Queen + Adam Lambert = Duas horas de Jukebox na Altice Arena
A noite invulgarmente chuvosa desta quinta-feira, 7 de junho, contou com vários concertos em Lisboa. Queen e Adam Lambert foram, no entanto, os campeões em público.
Donos de um talento genuíno e de uma musicalidade distinta e facilmente associável ao melhor do rock dos anos 80, que contribui para tornar os seus concertos tão únicos e especiais, os Queen conquistaram tabelas em todo o mundo e continuam a conquistar corações.
Com Adam Lambert a assumir as vozes, a verdade é que nem só do jovem cantor se vale o espetáculo; Brian May, que teve a oportunidade de desfilar e fazer vários solos de guitarra na passarela que saía do palco, e Roger Taylor, na bateria, continuam a dar vida ao legado deixado pelo grupo que vai reeditar, em novembro, um dos seus álbuns mais apreciados, o News of the World que está a comemorar 40 anos de edição.
A primeira atuação dos Queen com Adam Lambert deu-se na final do programa American Idol, em 2009, à qual se seguiu uma apresentação na entrega dos MTV Europe Music Awards. Adam Lambert passou logo a fazer parte da banda e com muito sucesso depois de um longo período de incertezas por parte dos membros que sobreviveram ao icónico Freddie Mercury. Há quem acredite que Lambert foi uma salvação a uma espécie de Hall of Fame da nostalgia onde os Queen viriam, inevitavelmente, a cair.
Isto não será falso de todo mas é importante lembrar, e o próprio também o faz, que o novo vocalista não pretende ser, substituir ou imitar Freddie Mercury mas sim homenageá-lo todas as noites em que sobe ao palco. E diz que nem acredita que o está a fazer há seis anos. Foi pena o cantor ter falado tão pouco com o público e a mensagem ter sido principalmente essa até porque também tem uma grande voz, um enorme carisma e charme de diva, que diverte e provoca o riso em momentos como aquele em que sobe para uma bicicleta para interpretar Bicycle Race, aparece em cima da cabeça de um robô (que é companhia de palco quase o tempo todo em imagens 3D) e se atreve a perguntar “Are there any fat bitches here?” sobre o tema Fat Bottomed Girls, ou ainda, já mais para o final do concerto, quando põe uma coroa de rainha. Com a sua aparência robusta, barba preta aparada e quilos de eyeliner, Lambert, na verdade, está mais próximo, fisicamente, de George Michael do que de Freddie Mercury.
May e Taylor estavam totalmente comprometidos nas suas missões. Roger Taylor teve direito ao seu solo, a meias com o segundo baterista Tyler Warren, saído da penumbra, enquanto Brian May dá nas vistas não só pelos solos de guitarra mas também por brincar aos fotógrafos com o público, recorrendo a um selfie stick, para aliviar o momento de maior peso que foi a interpretação de Love of My Life, tema quase todo cantado pelos fãs e onde não faltou uma imagem de Freddie Mercury a cantá-lo também.
Ouvir tantos sucessos uns atrás de outros faz parecer que estamos com o nosso próprio gira-discos a fazer as escolhas óbvias como Radio Ga Ga, The Show Must Go On ou Bohemian Rhapsody – ainda que esta tivesse sido lembrada através do vídeo original dos Queen de 1975.
Os Queen ainda são uma das bandas mais veneradas na história da música rock e pop, com um portfolio de temas que passam de geração para geração (sim, havia algumas crianças ontem à noite). Another One Bites the Dust, Crazy Little Thing Called Love, Killer Queen ou Who Wants To Live Forever, são apenas alguns exemplos bem conseguidos nesta noite.
Nesta altura muito se fala, também, do filme sobre os Queen onde o ator Rami Malek, de olhos esbugalhados, conseguiu o papel principal (anteriormente destinado a Sacha Baron Cohen, Dominic Cooper e Ben Whishaw). Malek tem uma aparência física que combina bem com o jovem Mercury.
A presença de Freddie Mercury surge em breves momentos na abertura do encore e protagoniza um emocionante dueto em vídeo com Brian May quando cantam juntos Love of My Life. Pelos aplausos percebe-se que o público gosta mas é uma opção duvidosa (será que queremos mesmo, mesmo, ter os mortos entre nós nos concertos?).
Do encore ainda fizeram parte os dois temas consagrados no Grammy Hall of Fame – We Will Rock You e We Are the Champions – e que lideram a tabela das músicas mais tocadas em eventos desportivos.