Rod Stewart: a reluzir desde os anos 60 – A reportagem no MEO Arena
O risco de ataque cardíaco antes do concerto de Rod Stewart na noite desta quarta-feira, dia 6, no MEO Arena, em Lisboa, era mais elevado que o dos Raios UV neste verão quente. A emoção justificava-se mas Portugal acabou por deixar toda a gente aliviada com a sua vitória por 2-0 frente ao País de Gales e o apuramento para a final do Europeu de futebol garantida.
Assim, e porque o cantor alterou a hora de início do concerto para garantir que só começava quando o jogo tivesse terminado, foi para um público extremamente entusiasmado e divertido que Rod Stewart cantou durante duas horas. Mais de 45 anos de carreira garantem-lhe reportório para isso e muito mais.
O cantor apresentou-se em muito boa forma, magro, com a sua voz rouca e única a ser espalhada pelo recinto através de um igualmente estiloso microfone branco, cheio de boa disposição.
O palco é digno de um qualquer cruzeiro de sonho dos anos 80 mas com o bom gosto que a atualidade implica, assente em quadradinhos pretos e brancos. Tudo tem este padrão: desde a cortina que abre e fecha o palco, passando pelos casacos dos músicos (homens), bem como piano e baterias. Com orquestra ao vivo, a riqueza sonora do concerto é enorme, embora houvesse algumas queixas por parte de quem estava no fundo da sala. Na frente de palco, contudo, nada a apontar. E começa a festa com versões: ‘Having a Party’, de Sam Cooke, ‘Some Guys Have All The Luck’, dos Persuaders e ‘This Old Heart of Mine (Is Weak For You)’, dos Isley Brothers, enriquecido pelos muito talentosos violinista e saxofonista. Rod Stewart faz questão de se acompanhar de músicos de muito alto nível que asseguram todo um espetáculo a acontecer sempre à volta do britânico de ascendência escocesa.
O mais melancólico ‘Tonight’s The Night’ é cantado enquanto os ecrãs exibem imagens da sua juventude e o momento ainda se torna mais especial quando Stewart nos fala do pai, enquanto elemento familiar que mais o apoiou quando, no início de carreira, muitas portas se fechavam e muitos “nãos” vinham das editoras enquanto as más línguas lhe criticavam o nariz, o cabelo e as roupas. Ouve-se ‘Can’t Stop Me Now’ em jeito de lição de vida. Com ‘Forever Young’ descobrimos toda a mestria da violinista que o acompanha: sorriso rasgado, ar confiante e maduro, linda e cativante. E fica pela noite toda, a mostrar cada vez mais dotes artísticos. A seguir, Rod Stewart, que também chutou bolas para o público, senta-se na beirinha de palco e “fala-nos” sobre o ‘Downtown Train’.
Como o espetáculo foi dividido em duas partes, houve intervalo e uma ligeira mudança no figurino, embora as bailarinas continuem poderosíssimas, nos seus vestidos brilhantes (agora em branco, na primeira parte dourados), mas no mesmo estilo flapper. Rod Stewart continua a apostar no preto e branco, embora agora seja um casaco em vez da imaculada camisa da primeira parte. ‘Rhythm of My Heart (The Final Acclaim)’, ‘Maggie May’ e ‘You’re In My Heart’ desfilam sem parar para depois vir, novamente, o momento “sing a song” com ‘The First Cut Is The Deepest’ e ‘I Don’t Want To Talk About It’. Com ‘You’re In My Heart’ o músico prestou homenagem, com imagens exibidas na meia dúzia de ecrãs que equiparam o seu palco, ao Celtic – clube do coração de Rod Stewart. Ainda assim as felicitações pelo resultado da seleção portuguesa foram uma constante e até chegou a atar um cachecol de Portugal à cintura.
Nota que vale a pena sublinhar é o facto de ter sido das raríssimas vezes em que vi um guitarrista agradecer ao roadie de cada vez que lhe substituía o instrumento. Aliás, as próprias bailarinas brincavam umas com as outras, os sorrisos e abraços eram uma constante, intercalada pelas marotices de um Rod Stewart que nunca negou gostar de mulheres bonitas. Ambiente aparentemente perfeito entre todos, sem necessidade de exibicionismos.
Uma delas, bailarina e backing vocal, assume o microfone enquanto ele faz uma pausa e põe o público rendido à sua voz e atitude em ‘Young Hearts Run Free’. A maior parte das vezes Rod Stewart também atinge as notas pretendidas e nota-se alguma melhoria no seu registo vocal, em relação a 2013, quando as suas aparições ao vivo denotavam alguma fragilidade.
‘Baby Jane’, ‘Hot Legs’ e ‘Sailing’ são as notas altas para o fecho, não sem antes haver balões a cair sobre os fãs e ‘Da Ya Think I’m Sexy?’ já em encore. A festa é enorme, tudo está animado, sorridente e ninguém terá dado por mal gasto o dinheiro neste concerto. Não podemos esquecer o charme extra que todos os músicos (eles e elas) trouxeram a esta atuação. Inesquecível.
Infelizmente, por motivos de agenda, não conseguimos deslocar um fotógrafo a este concerto.
A foto de destaque é cortesia de Pedro Figueiredo (My Sound Mag).