidote ou, mais recentemente Night Eternal ou Extinct. Além disso a banda sempre soube fazer o inesperado e com 1755 volta a surpreender, não tanto pela música, mas pelo conteúdo. Fernando Ribeiro e companhia apresentam-se com um conjunto de temas cantados em português e, como o próprio nome indica, baseado no evento mais catastrófico de que há memória em Portugal. Como se tal não fosse suficiente, os amadorenses contam também com a presença (inesperada) do fadista Paulo Bragança que nos remete, ainda mais, para este fado de ser português.

No dia 1 Novembro de 1755 a terra tremeu em Lisboa e será essa mesma experiência que podemos esperar nos concertos de apresentação do disco de Moonspell, que tocam em Lisboa (30 e 31 Outubro no Lisboa Ao Vivo) e dia 1 Novembro no Porto (Hard Club) em três concertos que prometem ser mais do que a celebração do metal. Será tempo de recordar os mortos na celebração da vida. Está prometida uma noite com muita história, com muita teatralidade e, acima de tudo, de memória pelo que fomos e pelo que somos atualmente. Será mais uma consagração de uma banda que levou o nome de Portugal a todos os cantos e que faz em 1755 uma justa homenagem ao povo que os viu crescer. Poderá Portugal tremer de novo?

Nuno Lopes do musicfest.pt à conversa com Fernando Ribeiro dos Moonspell

1755 é o vosso 12.º disco e o que surge totalmente em português, sendo que os Moonspell sempre se mantiveram “fieis” à nação e nunca esconderam as suas origens e uma certa “identidade” portuguesa, este disco acaba por atingir um patamar de nacionalidade mais elevado. Era o trabalho que faltava aos Moonspell? Qual foi o maior desafio para este disco e como se sentem com o resultado final?
A nossa “fidelidade” à nação foi sempre motivada pelo nosso profundo respeito e fascínio pela história e cultura Portuguesa que sempre tentámos que enriquecesse os nossos assuntos e a nossa música. Não vem de agora, mas o 1755 cristaliza isso de uma maneira muito mais sólida. Faltam-nos alguns discos, ou pelo menos, ainda os “temos” em nós; não é uma porta que se fecha, mas uma janela que se abre. O maior desafio era contar esta história, a morte e o renascimento não só de Lisboa, mas de um país que finalmente sai da Idade Média, em circunstâncias trágicas. Sentimos o prazer do dever cumprido.

Sendo um disco totalmente em português, como estão à espera que as pessoas reajam e qual o motivo que vos levou a encarar um novo disco desta forma?
O português foi utilizado por uma razão muito simples: uma aproximação mais genuína ao conceito. Depois, quando comecei a vocalizar vi que seria mais especial em termos de expressão. As reacções vão ser as de sempre: algumas pessoas já adoram, outras não, é impossível a consensualidade e ademais estamos demasiado velhos para isso.

O disco surge numa altura em que, devido aos incêndios, Portugal se encontra numa posição fragilizada e de luto, tal como após o terramoto de 1755. Encontram semelhanças entre estes dois fenómenos que são, talvez, as duas maiores catástrofes do nosso país?
Quando fizemos o disco, esses fogos trágicos ainda não estavam na vida de ninguém, mas depois, como vimos, as pessoas começaram a fazer ligações e nós também. Se bem que a dimensão das catástrofes seja diferente, as últimas têm mão humana e negligência institucional o que as torna mais revoltantes. Hoje em dia, não temos escolha senão ser um pouco políticos, coisa que nunca quis para a banda, mas os eventos e a natureza esquizofrênica do nosso país vieram fazer essa ligação. Lisboa foi limpa num ano após o terramoto. Mais de quatro dezenas de pessoas morreram em 2017 quase nas mesmas circunstâncias passados poucos meses de um grande incêndio florestal. Dá, pelo menos, que pensar.

Sempre fizeram questão de contar com a presença artistas de diferentes formas de arte, como Adolfo Luxúria Canibal ou o José Luís Peixoto, e desta vez contam com a participação de Paulo Bragança. Como é que surgiu esta colaboração e como foi trabalhar com alguém que, tal como vocês, carrega o peso de ser português na sua arte, embora de forma bem diferente dos Moonspell?
Todas essas vozes e talentos são referências para nós no que toca a explorar o seu caminho, com uma voz própria e ficaremos sempre orgulhosos que nos tenham dispensado tanto do seu tempo. O Paulo foi um “feeling”. Uma voz que ouvi na minha cabeça no tema In Tremor Dei. Era a dele. Foi o cabo dos trabalhos para o encontrar mas era o destino. O Paulo é o anjo caído do fado, por isso o melhor dos fadistas. Carrega tanto Portugal que até se foi embora. Ele não faz o fado amestrado pela bossa nova e pelos turistas; faz o fado puro e duro, como ele diz, e tanto traz Lisboa como Trás Os Montes ou Coimbra. Para mim este foi o nosso momento de sucesso deste disco: ter o Paulo connosco.

Estamos a poucos dias da apresentação do disco, em Lisboa e Porto, sendo que na capital será a vossa estreia numa nova sala (Lisboa ao Vivo), quais são as vossas expectativas e o que estão a preparar para esses concertos?
Mais uma vez aproveitar para contar a história, por isso, vamos apostar na teatralidade da banda e de tudo quanto colocarmos no palco. Apesar do álbum ainda não ter saído, vamos apostar nele e mostrar aos fãs uma banda num novo capitulo, em português. Para muito fãs, esses sim, como disseste há pouco, o 1755 era o disco que faltava e por isso queremos muito ver as salas cheias.

Ao fim de (quase) 30 anos de carreira e de tantos desafios que vos foram colocados e que colocaram a vocês mesmos, o que ainda falta fazer ou, dito de outra forma, o que gostariam de fazer a seguir?
Duas coisas. Um disco sobre a solidão. E saber sair em beleza. Tal como desta entrevista. Um abraço e vemo-nos nos concertos!

Lê também a nossa review ao álbum 1755.

Nuno C. Lopes  

Melómano convicto, dedicado ás sonoridades mais pesadas. Fotógrafo, redactor, criativo. Acredita que a palavra é uma arma. Apesar de tudo, até é boa pessoa.


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