Trêsporcento, o quinteto do momento
«Um é engenheiro do ambiente, o outro é jornalista. Hoje em dia ninguém vive só da música» ouvia-se entre conversas de quem esperava ansiosamente pela actuação dos Trêsporcento ontem à noite no MUSICBOX.
Quando deram o primeiro concerto há sete anos ninguém sabia o que estavam a fazer. Em 2009 criaram o primeiro EP Trêsporcento, mas foi em 2011 que lançaram o primeiro disco Hora Extraordinária. O single «Elefantes Azuis» fez tanto sucesso que a primeira edição do álbum esgotou em todas as lojas. Depois de editarem o último disco Quadro em 2012, decidiram gravar ao vivo o projecto Lotação 136. O espectáculo foi limitado a 136 pessoas e o cenário natural da Sala Vermelha do Teatro Aberto fizeram do ambiente perfeito para este trabalho dos Trêsporcento, resultando na cumplicidade com o público que tanto procuravam.
Ontem à noite a sala do MUSICBOX encheu. Capitão Capitão fizeram as honras da casa e quando já passava da meia noite o quinteto Trêsporcento subiu ao palco no seu jeito meio beto, meio descontraído. «És mais sede» foi o arranque perfeito para marcar a grande cumplicidade e proximidade para com o público. As músicas «Cidade» e «Elefantes Azuis», primeiro single da noite, apresentaram-se numa renovada dose de adrenalina ao vivo para se ouvir numa casa lotada. Os sons minuciosamente trabalhados parecem mais cheios e preenchidos de guitarras que são a grande alma deste trabalho, sempre acompanhadas por uma bateria incansável. Seguiram-se as músicas «Pinheiros na Rússia», «Desgoverno» e «Olhos brilharam», mas foi a balada mais calma da noite que nos mostrou o que são «Genes» e nos transportou para um momento mais calmo e sóbrio a fim de descansar para a pujança da música «Dás a mão que não sentes», uma mistura de indie rock romântico do bom, lírica e instrumentalmente. O ritmo certo para cantarem a deslumbrante «Cascatas», onde um palco de guitarras se rasga por entre as vozes de quem cantou e se fez ouvir. «Espero» e «Quero que sejas minha» são as grandes músicas deste projecto, renovadas, mais sonantes e trabalhadas com um ritmo rock que se abre e conquista o território merecido junto do público, ganha uma velocidade perfeita porque a letra assim o exige – quero que sejas minha mesmo não sendo, quero-te a ti mesmo não querendo. «Espero»é a música preferida do grupo e ganha ao vivo a emoção redobrada e especial com uma viagem alargada pela melodia. Para finalizar o concerto que serviu de apresentação do tão aguardado trabalho, fomos presenteados com as músicas «Lotão 136», «Veludo» e «Grande Mentiroso» escrita por quem fez as honras da casa, Capitão Capitão.
Os Trêsporcento são António Moura (bateria), Lourenço Cordeiro (guitarra), Pedro Pedro (guitarra), Tiago Esteves (voz e guitarra) e Salvador Carvalho (baixo), um quinteto que conta histórias, narrativas urbanas misturadas em ritmos dançáveis num estilo entre o indie rock e a new wave. A intimidade e misticismo que cresce ao longo das músicas reforça a cadência e a transformação da paisagem urbana e exterior em territórios interiores e íntimos entre o patamar do palco e do público.