A difícil arte do Acústico – Blind Zero no Theatro Circo, em Braga

A difícil arte do Acústico - Blind Zero no Theatro Circo, em Braga

Passavam cerca de 10 minutos das nove e meia quando se abriram as cortinas do Theatro Circo, em Braga, no ano do seu centésimo aniversário, para receber os Blind Zero, banda portuense que iniciava ali a sua digressão comemorativa dos 20 anos de carreira, “Noites acústicas”. E era, supostamente, dum espectáculo acústico que as centenas de fãs que encheram a belíssima sala de teatro bracarense estavam à espera. No entanto, depois da banda de Miguel Guedes e companhia subir ao palco, atravessando o corredor central que divide a plateia, e ocupar os seus lugares em cadeiras alinhadas, sob uma luz ténue, não se demoraria muito tempo a perceber que, afinal, o espectáculo de acústico pouco ou nada teria, para gáudio dos presentes.

Assim, depois do calmo “Slow Time Love“, música que abriu o concerto, os elementos da banda livraram-se das cadeiras, dos acordes melodiosos e suaves das guitarras acústicas, colocaram distorção e, em ritmos rápidos e enérgicos, saltaram, vibraram e contagiaram todo o público, que foi ao rubro, com temas como “Big Brother”, “Back To The Fire” e “Tree”. A espaços, entre risos, de camisolas transpiradas por tanto saltarem, recordavam ao público presente: “Isto é um concerto acústico! Por isso, pelo menos, temos que tocar baixinho!” ou “Temos que ter mais calma, isto é um concerto acústico”, roubando gargalhadas da plateia, sempre muito interventiva.

“Só tens um defeito, ó Miguel, é seres portista!”, gritou alguém, provocando risadas entre os elementos da banda e da audiência, a título daquilo que foi uma constante proximidade entre os elementos da banda e o público que, numa sexta-feira de uma noite fria, ali se deslocou.

Contrariando a tendência, um dos momentos altos e surpreendentes do concerto foi, contudo, acústico: “Esta é uma das músicas que mais gostamos de tocar”, disse o portuense Miguel Guedes, para logo de seguida se escutarem os acordes de um dos temas da moda, “Stay with me”, de Sam Smith, surpreendendo os presentes, que agradeceram aos músicos com muitas palmas, para logo depois, e em jeito de retribuição, receberem o enérgico “Shine on”, um dos grandes sucessos da banda nortenha.

Ao longo de cerca de uma hora, a banda teve tempo de revisitar vários temas dos seis álbuns de estúdio, sempre com a mesma intensidade e pujança a que nos habituaram desde que lhes seguimos as actuações ao vivo, sempre acompanhados por palmas ritmadas do público, participativo, envolvido, pedidas ora pelo vocalista, ora pelo baterista Pedro Guedes.

E depois dessa primeira hora, após se despedirem pela primeira vez, não foram precisos mais que dois ou três minutos para regressarem, sob uma grande ovação, fazendo assim o primeiro encore da noite, onde tocaram o belíssimo “I Will Take You Home”, do álbum “Kill Drama”, cuja versão original, anunciou Miguel Guedes “foi gravada com uma alemã” – Referia-se, sabemos, a Sandra Nasic, vocalista dos Guano Apes -, para depois levarem novamente a plateia ao rubro, com o tema “Skull”, mais um dos grandes sucessos roqueiros da banda, num dos momentos altos da noite.

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Música à parte, houve ainda tempo para a ouvir a história animada de Nuxo Espinheira, o baixista do grupo, contada na primeira pessoa, após os restantes elementos o terem deixado sozinho no palco, de como, numa noite de insónias, ao ver o canal “História”, ficou a saber a origem da palavra maratona, naquele que foi mais um momento de animação a culminar com um ecoar de gargalhadas.

Após a segunda despedida, os fãs teimavam em não arredar pé. Talvez soubessem que ainda havia grandes temas por tocar, talvez quisessem vibrar mais um pouco, a verdade é que, cinco minutos depois, após vários pedidos de “Só mais uma”, lá voltaram eles para se despedirem e agradecerem a presença e o calor humano dos bracarenses, finalizando em grande com o emblemático “Recognize”, do seu álbum de estreia, “Trigger”.

No final, fica, portanto, o registo de cerca de hora e meia de espectáculo electrizante, numa das mais carismáticas salas de espectáculo portuguesas, carregado de energia e entusiasmo, com uma multidão em êxtase. E a multidão que ali se deslocou esta noite, deu, seguramente, por bem empregue o dinheiro pago pelo bilhete. Foi uma noite memorável, um concerto que, conforme disse no princípio, era para ser acústico, mas de acústico teve pouco… e ainda bem que assim foi!

Nuno Samões  

Nuno Samões, 22 anos, rapaz ávido e dedicado ao trabalho na área de fiscalidade, frequenta actualmente o curso de Economia. Para além da matemática e dos números em geral, nutre paixões por poesia, percussão, livros, cinema e, essencialmente, música, desde que seja boa, claro. Os tempos livres reparte-os entre livros, copos e espectáculos e, quando a inspiração aparece, escreve uns gatafunhos nuns blocos de notas!


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