A aldeia que é um festival ou o festival que é uma aldeia – o último dia de Bons Sons 2017
O quarto e último dia de Bons Sons começou calmo e contido e acabou com muito rock & roll e uma cem soldense a dançar em palco.
Para anunciar os vários nomes do cartaz desta edição do Bons Sons, a organização realizou vários vídeos (um por artista a apresentar) com os habitantes de Cem Soldos, à janela, a ouvir as músicas e descrevê-las, como que a convidar o público a vir ouvir aquele artista à aldeia. A senhora Maria José ficou responsável por apresentar os Octa Push, e disse mesmo que iria dançar a ouvi-los. Promessa essa que foi cumprida em palco, na Eira. A Cem Soldense Maria José, a dançar em palco com o duo – que ao vivo vira trio – de electrónica lusófona ficará sem dúvida como um dos momentos mais marcantes desta oitava edição. Mas antes desse final de noite no palco Eira, houve muito mais festa na aldeia.
Começou, como sempre, na igreja. O palco Música Portuguesa A Gostar Dela Própria (MPAGDP) recebeu primeiro música da região de Santarém, com os Sanct’Irene Ensemble, e depois a algarvia, com as Moçoilas. Já no coreto, Marco Luz e a sua guitarra, ora acústica ora eléctrica, foram banda sonora do início de tarde.
Enquanto os LST – Lisboa String Trio, formados por Bernardo Couto (guitarra portuguesa), José Peixoto (guitarra clássica) e Carlos Barreto (contrabaixo), apresentavam a sua homenagem a clássicos instrumentais no palco Tarde ao Sol, fomos até ao Auditório. O espaço, junto ao centro de saúde, albergou durante este último dia de festival duas mostras de curtas-metragens (trazidas pelo festival “Curtas em Flagrante”) e uma “autópsia de uma montagem” do próximo filme de Tiago Pereira. Já nos dias anteriores do festival, foi no auditório da aldeia onde se celebrou a pareceria do Bons Sons com a Materiais Diversos, uma associação cultural dedicada às artes performativas. À boleia desta colaboração, vieram apresentar-se ao auditório de Cem Soldos Ana Jezabel e António Torres (dia 11), Lander & Jonas (dia 12) e Carlota Lagido (dia 13). Neste último dia de certame assistimos a Tiago Pereira apresentar o processo de montagem da sua próxima longa metragem. “Os Cantadores de Paris” centra-se num grupo de actores de várias nacionalidades que, por culpa de uma peça, se iniciaram no cante alentejano e forte interesse do grupo pela região e sua canção fizeram com que Tiago Pereira os trouxesse ao Alentejo e filmasse o encontro com os cantadores. Na sessão, o realizador falou do processo de montagem – que ainda está a decorrer – e apresentou o filme que tem estreia marcada para o próximo doclisboa.
Regressámos à música logo depois para um final de tarde magnífico no palco Giacometti com Valter Lobo e as canções intensas do seu disco “Mediterrâneo”. Acompanhado por guitarra eléctrica, percussão e trompete, o músico proporcionou um concerto intimista e surpreendente. Não nos vamos esquecer deste nome.
Depois de uma tarde bem calma, foi à noite que a aldeia mais começou a mexer. Até porque durante o dia houve muito menos público pelo recinto do que nos anteriores, mas talvez o facto de ser segunda-feira seja explicação para tal. Foi já no lusco-fusco que todos se reuniram junto ao palco Lopes-Graça para receber Frankie Chavez, que começou por contar ser uma ambição antiga a de vir tocar a Cem Soldos. E pelos vistos também o público queria muito ver o músico, que trouxe o blues à aldeia, e julgando pela reacção, a aldeia gostou.
Continuando com guitarras eléctricas em punho, o rock aguerrido dos The Poppers fez-se soar de seguida, já no palco Eira. O experiente grupo liderado por Luís Raimundo apresentou o seu último disco “Lucifer” perante uma plateia interessada mas pouco entusiasmada, antes de Rodrigo Leão voltar a juntar gerações no público (agora já em grande número) no largo do Rossio. O músico apresentou-se com uma formação de oito elementos e Ana Vieira emprestou a voz para interpretar temas de toda a carreira de Rodrigo Leão, naquele que para muitos foi o último concerto do festival.
Não para todos, que muitos foram dançar ao som de Octa Push no palco Eira, com a senhora Maria José. Para quem quis adiar a despedida de Cem Soldos, houve clássicos dançáveis no palco Aguardela madrugada fora, pela mão de Rodrigo Affreixo.
Chegou então ao fim mais uma edição do Bons Sons, que este ano recebeu 32.500 visitantes ao longo dos quatro dias. Erguido por 350 voluntários (95 não cem soldenses), o festival contou com 41 concertos, 181 artistas, 15 actuações espontâneas no palco garagem e 14 actividades paralelas.