À terceira foi mesmo de vez – Eagles of Death Metal no Coliseu de Lisboa
Um concerto adiado após o trágico atentado no Bataclan, um segundo concerto reagendado por lesão de Jesse Hughes e uma terceira data marcada para o fatídico dia 11 de Setembro. Estava “enguiçado” este concerto!
Os norte-americanos Eagles of Death Metal (EODM) não são novidade entre os cartazes de festivais portugueses. Entre Paredes de Coura e Optimus Alive já deram o ar da sua graça por diversas vezes mas a verdade é que já tínhamos saudades, afinal de contas tivemos de esperar 7 anos pelo seu regresso.
Depois de verem a sua digressão europeia interrompida na fatídica noite de 13 de novembro de 2015, quando 89 pessoas perderam a vida na sala de espetáculos Bataclan, um dos espaços atingidos pelos ataques terroristas em Paris, os Eagles of Death Metal decidiram anunciar o seu regresso à estrada, com a renomeada The Nos Amis Tour iniciando a 2ª parte da sua digressão precisamente na cidade onde foram forçados a terminá-la, Paris. O concerto de Lisboa foi assim reagendado para o dia 5 de março mas, por força das circunstâncias, esse mesmo concerto viria a ser cancelado por lesão do motor da banda, Jesse Hughes.
Ainda assim, nós fomos crentes, eles também, novo reagendamento para a noite de 11 de Setembro de 2016 e à terceira foi mesmo de vez.
A primeira parte da noite ficou a cargo da banda austríaca White Miles de Medina Rekic e Hansjörg Loferer. Tiveram exatamente 40 minutos para se darem a conhecer ao público português que, sem muito esforço, se entregou à energia da dupla enquanto o Coliseu de Lisboa se ia compondo para os senhores da noite que, por sua vez, foram apreciando os White Miles do cantinho do palco como pais orgulhosos.
Pouco depois das 22h, Jesse Hughes ou, para os amigos, Boots Electric, com o seu casaco em jeito de homenagem a Bowie, juntamente com Dave Catching, Matt McJunkins, Eden Galindo e Jorma Vik (sem surpresas Josh Homme não se juntou à banda) subiram ao palco ao som de Magic dos Pilot e foi o que bastou para embalar Hughes numa onda de distribuição de beijos e cumprimentos pelo público.
Temos tendência a gostar de contadores de histórias e Jesse Hughes continua exímio nessa arte. Praticamente cada música da setlist do concerto mereceu um pequeno conto como acompanhamento. Desde o reconhecimento das qualidades da cocaína, à metade portuguesa de Eden Galindo (a boa metade!), às histórias escondidas no diário de Dave Catching, o filho bastardo de Homme, e fadas azuis avantajadas, o público ouviu, riu-se e foi pedindo mais e mais.
Os EODM regressaram a Portugal para nos apresentar o seu mais recente álbum Zipper Down, lançado em 2015. Do último álbum trouxeram, entre outras, Complexity, a cover Save a Prayer dos Duran Duran e Oh Girl. Já de álbuns anteriores trouxeram I Only Want You, Wannabe in L.A., I Want You So Hard (Boy’s Bad News), Cherry Cola, I Got a Feelin (Just Nineteen), todas bem conhecidas pelo público.
Os eventos de Paris não foram esquecidos e Hughes fez questão de referi-lo quando se dirigiu ao fosso e apresentou ao público algumas pessoas “muito especiais” que estiveram presentes no Bataclan, entre eles os próprios White Miles. Foi este o mote para se ouvir e cantar em uníssono “I Love You All the Time”.
Entre vários “Amen” e “I love you motherfuckers so much” Hughes foi-se desdobrando em elogios ao público português, usou e abusou do “Obrigado” dizendo que se sentia seguro e entre amigos, e lembrando-nos que só poderiam ter escolhido Portugal para acabar a digressão em grande estilo.
Soube bem ver as águias de volta ao ativo. Contagiados, ou não, por todo o ambiente de partilha que se gerou no Coliseu de Lisboa, foi difícil não sair de sorriso na cara.
Fotos: Everything is New / Alexandre Antunes