Red Bull Music Academy Culture Clash Lisboa – A reportagem

Red Bull Music Academy Culture Clash Lisboa - A reportagem

A premissa para a noite de 20 de Outubro era simples, “quatro crews, quatro palcos e um vencedor”. Foi a primeira edição do RBMA Culture Clash em Lisboa e sim, gostámos, dançámos, mas queríamos um bocadinho mais, só um bocadinho.

Baseando-se no conceito jamaicano de culture clash, a Red Bull Music Academy (RBMA) iniciou as suas próprias batalhas musicais em 2010 levando este evento a cidades tão distintas como Londres, Roterdão, Nova Iorque ou Milão. A primeira edição portuguesa teve Lisboa como anfitriã, cidade onde a mistura de culturas e sonoridades há muito que não passa indiferente.

Entre as crews convidadas encontrava-se o Club Atlas (de Branko, Riot, Kalaf, Pongolove, Carlão e Fred Ferreira), Moullinex Live Machine (crew de Moullinex, Xinobi, Da Chick e The Legendary Tigerman), Matilha (DJ Ride, Jimmy P e MGDRV) e por fim, Batida + Kambas e o Próprio Kota! (de Batida, DJ Satélite, Karlon, André Cabral, Gonçalo Cabral, Bernardino Tavares e ‘o’ Bonga).

O grande objetivo da noite? Descobrir a crew mais forte através do nível de decibéis do público.

Os hosts, Alex D’Alva Teixeira e Gisela João não andaram só por aí a apregoar o lema “Quem manda aqui és tu”, foram também os responsáveis pela ligação das quatro rounds do evento e pelo, suposto, cumprimento de algumas regras básicas, entre elas, a proibição absoluta de replays (apenas permitidos se anunciados como contra-ataque e altamente alterados), dar primazia a dubplate specials exclusivos para a noite, e utilizar apenas dubs e remixes no round final.

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Opinião quase geral, e numa fase bem precoce da noite, é de que o evento teria beneficiado de hosts com uma presença diferente. Por muito que gostemos da Gisela João chamar-nos constantemente “fofos” ou “queridos” não é exatamente o que procuramos num evento deste género.

Comecemos então a análise dos rounds.

Primeira fase, Teste de pressão, 7 minutos para cada crew, o round de aquecimento, sem votação, chamemos-lhes um reconhecimento do terreno .

Club Atlas abriu a round, com a boa energia já esperada, muitos sorrisos quando passaram “Retratamento” dos Da Weasel e um throwback aos Buraka Som Sistema. Logo de seguida, Moullinex Live Machine manteve-nos a abanar o corpo com os seus ritmos eletrónicos, mas sem grande brilharete. Por outro lado, quando a crew Matilha chegou ninguém esperava tamanha sucessão de hits, desde “Clique” de Kanye West, “Alright” de Kendrick Lamar, um salto ao grime de Skepta com “Shutdown” e ainda com uma passagem pelo mundo do drum ‘n’ bass. Bandeiras em palco, lenços sobre a boca, se não fosse a música poderíamos facilmente dizer que tínhamos aterrado no meio de uma claque de futebol.

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Por fim, a crew Batida + Kambas e o Próprio Kota chegou cheia de ritmo, passando das rimas do Karlon dos Nigga Poison aos beats do DJ Satélite e ainda com tempo para uns passinhos de funaná e a (literalmente) um segundo de Bonga.

Já com o Coliseu “aquecido”, passámos então ao segundo round, Seleção, os DJ’s de cada crew tinham 10 minutos de total liberdade para tocarem no estilo que bem lhes apetecesse.

Da Chick desceu do teto do coliseu cheia de classe com Moullinex e companhia altamente vibrantes em palco. Ainda temos “Do It Again” a ecoar nos nossos ouvidos mas faltou-nos mais de The Legendary Tigerman. Na bancada ao lado já se adivinhavam alguns convidados da crew, nomeadamente Best Youth e Mike El Nite que era provavelmente a pessoa mais animada da plateia.

Por esta altura já era evidente que existiam alguns problemas na distribuição do som pelo coliseu, o que forçava a uma maior aproximação de cada palco.

Matilha foi a crew que se seguiu e, apesar de uma primeira ronda forte, estes 10 minutos, ou 7 minutos dado o tempo perdido com conversas, resultou nalgum desinteresse. Passaram (surpreendam-se) “Everybody (Backstreet’s Back)” e fecharam em jeito de dica com “Deixa-te de merdas” do Agir.

