Who the F*ck is Zé Pedro? – o tributo na 24ª edição do SBSR
Vinte e quatro anos depois eis-nos no Parque das Nações para usufruir de mais um SBSR. O caminho deste festival inclui várias mudanças e, também, momentos inesquecíveis. A noite de ontem irá certamente fazer parte desses momentos because Zé Pedro.
London calling
Corria o ano de 1977 e os Clash num festival punk, em Mont de Marsan. Zé Pedro foi até lá onde ouviu Clash e tantas outras bandas que marcaram a sua vida, enquanto músico. Em memória desse momento, o concerto de ontem abriu com London Calling. Seguiu-se Submissão, pela voz de Tó Trips, que voltaria ao palco mais tarde, com os Ladrões do Tempo, com Mora na Filosofia e Rua.
Rui Reininho e João Pedro Pais prestaram a sua homenagem ao amigo Zé Pedro com Morremos a Rir e És do Mundo, respectivamente. O tema de João Pedro Pais foi escrito para o amigo, que tanto admirava, algures em 2017. Era visível a emoção nos olhos do cantar português. Por muito que este fosse um concerto de celebração, de festa, a verdade é que todos gostaríamos que o Zé Pedro estivesse connosco.
O público presente numa Altice Arena a meio gás cantou, ergueu os braços, aplaudiu e entregou-se neste tributo que foi simples, honesto e bonito. Tomás Wallenstein trouxe consigo a Morte Lenta, na companhia de António Colaço, sobrinho de Zé Pedro. Sublinhamos as palavras de Carlão ao dizer que não foi possível ter ali todos os músicos que gostavam de prestar homenagem ao Zé Pedro: para isso seriam precisos três dias de festival. Manel Cruz trouxe consigo o Circo de Feras e Manuela Azevedo contou-nos histórias e cantou com Tim que descreveu a presença de Manuela como “a participação mais amorosa de todo o concerto”.
Seguiu-se Paulo Gonzo com Aperta um pouco mais, os Ladrões do Tempo (Tó Trips, Samuel Palitos, Dony Bettencourt e Paulo Franco) e o Palma’s Gang. Jorge Palma viajou até ao Johnny Guitar, na companhia de Flak, Kalu e Alex Cortez com Picado pelas Abelhas e Portugal Portugal. Durante todo o concerto fomos vendo imagens nos écrans e assim foi possível recordar o sorriso do Zé Pedro. E que sorriso.
Este concerto foi um desafio lançado pelo festival. Zé Pedro participou inúmeras vezes no SBSR, com os Xutos & Pontapés, mas também como DJ. Em 2014 esteve presente para uma homenagem a Lou Reed. A direcção artística esteve a cargo de Fred Ferreira, filho de Kalu e músico que conhecemos de projectos como Orelha Negra.
“O Zé Pedro somos nós!”
O músico era padrinho da Associação Encontrar+se/Movimento Unidos para Ajudar. No recinto do festival é possível adquirir uma t-shirt com a fotografia de Zé Pedro envergando a t-shirt com a frase Who the fuck is Mick Jagger?. O autor da fotografia, Carlos Ramos, cedeu os direitos da imagem para a causa: a t-shirt custa 18 euros e 10 revertem a favor da Associação.
Além dos nomes já referidos, pelo palco passaram o filho do mítico Cabeleira, Joel; os filhos de Tim, Sebastião e Vicente Santos; o filho do saxofonista Gui, João Nascimento; o sobrinho de Kalu, Marco Nunes; e ainda, Nuno Espírito Santo.
Este concerto foi uma viagem pela vida do Zé Pedro e pela sua música e, ao mesmo tempo, uma viagem pela música portuguesa e pelas vidas de todos nós. Os Xutos são aquela banda que se vê uma e outra vez ao vivo, cantando as músicas de uma ponta à outra, de braços erguidos e cruzados. E é sempre bom. A melhor homenagem que a banda pode fazer ao Zé Pedro é continuar a subir ao palco. O tributo terminou com os Xutos em palco e com palavras emocionados do Tim: “O Zé Pedro somos nós”. Todos os convidados deste concerto especial subiram ao palco e cantaram Não sou o único.
O Zé Pedro era um gajo do caraças.