Rodrigo Amarante, com um violão, um piano e composições serenas, refrescou a noite quente do Theatro Circo em Braga
Cinco minutos antes das 21h30m, hora marcada para o início do espetáculo de Rodrigo Amarante no Theatro Circo em Braga, a fila para aceder à histórica sala de espetáculos bracarense era extensa, recortando perpendicularmente a Avenida da Liberdade. Um público de diversas faixas etárias aproveitava para tirar fotos da sala de espectáculos, mas as conversas, essas giravam todas em torno do multi-instrumentista brasileiro, ex-membro da banda carioca Los Hermanos, agora numa carreira a solo.
E, foi precisamente a solo, que surgiu para o seu quinto e último concerto no nosso país, depois de Lisboa, Faro, Leiria e Aveiro, munido de uma guitarra, num palco aonde, inerte, jazia um piano de cauda, e que acabaria por se tornar demasiado pequeno para tanto talento.
Faltavam quinze minutos para as 22h00m, quando o músico natural do Rio de Janeiro, calças brancas e camisa escura, fez uma vénia, preferindo um “Uau!, Obrigado gente por terem vindo!”
Depois… bem… depois foi mais de uma hora de espetáculo, um espetáculo intimista, num ambiente a média luz, ora laranja, ora azul, ora verde, em que Rodrigo, dedilhando suavemente a guitarra, encheu a sala com sons calmos e lascivos, seduzindo e enfeitiçando.
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Começou com o tema “Nada em vão”, faixa de abertura do álbum “Cavalo”, editado em 2013 e gravado em 2012 em Los Angeles, Estados Unidos, e no Rio de Janeiro, no Brasil, um álbum muito bem recebido pela crítica, que foi eleito pelo jornal português “Público” o quinto melhor disco do ano, e que serviu de pretexto para a digressão no nosso país.
Seguiu-se o “Mon Nom”, em francês, atestando a diversidade do compositor brasileiro, enquanto muitos espetadores ainda entravam na sala, o que o levou a pedir à produção que levantasse um pouco as luzes e, como o próprio disse “a enrolar”, ganhando tempo até “todo mundo estar sentado” e retomar o espetáculo.
Posteriormente, seguiram-se mais algumas composições, e temas, como “’I’m ready”, “O cometa”, “Irene” e “Diamond eyes” foram inebriando os presentes, que não se pouparam a grandes salvas de palmas nos intervalos entre eles.
Mais de trinta minutos após o início do espetáculo, pousou a guitarra, entre vénias, e “saltou” para o piano para tocar temas como “Cavalo”, que dá nome ao seu único álbum a solo, e “Fall asleep” que, segundo o próprio, é nova que nem ele, “não é nova, mas finge que é!”. O instrumento foi outro, mas a beleza das composições manteve-se.
No regresso à guitarra, apresentou “Tardei”, uma “espécie de música para ajudar a caminhar, que nem no exército”, um dos temas mais ovacionados da noite, quente e abafada, mas repleta de magia, “Hourglass” e “Tuyo”, esta última em espanhol.
Depois, agradeceu uma vez mais aos presentes, proferindo um tímido “Bendito o instante em que cada um de vocês decidiu que viria me ver hoje à noite!”, e tocou “Pode ser”.
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Finalizou o espetáculo uma hora e dez minutos após o seu início, com “The ribbon”, média luz azul sobre o vulto quase imóvel no meio do palco, para gáudio do público, levando à segunda grande ovação da noite, desta feita, merecidamente, em pé!
No entanto, as centenas de pessoas que ali se deslocaram para ver o multifacetado músico, compositor e instrumentista não arredaram pé. Estava a ser demasiado bom para terminar tão cedo. Entre palmas e assobios, todas as manifestações demonstravam o desejo de rever e reouvir Rodrigo Amarante, fundador dos “Orquestra Imperial”, não mais do que 3 minutos depois, lá regressou ao palco, para um encore com mais dois temas.
Na sala, completamente escura, interpretou o tema “Condicional”, do tempo de Los Hermanos e terminou, desta vez a sério, com o tema “Evaporar”.
Então, o Ruivo, como é conhecido na gíria, pousou a guitarra, agradeceu efusivamente a ovação final, multidão em pé, muitas palmas, fez várias vénias… e evaporou-se!
Balanço feito, foram oitenta minutos de um intenso espetáculo, dezanove belas composições, um ambiente quente, húmido, intimista, envolvente e mágico. Quem ali foi, como eu e o Pedro Gama (o fotógrafo), saiu seguramente mais leve, mais calmo, em harmonia com a simplicidade e beleza dos acordes, em harmonia com a vida.