1 Set 2022 a 3 Set 2022

Lisboa viu, agarrou e caiu-lhe nos braços – O terceiro dia do primeiro MEO Kalorama

Lisboa viu, agarrou e caiu-lhe nos braços - O terceiro dia do primeiro MEO Kalorama

No derradeiro dia da primeira edição de Meo Kalorama destacamos naturalmente o concerto de Nick Cave and the Bad Seeds.

Mas, se é certo que Nick Cave, de negro como a noite, foi o senhor do serão no palco Meo, à tarde reinaram os rapazes do Norte!

Depois do aquecimento do público do palco Meo com Tiago Bettencourt chegou a vez de Ornatos Violeta trazerem de volta Coisas inesquecíveis.

Aproveitando a escadaria já colocada para Nick Cave, Manel Cruz fez tudo o que de melhor sabe fazer, dando voz e corpo a um concerto em que a sintonia da banda com o seu público fez o resto. De entre momentos já clássicos o despir e vestir de camisolas, momento de crowdsurf com O.M.E.M., o arremesso das baquetas à multidão por Kinorm… e dezasseis temas cantados em coro por uma multidão de admiradores cujas idades vai, seguramente, dos 7 aos 77 anos.

Houve também lugar ainda para o inesperado: O lapso de Manel Cruz ao trocar os versos de Dia Mau, prontamente reiniciado, e que fez o dia ficar ainda melhor e, claro está, desobediência do público: ninguém parou de olhar à ordem da banda e apenas Peaches, cujo concerto se iniciava no Palco Colina, fez parar a banda (desta vez). A música portuguesa voltaria a palco pela 01h00 com Club Makumba no palco Colina, sendo que durante a tarde haviam já atuado Moullinex e Grand Pulsar.

A provocatória e assertiva Peaches veio celebrar os 20 anos de Teaches of Peaches, trazendo na bagagem uma mão cheia de temas atuais. Rock Show, Fuck the Pain Away ou Boys Wanna Be Her – que fechou o concerto – são alguns dos temas que mostram ao que vinha esta canadense radicada em Berlim.

Da lição sobre o uso dos pronomes, a quase nudez e os acessórios peculiares, passando pelo “Thank god for abortion” escrito num dos bodies, o concerto foi um manifesto de modernidade, educação para a sexualidade e empoderamento feminino cantado e dançado com a garra portentosa de Peaches, desde logo antevista no Crowd Walking a que já nos foi habituando.

Despediu-se do público desejando um bom espetáculo ao público que já a essa altura já estava preparado para amar o primeiro e todos os restantes temas de Nick Cave and The Bad Seeds.

Com Get Ready for Love, There she goes, my beautiful world e Form her to eternity cantados junto ao público cedo se percebeu que estávamos perante um Cave mais ‘leve’ embora rigoroso e bastante bem-humorado apesar do lado alegadamente deprimente de muita da sua música e de alguns momentos mais solenes que foram atravessando o concerto.

Pedindo meças a Arctic Monkeys, atrevemo-nos a considerar que este foi O concerto do festival, entrando certamente para lugar cimeiro da lista de melhores concertos da vida de muitos dos que se encontravam na Bela Vista neste final de sábado.

Como nem só de front men vive a música e os espetáculos, ali estiveram as magníficas Bad Seeds (“My Beautiful band!”) e as estrondosas vozes de Janet Ramus, T Jae Cole e Subrina McCalla a acrescentar camadas ao concerto, resultando numa fantástica combinação.

Finalmente ao piano Nick Cave traz-nos 0 Children, dedicado a Paula, uma sortuda aniversariante que se encontrava nas primeiras filas, e seguimos para Jubilee Street, que termina em apoteose. Quem até então estivesse mais distraído tinha agora em destaque aquela que pensamos ser a figura da noite, a par com o óbvio Nick Cave: Warren Ellis, que deu uma ajuda vocal especial sublinhando a melancolia de Bright Horses. Seguiram-se mais nove temas, nove êxitos acompanhados pelo público ora em respeitoso silêncio, ora em despudorado coro, culminando com White Elephant que trouxe à boca de palco os extraordinários Back Vocals e Nick Cave de volta à passadeira onde, em boa verdade, passou grande parte do concerto.

