Foi uma missa dos diabos – Chariots of Fire European Tour em Lisboa

Foi uma missa dos diabos - Chariots of Fire European Tour em Lisboa

O Lisboa ao Vivo encheu-se para receber a Chariots of Fire European Tour que junta alguns dos maiores nomes do black metal atual. Foi noite de devoção ao Senhor das Trevas com direito a banhos de sangue, fogo, enxofre e, claro, blasfémia.

Quando o excêntrico, misterioso e assustador Erik Danielson cumpre o seu ritual de despedida, junto do altar Satânico colocado no centro do palco já pouco resta de um público que recebeu os Watain de braços e peito abertos. Eram corpos dilacerados pelo black metal urgente, mordaz e misantropo deste coletivo que, ao longo dos últimos 24 anos, tem passado a mensagem das Trevas como nenhuma outra. Não há nada de bonito neste quinteto, tudo tem a pretensão de ser bruto, assustador e, claro, pujante. O palco transformou-se numa ode ao macabro, onde não faltou fogo «a dar com um pau», não faltou o sal, não faltou o medo. A música destes suecos é para ser vivida no extremo, com o extremo que reivindicam. Muito mais que satânicos, ou o que quer que seja, os suecos são uma banda de estética e visualmente a banda dá tudo em cima de um palco e transporta essa energia para os acólitos que, com “mosh” repetidos, recebem aquela dose como se fosse a última dádiva para um qualquer ser superior. Os Watain estão em grande força e num grande momento.

Watain

Watain

Watain

Watain

Abbath, poderia estar um texto inteiro a falar deste senhor com uma carreira (quase) imaculada e que já vai longa. Se nos últimos anos a carreira do músico extravasou a música, o experiente norueguês conseguiu dar a volta por cima e a prova disso mesmo foi a forma como, em cima do palco e com um conjunto de músicos de elevada qualidade, deu (a) vida aos seus temas clássicos enquanto serpenteava pelo mais rente Dread Reaver. Talvez a maior qualidade do norueguês, além de ser um exímio compositor e guitarrista, seja a forma como se expõe ao ridículo sem nunca deixar de ser «evil». Abbath foi um pesadelo fofinho.

Abbath

Abbath

Tribulation

Tribulation

De todas as bandas neste cartaz de luxo, aquela que menos mal poderia falar veio da Suécia e com o nome Tribulation. De cara pintada (como aliás era “dress code da noite), o quarteto desfilou um manjar dos deuses com os seus temas que tanto vão beber ao cálice de Satanás, como ao do Gótico. Ritmos que colocaram o LAV a dançar, cabelos a fugir da cabeça e, claro, grandes temas. Poderiam não ser a banda da noite, mas sem estes suecos a noite teria sido feita de muito enxofre e pouca água benta. Tudo fez sentido, respirar os ritmos pesados e cadenciados da banda foi um elixir de efeitos duradouros.

A abrir as hostes a dupla Bølzer, vinda da Suíça, cumpriu o seu papel de receber os acólitos. Cedo se percebeu que a banda sabia o papel que ocupa no cartaz, mas isso não os esmoreceu. É certo que o facto de serem a banda menos conhecida do cartaz e de ter apenas um LP (e mais alguns lançamentos menores) ajudou a que a prestação fosse limitada, isto aliado ao facto de, sendo uma dupla, se limitarem também em termos de atuação. Contudo a banda fez das fraquezas forças e deu um bom concerto, sem magoar nem prejudicar ninguém. Nem mesmo a eles.

Numa noite em que tudo roçou a perfeição fica uma nota positiva e outra negativa. Positivo: a pontualidade de todos os concertos! (deveria ser sempre assim!) Negativo: o som demasiado alto em todas as atuações; não havia necessidade. De resto, esta foi uma missa às trevas. Hail Satan.

Agradecimento especial a Jorge Botas pela cedência das imagens.

Nuno C. Lopes  

Melómano convicto, dedicado ás sonoridades mais pesadas. Fotógrafo, redactor, criativo. Acredita que a palavra é uma arma. Apesar de tudo, até é boa pessoa.


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Mais sobre: Abbath, Bölzer, Tribulation, Watain

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