Uma feliz melancolia, o regresso dos Tindersticks

Uma feliz melancolia, o regresso dos Tindersticks

De regresso a Portugal para uma série de cinco concertos integrados na digressão de No Treasure But Hope, editado em 2019, os britânicos Tindersticks apresentaram-se no passado dia 18 na sala onde há cerca de vinte e cinco anos se estrearam no nosso país.

Após um primeiro concerto na cidade de Faro, a banda liderada por Stuart A. Staples encontrou-se com os lisboetas numa Aula Magna esgotada, depois de em 2016 ter trazido The Waiting Room a alguns milhares de admiradores há muito conscientes do que podem esperar da banda de Nottingham.

Com cerca de vinte minutos de atraso e após ouvirmos A Street Walker’s Carol em fundo, a subida ao palco fez-se com Running Wild, de Waiting for the Moon, editado em 2003, desde logo a arrancar um forte aplauso da plateia. Seguir-se-ia The Amputees, um dos temas fortes do mais recente trabalho. Segue-se a visita ao penúltimo álbum da banda com Second Chance Man e How He Entered, com Stuart Staples a mostrar-se mais que cantor, um ‘dizedor’ / contador de histórias de excelência.

Neste ponto poder-se-ia pensar que a noite se faria de revivalismo, mas a verdade é que se o tom do seu reportório se caracteriza muito pela nostalgia, apesar dos quase trinta anos de carreira a banda mostra uma vitalidade que dispensa espectáculos ao estilo “Best of”. Do alinhamento de vinte músicas tocadas ao vivo, nove fazem parte de No Treasure But Hope.

Contudo, embora um pouco menos sombrios e muito, muito mais sóbrios, os Tindersticks continuam iguais a si mesmos. Staples assume o papel central com uma gestualidade contida contrastante com a imensa energia da sua voz. A sua figura imponente com a mão esquerda quase sempre pousada na zona da cintura e o pé direito a marcar a cadência musical continuam a funcionar como primeiro cartão de visita de uma banda que consegue o casamento perfeito entre palavras e música com arranjos harmoniosos, porém fortes, dispensando muitos artifícios técnicos.

Enquanto na plateia o concerto é seguido num silêncio contemplativo só interrompido pelas palmas, em palco o diálogo entre Staples, David Boulter, Neil Fraser, Dan McKinna e Earl Harvin Jr faz-se de música e olhares cúmplices. As palavras, para além das letras das canções, viriam só mais tarde com o vocalista a agradecer a Lisboa ou relembrando o primeiro concerto, num tempo em que estariam bem menos sóbrios.

Pinky in the Daylight, o oitavo tema interpretado, é acolhido com um super-aplauso, e mostra que a luz do Mediterrâneo também assenta muito bem a estes rapazes cuja obra tem sido fortemente marcada pela melancolia.

Associamos tal facto, naturalmente, à mudança de hábitos e de paragens – Stuart Staples vive agora em Ítaca, naquela que foi publicamente assumida como a década mais feliz da banda. Assim, não nos surpreende que temas como Caroussel convivam com Tough Love ou que após a saída de palco com For the Beauty, a banda voltasse com o encantatório A Night So Still e fechasse o espectáculo com um excelente conselho: Take Care in Your Dreams.

 

Fonte: Press Release


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