2º dia de Rock in Rio – Esta noite aconteceu mesmo? Belisquem-nos!
A 20 de maio o Parque da Bela Vista recebeu o segundo dia do Rock in Rio Lisboa 2016. Foi o dia dos “esses”: (S)amba, (S)ensualidade, (S)erpentinas e… (S)audade
Segundo dia de Rock in Rio e mais uma tarde abençoada pelo tão desejado calor primaveril a fazer todos os caminhos darem ao parque da Bela Vista.
Com o sol ainda alto e a fila gigante para a também roda gigante, no palco Vodafone (antigo Sunset) são os brasileiros Boogarins que vão dando as boas vindas a quem chega. Dinho é o vocalista desta banda de rock psicadélico e alternativo que vai gerando alguma curiosidade junto de quem anda à procura das novidades. Os aplausos não são muitos, dado que pouco passa das 20h00 e vários outros espetáculos estão a começar nos outros palcos mas ‘Infinu’, do álbum de estreia, “As Plantas que Curam”, de 2013, e o que os apresentou aos portugueses, gera reações entusiasmadas.
Ver as fotos de Boogarins no Rock in Rio 2016
Contudo, é no EDP Rock Street que o calor ganha outro significado com o sambinha bom de Mart’nália – a filha de Martinho da Vila e Anália Mendonça – que, além do seu próprio reportório, trouxe até ao Rock in Rio os temas mais emblemáticos da carreira do sambista que, mesmo dispensando qualquer apresentação, provocam uma boa reação junto do público.
Mart’nália não lança material novo desde que, em 2012, reuniu um punhado de amigos (só alguns dos mais bem-sucedidos músicos do Brasil), para lançar “Não Tente Compreender”. O disco conta com as colaborações de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Marisa Monte, Nando Reis, Adriana Calcanhotto, Lula Queiroga, Martinho da Vila e Paulinho Moska. Tudo dirigido por Djavan.
Ver as fotos de Martn’ália no Rock in Rio 2016
Ao musicfest.pt a cantora revelou que ainda este ano vai voltar a estúdio para gravar material inédito. Nestes seus originais pode, no entanto, haver “mão” portuguesa: «Quem sabe, é bem provável», disse-nos ela, antes do concerto, entre sorrisos e abraços que agradecem o carinho português.“Peço a Deus” é o tema que escolhe para abrir a sua atuação para a seguir piscar o olho ao atrevido ‘Cabide’, de 2006, do álbum “Menino do Rio”. “Namora Comigo” pede um chamego e a brasileira anuncia: «Vem aí um bailezinho para a gente namorar».
Fergie não é uma princesa pop
Mas se ali era tempo de acertar o passo de mãos dadas, no palco principal, Fergie dava os primeiros acordes. Fergie não pode bem ser considerada uma princesa pop; algo nela não encaixa nesse rótulo. A cantora é uma espécie de gata assanhada que está disposta a fazer de tudo para dar nas vistas. Botas de latex, body coladíssimo e apertadíssimo e ei-la a fazer todos os seus trejeitos atrevidos em ‘London Bridge’ e ‘Fergalicious’. É nesta altura que a americana se dirige ao público português para se mostrar feliz e super agradecida por aqui estar. É verdade que não é um concerto só seu mas também é verdade que Fergie se mostrou esforçada em dar que falar.
Enquanto troca de roupa para… outro body coleante, os ecrãs gigantes exibem a música nova ‘LA Love (la la)’ que deixou antever um bocadinho do álbum que aí vem.
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De seguida, a fazer lembrar uma Kim Wilde nos anos 80, ei-la de novo em palco agora numa atitude mais rock para cantar um medley com ‘Start me Up’, dos Rolling Stones, ‘Barracuda’ e ‘Love is Pain’. Já mais animado, o público entrou verdadeiramente no espírito dela quando chegou o momento dedicado aos Black Eyed Peas. E no Rock in Rio ouviram-se, já com a noite a cair, ‘My Humps’, ‘Rock That Body’ e… party, party, party.
Mika cantou fado no Rock in Rio Lisboa
Está tudo mais que preparado para outra festa: esta colorida, com algodão-doce, com arco-íris e muita alegria. Mika surge em palco envergando um tuxedo escuro com uma camisa branca que ganha particular destaque quando as luzes lhe incidem. Com uma infância e juventude marcadas por grandes momentos de dor e sofrimento, é incrível como este anglo-libanês consegue ser tão festeiro e contagiar toda a gente com essa panóplia de lápis de cor com que pinta a vida.
