Uma aldeia recheada de Coisas Bunitas – o segundo dia de Bons Sons 2018
À segunda noite de festa em Cem Soldos a singularidade de João Afonso, o poderio de Mazgani, as Coisas Bunitas de Sara Tavares e a electrónica de Mirror People centraram as atenções. Antes, S. Pedro e Tomara assinaram dois dos mais especiais concertos de toda esta edição.
Para quem é repetente nestas visitas anuais a Cem Soldos (como esta que vos escreve), há um certo ambiente clássico Bons Sons que é imediatamente reconhecível. Está lá sempre, claro, mas há momentos em que se revela em todo o seu esplendor, naquela combinação única entre a disposição do público, a música que vem do palco e uma certa aura que paira. Não dá para explicar, mas essa característica singular que faz do Bons Sons tão especial esteve muito presente nos dois concertos que o palco Giacometti recebeu esta sexta-feira.
Ainda com O Fim na bagagem, S. Pedro ofereceu os seus temas de melodia viciante a uma plateia muito conhecedora. O sol da tarde podia estar bem forte mas o muito público que se juntou no largo de S. Pedro (sim, S. Pedro tocou no largo S. Pedro, claro) não se deixou afectar e acompanhou fielmente canções como Joaquim, CBDV, Será? e, especialmente, Apanhar Sol. A mais recente canção do ex-doismileoito teve direito a bis e um quase moche. Se era caso para isso? Claro que não, mas uma melodia animada feliz ao calor da tarde quando se junta à atmosfera Bons Sons gera estes momentos felizes, é impossível ficar indiferente. Como ninguém ficou indiferente à celebração do amor (já dissemos que o slogan desta edição remete para amores de verão?) que foi o concerto de Tomara. Filipe Cunha Monteiro trouxe um dos discos nacionais mais aclamados do ano que passou, e as canções de Favourite Ghost encaixaram na perfeição no final de tarde melancólico junto ao palco Giacometti. A participação de Márcia em House não deixa de ser o ponto alto, mas temas como Coffee and Toast, For No Reason ou Hope For The Best foram muitíssimo bem recebidas por uma plateia que soube acalmar e respirar fundo. Coisas rara nos festivais de hoje em dia, coisa normal em Cem Soldos.
Normal em Cem Soldos é também aprender novas danças e palavras. Depois da hora de jantar, no palco Lopes-Graça, a aula foi de Sara Tavares. A voz de Balancé trouxe os temas do último disco Fitxadu e espalhou o Bom Feeling pelo largo principal da aldeia. Houve pedido de casamento em Coisas Bunitas, danças improvisadas, palavras em crioulo entoadas em coro e muitos sorrisos na plateia. A beleza da voz de Sara, a alta competência da sua banda e o embalo ora aconchegante ora exigente (a certa altura entrou o funaná em cena e ninguém consegue ficar parado – e ao ver João Gomes nas teclas só nos ocorre que Fogo Fogo no Bons Sons vai ter de acontecer) dos temas vai proporcionando um início de noite feliz em Cem Soldos. Que bom é ter Sara Tavares de volta, que bom que Cem Soldos cresça aos sons da lusofonia e que bom estarmos todos a celebrá-los.
A guitarra de Norberto Lobo, a mescla de João Afonso, a incrível voz de Mazgani, o psicadelismo de 10 000 Russos, a electrónica de Mirror People e a festa de António Bastos
Mas muito mais aconteceu na aldeia esta sexta-feira. Ainda durante a tarde, Norberto Lobo (ver fotos) apresentou composições à guitarra no palco Amália, mesmo palco onde mais tarde João Afonso juntou muita gente para cantarolar os seus temas que tão bem misturam tradição portuguesa com africana. No palco principal do certame, Mazgani trouxe os temas do último disco The Poet’s Death e a sua magnífica voz. Já no palco Zeca Afonso as estrelas foram os 10 000 Russos e o seu shoegaze psicadélico qb e a electrónica viciante de Rui Maria (aka Mirror People). A noite fechou no palco Aguardela com António Bastos e os seus mestres de cerimónia.
O terceiro dia de Bons Sons conta com Zeca Medeiros, Sean Riley & The Slowriders, PAUS, Cais Sodré Funk Connection, Conan Osíris e muito mais.