Billie Eilish – a jovem travessa que estamos a tentar entender

Billie Eilish – a jovem travessa que estamos a tentar entender

Na noite desta quarta-feira, dia 4 de setembro, Billie Eilish trouxe a sua turné mundial à Altice Arena, em Lisboa. A primeira parte esteve a cargo do rapper norte-americano MadeinTYO.

17 anos de idade, energia e milhares de fãs dedicados à sua espera. Foi assim que começámos a tentar descobrir que fenómeno é este que está a deixar os adolescentes completamente eufóricos, num misto de pico energético e o choro pulsante. Alguns pais tentaram acompanhá-los nesta noite quente. Outros viram-se a braços com o trânsito entupido no final para apanhar os seus teenagers.

O concerto faz parte da digressão de apoio a When We All Fall Asleep, Where Do We Go?, álbum de estreia da intrigante miúda norte-americana que tão depressa diz que quer mudar o mundo para melhor, como apresenta imagens de violência num imaginário de filme de terror durante a sua atuação, desprovida de bailarinos e das costumeiras e superficiais (acusarão alguns) trocas de roupa. Em palco vemos três ecrãs (um central, grande, e dois laterais).

A hora prevista para a subida ao palco da garota de cabelos verdes era 21h10. E assim foi, mais minuto menos minuto, numa receção destruidora de tímpanos. A magia começou com Bad Guy. O coro do público abafava-lhe por completo a voz. Aliás, assim foi durante praticamente toda a noite. Todas as letras, todas as palavras foram entoadas, dificultando a tarefa aos incautos que não sabiam nada daquilo de cor.

Como de costume, surge com um visual andrógino, calções largos e t-shirt largueirona também, com um “Taz” estampado. Diz que se veste assim porque não quer que percebam se é gorda ou magra. Com linhas mais redondas ou mais esguias, Billie Eilish provavelmente quebrará o recorde de Taylor Swift por ser a pessoa mais jovem a ganhar um Álbum do Ano nos Grammys – conquistado aos 18 anos, com um álbum que ela lançou aos 17 e gravou aos 16.

Um pouco mais à frente, silencia os exaltadíssimos ânimos para tentar concentrar-se antes de You Should See Me in a Crown. Ela tem um trejeito de ombros engraçado que faz muitas vezes. Um dos mais aspetos que mais facilmente nos agarra à sua música, é o facto de Billie não ter medo de se colar a qualquer género: navega entre o gótico e o metal, pisca o olho à eletrónica, faz umas ligeiras incursões pelo hip-hop e rende-se a momentos mais simples e orgânicos de que o género “alternativo” é apanágio. Tudo isso fica demonstrado nas seguintes Copycat, &burn, Idontwannebeyouanymore ou When I Was Older. Tudo sai do seu único álbum até ao momento, embora mais à frente se recorde o EP de estreia.

Em palco, com ela, está um baterista e o irmão mais velho, Finneas O’Connell, que “vai a todas”: teclados, guitarra e baixo. Eilish não fez extensas declarações mas foi manifestando o seu amor pelo público, explicando alguns gestos e coreografias que pretendia ver reproduzidas e repetindo o que já se sabe: “vocês são a melhor audiência do mundo!” – não somos sempre?

A comunidade LGBT não foi esquecida, como demonstrou na canção Wish You Were Gay. Um dos momentos mais “duros” do espetáculo acontece quando fala sobre os malefícios das drogas em Xanny. All the Good Girls Go to Hell também fez muita miudagem explodir, e por duas vezes, já que o videoclipe é o que abre o encore composto por dois temas apenas.

Bellyache, Ocean Eyes a par de Bad Boy (que abriu e fechou o concerto) são talvez os temas mais mainstream e conhecidos entre nós mas se calhar ela nem fica a saber disso, já que todos ficaram loucos a cantar todos os temas de t-o-d-o o concerto.

O momento alto da noite deu-se quando a cantora se sentou numa cama de ferro (que parece uma cama de hospital/manicómio) que se foi elevando. Sentadinha ao lado do irmão, que a acompanhou à guitarra, confessou-nos que a canção I Love You tinha sido composta pelos dois num ambiente parecido. Só que estavam num quarto às 2h00 a falar das angústias que, na fase de vida que ambos atravessam, ganham dimensões catastróficas e todo o adeus parece para sempre. Em fundo, uma lua e um céu estrelado acompanham os dois.

“You’re too good for me”, exclama depois de, sem surpresa, todo o desabafo I Love You ter sido cantado, de ponta a ponta, na íntegra pelos jovens todos do público.

“We love you”, gritam-lhe. “I love you more”, diz-nos. Admite, a seguir, que já não lhe restam muitas músicas mas ainda temos para ouvir When the Party’s Over e Bury a Friend.

Não é fácil para quem já está na faixa etária de “pai de adolescente” identificar-se com o fenómeno. Quando precisamos de nos sentir jovens talvez não seja a ela que vamos recorrer. Não, já não damos as mãos ao vizinho do lado só porque a onda generalizada é chanty chanty, não choramos porque a miúda declara amor ao irmão e não achamos lá grande piada a fogo que saia fora dos grelhadores de fim de semana. Mas se até Dave Grohl está rendido a ela porque não haveremos de gostar? A miúda faz-se e os seus milhões de seguidores parecem estar cá para a ver tornar-se numa cada vez maior cantora. Para muitos, esta terá sido a primeira fervorosa experiência do “ao vivo”. E inesquecível.

 

Fotos: D.R. Nuno Conceição
N.R.: Não nos foi possível fazer reportagem fotográfica neste concerto.

Daniela Azevedo  

Jornalista, curiosa sobre os media sociais, viciada em música, gosta da adrenalina do desporto motorizado. Amiga dos animais e apreciadora de dias de sol. Acha que a vida é melhor quando há discos de vinil e carros refrigerados a ar por perto.


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