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‘Grace Kelly’, de 2007, é uma das cantigas que toda a minha gente cantarola e dá pulinhos, independentemente da idade ou estatuto. A música é mesmo muito divertida e tem continuidade em ‘Relax’, outro dos êxitos sobejamente conhecidos. ‘Underwater’, de 2012, remete-nos para um momento um pouco mais profundo. Não será por acaso que se começa a ver mais gente a sentar-se enquanto o artista nos conta que: «When I fall to my feet wearin’ my heart on my sleeve / All I see just don’t make sense / You are the port of my cal / You shot and leavin’ me raw». ‘Lolipop’, muito mais gira ao vivo do que no CD “Life in Cartoon Motion”, volta a fazer sentido para aquilo que esperávamos de Mika e eis que o inesperado acontece: Mika a cantar fado. A história que nos conta é a de que terá escrito o fado, em inglês, quando tinha 16 anos. Esta mistura-se com outra que envolve o estar um bocadinho “tocado” numa noite de fados. De referir que, no fim da atuação, o cantor foi ao backstage puxar para as luzes da ribalta a fadista Mariza que pareceu bastante surpreendida com o gesto.
Queen + Adam Lambert no Rock in Rio Lisboa 2016
Ele é Broadway, ele é brilho, ele tem momentos em que faz lembrar o próprio Freddie Mercury. Ou será só sugestão da noite? Afinal, os Queen com Adam Lambert nas vozes são os senhores que seguem.
Queen… Queen… que dizer de Queen? Que o repertório é tão vasto e tão forte, tão intenso, tão vibrante que resultaria fosse como fosse? É certo mas também seria de alguma injustiça não colocar no seu pedestal o cantor que, vencedor com larga margem de distinção do programa de talentos “American Idol” acabou por cruzar o seu jovem destino com o de uma banda que, apesar da fase cinzenta, sobreviveu mais anos sem Freddie Mercury do que com ele? Como os próprios cantam: ‘It’s a Kind of Magic’ mas que acontece, que resulta, que põe nós na garganta e uma vontade imensa de lhes bater por serem tão absurdamente bons e por nos fazerem lembrar que há saudades que, por mais que se tenha, lamente, chore ou ore, nunca vão atenuar. Ao contrário do que, por exemplo, aconteceu recentemente no concerto dos AC/DC, neste caso o espetáculo continua a ser brilhante não “apesar de Adam Lambert” mas “graças a Adam Lambert”. Isto, claro, desde que não se procurem semelhanças porque, para isso temos a banda de tributo God Save the Queen. Aqui a conversa é outra.
Foto: Agência Zero
Depois de uma primeira parte com canções menos conhecidas, a interação começa a aumentar com ‘Break Free’ e ‘Somebody to Love’. Depois vem ‘Love of My Life’ e o Twitter começa a encher-se de desabafos. É tramado mas o pior ainda estava para vir. Quando Roger Taylor assume o controlo do principal microfone de palco já suspeitamos que algo de importante se vai passar. Mas nada nos prepara para isto: ‘Days of Our Lives’ (those were), cantado com um sentimento tão profundo, tão escondido, que ali nos é completamente exposto pelo baterista, como se estivesse a ter uma conversa sentida com o falecido Freddie Mercury. Os ecrãs enchem-se de fotos; umas mais icónicas, outras menos conhecidas mas Freddie Mercury, o vocalista original, está ali. Curiosamente, esta é das canções musicalmente mais simples de todo o catálogo dos Queen e o seu videoclipe foi o último com Freddie Mercury, já visivelmente abatido. Temos direito a ‘Under Pressure’, ‘Crazy Little Thing’, ‘Don’t Stop Me Know’ e ‘Another One Bites the Dust’ para descontrair e animar.
Tanto o baterista como o guitarrista Brian May estão com cabelos grisalhos mas assentam-lhes bem e Brian May decide abordar os fãs de forma muito simpática, a ler umas notas em português, e preparado para captar umas imagens com o seu “selfie stick”. Tudo antes de um solo de guitarra, elevado numa plataforma que o põe ao nível do astro-rei, pois é precisamente um enorme círculo de luz, multi-colorido e cuja harmonia cromática se vai alterando, que o contorna. Lá no meio, mais fumos e feixes de lasers tornam tudo ainda mais fora deste planeta. É claramente um momento em que todos desejávamos ter ali à mão uma máquina fotográfica profissional nem que fosse para tirar aquela “última” fotografia. Há aldeias portuguesas inteiras, à hora do jantar, com menos luz do que aquela que apontava para o guitarrista.
E antes que as luzes se apaguem, Adam Lambert ressurge numa indumentária a fazer lembrar George Michael nos anos 80: um bomber jacket com palmeiras estampadas e óculos escuros a condizer com o momento. As grandes ficaram para o fim: ‘Tie Your Mother Down’, ‘Show Must Go On’ e ‘Bohemian Rhapsody’. O fato ainda muda antes do final com ‘Radio Gaga’, ‘We Will Rock You’ e ‘We Are The Champions’.
Esta noite aconteceu mesmo? Belisquem-nos. Ou então não, porque é bom demais este lugar chamado Queen.