Fechem os olhos e imaginem um festival no quintal da aldeia – Bons Sons 2015
Abram os olhos: sabem onde estão? Em Cem Soldos. Sim, aqui a imaginação coincide com a realidade e é mesmo possível viver e fazer parte de um festival que acontece numa aldeia. E tivémos a oportunidade de experimentar isso mesmo, na sexta edição do Festival que convida a viver a aldeia.
Entramos pelas ruas, à procura do Bons Sons: deste encontramos os vestígios de som, de pessoas com canecas de cerveja na mão, um ou outro gerador e muitos cartazes. Estamos na aldeia de Cem Soldos, a cinco minutos de Tomar, num festival que celebra a música portuguesa e no fundo sentimos que estamos em casa.
Até 2015 os Bons Sons ecoavam de dois em dois anos. Agora, o festival que celebra a música portuguesa acontece anualmente. E a aldeia de Cem Soldos transforma-se num gigantesco palco que acolhe artistas, festivaleiros e amantes de música. O SCOCS – Sport Club Operário de Cem Soldos é a associação cultural responsável pela organização deste festival que nasceu em 2006, a propósito do programa “Acontece Cem Soldos”. A iniciativa visava celebrar o 25º aniversário da associação.
De 2006 para 2012 o Cem Soldos mudou, não só na frequência, mas noutros aspectos: de gratuito passou a ser pago, de 15 mil passou a ter 35 mil visitantes. Até o número de palcos aumentou, de 3 para 8. O Bons Sons assume-se como um espaço e um tempo que existe para divulgar a música portuguesa.
Em Cem Soldos sentimo-nos em casa: pelo espaço acolhedor, pelo constante tropeçar em sorrisos dos cem soldenses. O “boa tarde” é trocado entre todos, como se fossemos vizinhos há anos.
A aldeia sente e vive o festival: aos festivaleiros é lançado o desafio de viver a aldeia. Isso acontece com experiências como a possibilidade de levar uma Tixa – a mascote oficial do Festival – para casa. A Tixa é símbolo da dinâmica do Bons Sons: o seu processo de criação aproxima gerações , avós e netos, durante a sua produção.
Há uma preocupação ambiental evidente em todo o festival: as canecas de alumínio (que nalguns pontos do país se chamam de púcaros) que permitem ao festivaleiro beber água em qualquer ponto, evitando o desperdício de plástico, bem como os copos plásticos reutilizáveis de pega empilhável, que permitem o transporte fácil de bebidas para grupos. Tanto as canecas, como os copos reutilizáveis podem ser lavados em vários pontos do festival. Este ano, a organização disponibilizava, ainda, cinzeiros portáteis e reutilizáveis cuja configuração roubou alguns sorrisos e provocou piadas malandras entre os festivaleiros – fumadores e não fumadores.
Uma das novidades deste ano foi o renovado palco Eira que foi alvo de uma intervenção por parte de Orlando Gilberto Castro e Tiago Ascensão, do Porto. Ambos participaram no Concurso Internacional de Ideias que procurava propostas para tornar o palco Eira num espaço mais acolhedor para os visitantes. E confirmou-se: o “tecto” criado tornou o palco Eira num dos espaços preferidos para estar, para marcar encontros e beber e comer nos bares que por lá se instalaram.
No Bons Sons cruzamo-nos com pessoas de todas a idades: alguns passeiam a fralda e a chucha, outros a caneca com a cerveja, outros movimentam-se com a ajuda da bengala, dado o avançado da idade. O cartaz reflecte a atenção a um público diverso e assim se justificam as presenças, por exemplo, de Riding Pânico no dia 13, de Carlão no dia 14, de Ana Moura no dia 15 e de Tó Trips e Camané no dia 16.
Por motivos alheios à sua vontade – acreditem, a vontade era mesmo a de ficar a viver a aldeia por mais um dia – a equipa dos Horários dos Festivais não marcou presença no domingo. Ainda assim, recebemos vários sms da nossa amiga e enviada especial Ana que nos relatou alguns momentos especiais. A saber, os filhos de Tó Trips subiram ao palco, no final do seu concerto no Giacometti. O companheiro de Pedro Gonçalves, nos Dead Combo, conquistou o público e distribuiu autógrafos e abraços aos fãs e festivaleiros presentes. Já o concerto dos Retimbrar teve como convidado especial o músico Peixe, que subiu ao palco e vestiu a camisola, ou melhor, o fato-macaco, para tocar com o colectivo.
O Bons Sons é para o menino e para a menina, para todas as idades. E está de volta em 2016. E nós esperamos regressar, para viver (de novo) a aldeia.