? Voltámos ao sobe e desce da Avenida – os artistas internacionais no Vodafone Mexefest 2017
O musicfest.pt muniu-se de duas equipas, uma dedicada aos artistas internacionais e outra ao que de melhor se faz no nosso país e lá fomos nós bater pé para a Avenida em mais um Vodafone Mexefest. Sem chuva, aquecidos com uma ou outra imperial, aqui fica o que melhor se viu, e ouviu, do panorama internacional.
Comecemos por explicar que existem duas estratégias, igualmente válidas, para o Mexefest. A primeira é simplesmente ir. Ir sem regras, sem horários estudados e descobrir no próprio dia o que os 14 palcos têm para nos oferecer (estratégia que provavelmente rende muito bons achados musicais). A segunda é a nossa estratégia. Sair de casa já com o line up analisado, com o cálculo de distância entre palcos feito e subsequente estimativa das horas a que temos de deixar aquele concerto que está a ser muito bom para chegarmos a tempo do outro que provavelmente também o vai ser.
Este ano não fomos excessivamente ambiciosos. Para o primeiro dia do festival, 24 de Novembro, IAMDDB, Songhoy Blues e Destroyer eram os nossos nomes internacionais que tínhamos “mesmo” de ver. Para sábado, Cigarettes After Sex, Childhood e Sevdaliza. Tudo o resto seria muito bem-vindo.
Sexta feira, 24 de Novembro
O cineteatro Capitólio, sala que primou pelo hip-hop, foi o nosso ponto de partida para mais uma edição esgotada do Vodafone Mexefest.
“I Am Diana De Brito”, ou IAMDDB como a conhecemos, é inglesa, é portuguesa e é angolana. Sim, ela encaixa-se em todas as nacionalidades. A cantora vinda de Manchester, como o sotaque não deixa enganar, não pisava Lisboa desde os 5 anos de idade. O regresso a casa não podia ter sido feito de melhor forma, com o Capitólio cheio para a ver a nova miúda do neo-soul com cheirinho a trap. Entre negociações com o público sobre o que se queria ouvir tivemos Shade com convite ao público para se juntar em palco e deu-se vida (e cheiro) a Dripcity “Maybe you can roll with me/ Maybe I might let you roll my weed”. Entre muita conversa com o público e umas boas incursões na língua de Camões, IAMDDB confessou-se sentir-se entre família. Venha mais Diana que estamos prontos para a voltar a receber.
Ainda no Capitólio, Oddisee foi o senhor que se seguiu. Desconstruam a ideia que possam ter do hip-hop. Esqueçam a ideia de bling bling, espalhafato e ostentação. O rapper de Washington DC, Amir Mohamed el Khalifa, ou Oddisee, chegou, mostrou o que vale (e vale muito) e sabemos que o que vimos não só foi bom, como foi real e puro. O rapper trouxe-nos o último álbum Iceberg mas engane-se quem ache que é um novato, já cá anda desde 2008. Merece a ribalta mas, ironicamente, talvez seja puro demais para a indústria.
Avenida abaixo, seguimos para o Mali. Sim, porque durante uma hora a Casa do Alentejo foi invadida pelo clima árido e tropical da África Ocidental. É difícil não gostarmos dos Songhoy Blues. Tentem encontrar alguém que não goste. Esta foi a 3ª vez dos malianos em Portugal e as filas que se prolongavam até às portas do Coliseu confirmaram que a sala foi demasiado pequena para receber a multidão que os esperava. “Já foram ao deserto? Vamos levar-vos ao Sahara”. O quarteto maliano, já com dois álbuns editados, é contagiante ao ponto de não deixar ninguém parado e de conseguir espetar um sorriso na cara de qualquer um. Os Songhoy Blues são uma prova de superação, amor e resiliência, a prova viva de que a música move mundos.
Da Casa do Alentejo fomos para o vizinho Coliseu dos Recreios para os já experientes Destroyer. A banda canadiana trouxe o recém-editado ken mas eram sobretudo os temas de Kaputt que se queriam ouvir num Coliseu que esteve bem recheado para os receber. Dan Bejar, o vocalista que nos conseguiu habituar à sua aparente indiferença fez-se acompanhar por mais 7 elementos em palco, desde saxofone ao piano. Ainda não conseguimos encontrar um género musical único para encaixar os Destroyer, é uma certeza. Temos outra, Dan Bejar gosta tanto ou mais de Super Bock do que nós.
Meio em hipnose pós-Destroyer seguimos para a Estação do Rossio para sacudir desassossegos e acabar a noite com as madrilenas Hinds. Como boas vizinhas, as espanholas voltaram a visitar Portugal e trouxeram-nos a festa que precisávamos para acabar a noite com o mood em alta, com destaque para os temas do álbum Leave Me Alone de 2016. Para quem ainda não as viu, tentem Peniche, costumam lá ir apanhar umas ondas.
Sábado, 25 de Novembro
Bifana e imperial no papo. Vamos ao segundo dia.
Voltámos ao nosso starting point oficial, o Capitólio, a tempo de apanhar o novaiorquino CJ Fly fundador do grupo Pro Era. Charles Downer Jr trouxe o seu álbum Flytrap lançado em 2016, arranhou o português e foi convertendo quem estava de pé assente no Capitólio. Em menos de nada estavam todos a proclamar “Nothing can fuck up my day” em uníssono e de mãos no ar. Uma boa lufada de ar fresco no hip-hop de Brooklyn.
Das rimas do East Side saltámos para o Texas (disfarçado na forma de Coliseu dos Recreios) para receber os Cigarettes After Sex, um dos nomes mais aguardados do festival. Esta foi a terceira passagem por terras lusas da banda de Greg Gonzalez, mas deixaram-nos agarrados desde o Vodafone Paredes de Coura. Uma hora de absorção num sentimento de misantropia e dileção simultâneas, motivadas pela voz de Greg em temas como Affection ou Apocalypse. Têm os portugueses na mão.
A espiral melancólica precisava de um boost e foi na Estação do Rossio que o encontrámos com os ingleses Childhood. São a confirmação de que ainda existe um largo espaço para boas bandas no panorama indie rock britânico. Temas como Blue Velvet ou Californian Light já andavam a ser cantaroladas por muitos, só ainda não sabiam que pertenciam aos Childhood. Leves, trouxeram a sua sinuosidade dos anos 70 até Lisboa para a sua primeira atuação em Portugal. Apostamos que nos reencontramos muito em breve.
Os Everything Everything foram os ingleses que se seguiram. Já cá andam desde 2007 e Portugal tem sido local de paragem ocasional. Para o Vodafone Mexefest voltaram a pisar o Coliseu dos Recreios e trouxeram o recém-editado A Fever Dream. Dentro do pop eletrónico são frenéticos, expansivos e imensamente dinâmicos em palco mas no Mexefest acabaram por funcionar como uma paragem rápida entre concertos.
Para terminar a segunda e última noite do festival escolhemos a iraniana-holandesa Sevdaliza. Há muito que a sala Manoel de Oliveira enchera e a fila à porta do cinema São Jorge roçava o absurdo, tal era a extensão. Quem fez questão de guardar lugar com antecedência é conhecedor da potencialidade da cantora. Sevdaliza não reflete um género musical, vai do R&B ao trip hop. É sensual sem ser vulgar e sabe usá-lo na sua arte que tanto se apoia na dança contemporânea como em elementos visuais. Como artista independente, trouxe o álbum Ison e teve o São Jorge completamente rendido e absorto, perdemos conta ao número de ovações em pé.
Voltamo-nos a encontrar na próxima edição do Vodafone Mexefest?
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