Sempre no sentido dos ponteiros do relógio seguiu-se a crew de Batida com muito kuduro e afrohouse em que as estrelas foram André Cabral, Gonçalo Cabral e Bernardino Tavares. Não ficou de fora a habitual referência aos presos políticos angolanos. Quem ficou de fora desta ronda foi mesmo o Bonga.

Kalaf do Club Atlas decidiu abrir a round com algumas dicas para Matilha que, segundo ele, se tinham limitado a passar a “playlist da Rádio Cidade” e sugerindo que proporcionavam bons momentos para a ida ao WC.

Pongolove chegou com o seu “Mataaaa”, relembraram-se hits dos Buraka Som Sistema como “Wegue Wegue” e o MC Bin Laden não foi esquecido.

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Terminados os rounds, momento para a primeira leitura de decibéis e vitória para a crew de Batida.

Terceiro round, “Dormindo com o Inimigo”, o nome auto explica-se, mas não se ouviram tantas músicas do inimigo propriamente dito como gostaríamos.

Matilha entraram bem com beat box, relembraram que “dormimos com toda a gente menos Da Chick”, dedicaram-lhe “Eu sou Maroto” dos MGDRV, passaram pelo clássico “Não sabe nadar” dos Black Company e “Que safoda” do Deejay Telio.

Bonga foi a estrela do terceiro round dos Batida, tocou dicanza como ninguém, “scretch angolano” como lhe chamaram, conjugou o verbo “estigar” à patrão, e tivemos direito a um momento de kuduro com Bonga a cantar “Comeram a fruta” e Batida a dar uso a uma verdadeira Moulinex. “A sopa tá boa”, dizia Pedro Coquenão.

Club Atlas trouxeram de volta “Poetas do Karaoke”, relembram-nos Pedro Abrunhosa, cantou-se “Pitas querem guito”, e não tiveram medo de passar um fadinho e dar um toque de Deolinda. Uma bela passagem pela música portuguesa.

Da crew Moullinex Live Machine vimos Catarina dos Best Youth a chegar de cavalo branco na zona VIP, Da Chick a relembrar que na crew dela “a gente canta, a gente toca”, Marta Ren a dar mais brilho ao placo, uma versão bem catita de “Yah!” dos Buraka Som Sistema e Mike El Nite cheio de energia com “Tás na Boa” dos Da Weasel.

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Vitória merecida no terceiro round para Moullinex e companhia.

Quarto e último round, Juízo Final, pontos duplos, altura de dar o tudo por tudo, de pôr todos os trunfos na mesa.

Começou com a crew Batida que não conseguiu captar a atenção do público até ao fim.

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Club Atlas entrou a abrir com “Somos os Tais” e sacaram do trunfo Nelson Freitas que deu um brilharetezinho com “Bô Tem Mel” e com “Break of Dawn”, altura em que sacaram o segundo trunfo, Richie Campbell para relembrar as influências de dancehall e reggae do conceito original de culture clash. Houve “Dialetos de Ternura” e houve Boss AC. Já tinham comprado o coliseu inteiro.

A crew de Moullinex ainda deu luta ao começar brilhantemente com “Take my Pain Away” e ao trazer um coro gospel (se bem que a qualidade de som no Coliseu não ajudou ao potencial do mesmo) e uma banda de percussão que trouxe um ritmo sambante que não poderia ter sido mais contagiante.

Matilha fecharam a quarta round, trouxeram Capicua e Valete mas já estavam mais que decididos os vencedores da noite.

Com pontos a valer o dobro, e apesar de o Coliseu já estar claramente desfalcado, o leitor de decibéis não enganou ninguém, vitória para o Club Atlas, ou segundo Kalaf, crew “Red Bull damos-vos asas”.

A RBMA Culture Clash proporcionou uma noite de que Lisboa já estava a precisar há muito. Certas regras nem sempre foram cumpridas, o som nem sempre foi ideal, a dinâmica dos hosts tinha muito a melhorar mas ninguém pode negar que esta primeira edição foi um momento marcante, recheada de boa música e, acima da tudo, serviu como uma excelente aprendizagem para as edições que se seguem.

Club Atlas, vemo-vos na próxima edição.

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Fotos: da organização, dado que nenhum meio de comunicação social foi autorizado a fotografar

Mónica Borges  

Acho todos os cães bonitos, gosto de festivais e ainda mais de imperiais.


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