1 Set 2017 a 3 Set 2017

Calor e muita música em mais uma Festa do Avante – a reportagem no segundo dia da edição 2017

A 41ª edição da Festa do Avante! recebeu o público com as Vozes Femininas Afro-Lusas e o já tradicional concerto pela Orquestra Sinfonietta de Lisboa, desta feita subordinado ao tema A Revolução de Outubro de 1917 – 100 Anos de Futuro, no primeiro dia, no qual não conseguimos estar presentes.

Num espaço continuamente melhorado, destaca-se a nova versão revista e aumentada de um dos principais espaços do recinto, o Auditório 1º de Maio, agora preparado para acolher ais público em melhores condições, nomeadamente um piso muito mais ‘dance friendly’ e melhor arejamento.

O calor habitual na Quinta da Atalaia em quase finais de Verão obriga às condizentes medidas de contingência: chuveiros improvisados; biquinis e roupas leves para elas; muitos troncos de homem desnudos e algum descanso à sombra. Mas para isso lá estão também as sucessivamente multiplicadas áreas de lazer, aka “a bela da sesta”!

Do ambiente geral podemos dizer que se mantém inalterado: alegria, jovialidade e muita camaradagem. A isto junte-se uma vastíssima oferta nos mais variados campos culturais e podemos confirmar que Não há Festa como esta!

Música, dança e consciência social. São os três alicerces do espectáculo trazido pelos Newen Afrobeat na tarde de sábado da Festa do Avante! Cultivando o género criado por Kuti Fela, o colectivo chileno de 15 elementos rende homenagem ao activista nigeriano no seu segundo trabalho, o EP Newen Plays Fela. O calor do afrobeat e da América Latina aliaram-se ao sol da margem sul, obrigando os menos resistentes a procurar as poucas sombras daquela zona do recinto, enquanto os mais duros faziam a Festa junto ao palco 25 de Abril.

Após a actuação do Projeto Ciro, o afrobeat regressaria ao palco 25 de Abril, pela mão dos também regressados Cacique ’97, recebidos com entusiasmo pelo público da Festa, que a esta hora ocupava já boa parte do recinto. O colectivo luso-moçambicano cruza influências do ritmo nigeriano com a música dos países lusófonos, traçando um retrato vivo do mundo contemporâneo. Contando já com uma dúzia de anos de carreira, Cacique ’97 é considerada uma das mais inovadoras bandas no seu género, tendo já gravado com a nigeriana Nneka. Actualmente promovem We used to be Africans, o álbum lançado em Novembro de 2016.

A energia dos Stonebones & Bad Spaghetti, representantes do bluegrass português, contagiou o público presente no auditório 1º de Maio pelas 17:30. A Hildebrando Soares (voz e guitarra), André Dal (banjo e dobro), Bruno Lourenço (bandolim) e Gil Pereira (contrabaixo) juntaram-se Ana Figueiredo na voz e flauta transversal e Lluis Gómez no bandolim na apresentação de alguns temas originais a par de canções tradicionais do género e versões inesperadas de temas como o Noites da Madeira.

Enquanto o som dos insulares Luis Bettencourt e Zeca Medeiros tomava conta do auditório 1º de Maio, no palco 25 de Abril fazia-se a Festa do rap e hip-hop com Regula que, atravessando um momento alto no seu percurso musical, concentrou as atenções de um público esmagadoramente jovem. Muitos dos temas deste lisboeta foram entoados a uma só voz, como se se tratassem de hinos de uma geração.

O carácter universalista da Festa do Avante! foi mais uma vez vincado com Maurizio Presidente, a banda sediada em Berlim que integra na sua formação músicos oriundos de França, Itália e Portugal. Os ritmos apresentados vão da chanson française aos balcãs, passando pelo swing e pelos ritmos afro-latinos. Neste verão o colectivo tem vindo a divulgar o seu primeiro álbum Neuland.

Antes do final de noite ibérico o palco 25 de Abril recebeu os muito experientes Dervish. Com 28 anos de carreira e 12 álbuns editados, e tida como uma das mais importantes bandas da música tradicional irlandesa, a banda trouxe a Portugal um conjunto de temas interpretados com a excelência dos seus instrumentistas e a voz de Cathy Jordan, considerada a melhor intérprete da folk irlandesa.

Porque o dia já vai longo, e a Festa não se faz só de música, fomos ao Porto comer caldo verde e bifanas. Já o vinho foi verde. Altamente recomendável. Para o ano estamos lá outra vez.

E porque de uma festa se trata, João Gil, um já velho amigo do Avante, trouxe alguns dos companheiros de viagem que mais aprecia: Ala Dos Namorados, Carlão, Celina da Piedade e Tatanka, numa alternância de jovens a cantar coisas antigas, comemorando 40 anos de canções. Durante uma hora, o público que enchia e transbordava o recinto do palco principal pôde recordar canções lançadas quer em nome próprio, quer dos diversos projectos em que o músico e compositor se tem envolvido. Em encontros mais ou menos felizes, pudemos recordar as canções de João Gil, que de alguma forma fazem já parte da história da música portuguesa dos anos 70 à actualidade, de que destacamos os Loucos de Lisboa, cantada a plenos pulmões por gente oriunda dos mais diferentes pontos de Portugal.

O senhor que se seguiu trouxe um conjunto de temas originalmente gravados por si, bem como versões de outros músicos. Considerado por alguns como o concerto mais emotivo do dia, a actuação de António Zambujo incluiu momentos de homenagem a músicos e valores estreitamente ligados ao espírito deste evento. Foi o caso de temas de Chico Buarque, do álbum Até pensei que fosse minha, mas também do cancioneiro alentejano e ainda de Zeca Afonso.

As emoções eventualmente acumuladas no concerto do intérprete do Pica do 7 foram certamente extravasadas pela generalidade dos que assistiram ao momento de alegria trazido por Amparanoia, o projecto musical da espanhola Amparo Sánchez. A música trazida por estes nuestros hermanos assume o formato de nova música de intervenção com sons da world music, plena de crítica social mas também de homenagem aos sonhadores e valentes assumidos como a sua gente. No que toca a entusiasmo e adesão do público, este terá sido o grande espectáculo do dia que culminou com o regresso do “pai do Rock português” a conduzir uma viagem pelos inúmeros sucessos da sua vasta carreira.

Rui Veloso, o cabeça de cartaz deste sábado esteve em palco com três vozes de apoio e oito instrumentistas que prolongaram a Festa num encontro demorado, obedecendo a um alinhamento que facilmente agradou à generalidade do público, muitos deles amigos de longa data, senão do músico, pelo menos das suas canções.

 

Edição de Daniela Azevedo

Carla Flores  

A repórter de guerra sonhada aos 10 anos deu lugar à professora de inglês que se dedicou a outras lutas, como a da promoção da leitura e a aquela coisa do "ah e tal, vamos lá mudar o mundo antes que ele nos mude!


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Mais sobre: Amparanoia, António Zambujo, Cacique '97, Dervish, João Gil, Maurizio Presidente, Newen Afrobeat, Regula, Stonebones & Bad Spaghetti


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