23 Mar 2018 a 24 Mar 2018

Super Bock Under Fest mas over the top – a reportagem no primeiro dia

Super Bock Under Fest mas over the top - a reportagem no primeiro dia

A primeira edição do Super Bock Under Fest arrancou no passado dia 23 de Março, na cidade de Vigo, Espanha. O certame galego, co-produzido pela portuguesa Ritmos (Vodafone Paredes de Coura, NOS Primavera Sound, Festival Para Gente Sentada), convida a uma ronda de clubes nocturnos da cidade, maioritariamente concentrados no bairro adjacente ao Museu de Arte Contemporânea.

São dois dias de concertos em 10 salas singulares de ambiente underground, kitsch ou retro. Retirando da equação o Auditório Mar de Vigo que recebe os cabeças de cartaz, como Benjamin Clementine ou Slowdive, no concerto de abertura.

As salas, porta a porta umas com as outras, proporcionam um ambiente vibrante de entra e sai onde se juntam pequenas multidões em contacto próximo e directo com as bandas. Uma fusão de partilhas que culmina em concertos íntimos e participativos que raramente encontramos em grandes eventos.

A primeira noite arrancou com bandas espanholas a actuar pelas ruas da cidade em concertos programados e, alguns, surpresa, para ir aquecendo e fazendo esquecer o frio e a chuva determinados a ficar para ver.

Os destaques foram, notoriamente, para bandas como os Argentinos Capsula, sediados em Bilbao há 20 anos, que trouxeram o seu punk à Richard Hell com toques de glam e muito Cramps à mistura. Uma performance exuberante e animalesca, como se quer, e espera, deste género de som que nos transporta para a rebeldia e intervenção das bandas dos anos 60/70. Martin Guevara e Coni Duchess deixaram o La Iguana Club a suar das paredes cobertas de pinturas de pinups gritando “En el principio la mujer era el diablo“.

A sala Masterclub apresentou o primeiro momento de electrónica do Festival, com o ambient techno e IDM de Joshua Eustis, o músico que compunha o duo Telefon Tel Aviv com o falecido Charles Cooper e que mantém o projecto até aos dias de hoje, desde a morte de Charles em 2009. Eustis, que integra, ao vivo, a formação do Nine Inch Nails, encheu mais outro venue, bastante semelhante ao Plano B, no Porto, com uma electrónica desconcertante de público fiel que se mostrou entusiasmado até ao fim.

Ao abandonar o Masterclub e a sua vibe de rua cavernosa, subimos o beco íngreme e somos devolvidos à cidade de prédios imponentes, e seguimos para os Toulouse. A banda portuguesa, de Guimarães, que trouxe a Vigo o indie rock, ou o smooth punk como descrevem  no seu Facebook, a um dos bares mais kitsch da cidade. Não há como não ficar de boca aberta ao entrar no Mogambo. Das onças e tigres de loiça às bolas de espelhos, ao tecto forrado a falsos balões pretos de onde baloiçam imponentes lustres, dos sofás de veludo às cortinas de luzes, estávamos no melhor espaço de entretenimento nocturno que se deve encontrar nos subúrbios de Las Vegas.

No extremo oposto à entrada, um palco aguardava os Toulouse que, não fugiram à selva de loiça que o decorava, nem aos abat-jours ao estilo anos oitenta adornados com franjas. O bar encheu facilmente com uma grande quantidade de portugueses e espanhóis, numa comunhão que marcou a essência deste festival.

Os vimaranenses arrancaram com o seu smooth punk, composto por baixo, duas guitarras, synths, bateria e, vocais sem protagonismo óbvio mas liderados por João Silvestre, no baixo. A energia misturada com o toque etéreo das composições criou um ambiente propício a algum surrealismo que abraçou a sala na perfeição. Músicas de “Yuhng” e temas novos com a promessa de um novo álbum para breve, completaram a setlist dos portugueses que se mostraram entusiasmados e agradecidos pela presença em Vigo. O público reciprocou em absoluto, num dos melhores momentos da noite.

La Iguana Club esperava-nos, novamente, para mais uma excentricidade muito aguardada. King Khan & BBQ Show, o duo Canadiano que se vai juntando de vez em quando, fez a festa com o seu garage rock sujo e as suas indumentárias sado-maso de arreios, máscaras e cuecas cintilantes. Enquanto espectáculo é impossível não gerar animação e excitação na multidão que se acumulava pelos labirintos do La Iguana, para ver o que dali saía.

A próximidade com o público foi, mais uma vez, parte do espectáculo, se bem que muitos dos que se encontravam na primeira fila não estivessem a contar com uma noite onde um homem meio despido, suado, e saído de um filme porno classe B, se roçasse neles. A guitarra de King Khan e a guitarra de BBQ que acumulava com um bombo e tarola tocado com os pés, foi um acto surrealista de imaginação de um Tigerman do Maxime.

As ruas enchiam-se de pessoas e a noite já ia longa. Mas, todos pareciam esperar pelo mesmo e todos se dirigiam para La Fabrica De Chocolate, onde os Hot Chip se preparavam para um DJ Set.

O bar encheu numa atmosfera de discoteca com a electrónica da banda a deixar o Super Bock Under Fest a dançar com uma energia contagiante e uma fila gigante à porta, formada por aqueles que ficaram de fora e aguardavam a sua vez de a experimentar. Espero que tenham conseguido.

Vera Rodrigues  

Editora e produtora de conteúdos do Veracity Music. Especializada em entrevistas e reviews de concertos e festivais.


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Mais sobre: Capsula, Telefon Tel Aviv, The King Khan & BBQ Show, Toulouse


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