Após a pausa de praxe, Nick Cave volta ao palco interpretando a solo um dos mais esperados (ou não fossem todos!) temas da noite. Talento e sensibilidade juntam-se em Into my Arms, dedicado a Betriz Lebre, uma jovem assassinada em 2020 e cuja mãe contara numa carta escrita a Nick Cave que gostava muito do tema. Após Vortex, foi o momento de Nick Cave dirigir do público. Após críticas fundamentadas à afinação do coro, Ghosteen Speaks acabaria por resultar bem e dar lugar ao tema derradeiro. A despedida fez-se com milhares de sorrisos entoado Wheeping Song, muitos certamente lamentando já ter acabado, mas todos discretamente arrumando o espetáculo na memória, na gaveta das coisas maravilhosas!

Pelas 23h15 Chet Faker subia ao palco Colina juntando ao seu redor um público que nos pareceu dividir-se entre fãs do alter ego de Nick Murphy e pessoas que aproveitavam a boa onda criada pelo músico para dois dedos de conversa descontraída enquanto arrumavam as emoções exacerbadas pelo concerto anterior. Num registo mais virado para o clubbing, Chet Faker conseguiu, como pôde, animar a multidão, lutando contra os problemas de som que teimavam em acontecer naquele palco. Por essa hora no palco Futura podia ouvir-se a jazzy Zaz que abrilhantou o espetáculo com alguns clássicos franceses, entre os quais La vie em rose.

Com o encerramento oficial a cargo de Disclosure no palco Meo, houve ainda lugar à última formação portuguesa do festival. Club Makumba ameaçaram ‘partir tudo’ no palco colina e mostraram que têm já lugar cativo na cena musical portuguesa.

Despedimo-nos do Parque da Bela Vista, temporariamente transformado em pista de dança, onde muitos milhares aproveitavam tudo aquilo a que tinham direito, numa festa com continuação já agendada para 2023.

P’ró ano há mais!

Em conferência de imprensa realizada este sábado, a organização começou por agradecer: à comunidade local – simbolicamente ali representada por Sam the Kid – à principal parceira – Meo – artistas, imprensa e naturalmente ao público.

Andreia Criner avançou alguns números sobre a participação do público – estima-se que cerca de 112 mil pessoas tenham estado no festival, com os bilhetes para o segundo dia a esgotar – e anunciou que haverá novo Meo Kalorama em 2023.

Ainda sem cartaz revelado ou local definido (poderá ou não ser o Parque da Bela Vista) a segunda edição do festival terá lugar nos dias 31 de agosto, 1 e 2 de setembro. Os passes, com preço early bird de 95 euros foram já colocados à venda neste último dia de Kalorama.

Estiveram também presentes, Miguel Guerra da Meo, The Legendary Tiger Man, Tiago Bettencourt e Tó Trips.

Pormenores que são porMAIORES do Festival

À chegada à Bela Vista apanhamos o encerramento da “Curadoria Chelas é o Sítio” que animou o palco Colina nos três dias do festival. Encontramos Dezinho e a sua crew, da Zona J de Chelas (como os próprios enfatizaram) que enquanto se preparavam para uma fotografia com o Ministro da Cultura, ali de visita, nos confessaram a sua satisfação pela forma como decorrera a atuação.

Tempo ainda para conversar com a equipa responsável pela acessibilidade e limpeza. Verificamos que, depois de vencido o desafio de subir a colina da Bela Vista, a geografia do parque e alguns cuidados da organização tornaram o festival acessível às pessoas com mobilidade reduzida, nomeadamente utilizadores de cadeiras de roda. Assim, no que toca aos palcos Colina e Futura, foi reservada uma área junto aos mesmos de onde estes cidadãos têm boa visibilidade para os espetáculos.

Relativamente ao palco Meo, com o apoio da Santa Casa da Misericórdia, foi criada uma plataforma/terraço com dimensão para acolher um número considerável de cadeiras e com a altura e orientação ideais para disfrutar dos espetáculos. Esse espaço dispõe de casas de banho adaptadas, que também se encontram noutros dois pontos do recinto.

Quanto à limpeza, a organização destacou o trabalho dos serviços da CML referindo ainda que o comportamento dos festivaleiros foi exemplar a este nível. O quadro desolador de lixo e sujidade após a realização de eventos desta dimensão parece já não fazer parte do retrato que o público português pinta de si próprio.

Carla Flores  

A repórter de guerra sonhada aos 10 anos deu lugar à professora de inglês que se dedicou a outras lutas, como a da promoção da leitura e a aquela coisa do "ah e tal, vamos lá mudar o mundo antes que ele nos mude!


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Mais sobre: Club Makumba, Grand Pulsar, Moullinex, Nick Cave, Ornatos Violeta, Peaches, Tiago Bettencourt


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