12 Jul 2018 a 14 Jul 2018

QOTSA cumprem, The National curam. Tudo certo – o segundo dia de NOS Alive’18

QOTSA cumprem, The National curam. Tudo certo - o segundo dia de NOS Alive’18

Queens Of The Stone Age e The National provaram merecer o estatuto de cabeças de cartaz, enquanto Portugal. The Man e Future Islands continuaram o namoro com o público nacional no palco secundário. Ao segundo dia de festival, não faltaram grandes concertos.

Já não vinham a Portugal desde 2014, quando passaram de forma algo estranha pelo Rock in Rio Lisboa. Mas esta sexta-feira, os Queens Of The Stone Age fizeram valer o tempo de espera. Com o estatuto de cabeça de cartaz de certa forma repartido com os The National, a banda de Josh Homme ficou responsável pelo lado rock da coisa. E rock é o que eles fazem melhor. Com os temas de Villains, disco lançado no ano passado, ainda frescos, o alinhamento foi um bom balanço entre as canções mais celebradas de outros tempos (especialmente na segunda parte, com No One Knows, I Sat By The Ocean, Little Sister, Make It Wit Chu ou Go With The Flow). Uma das bandas mais celebradas do rock and roll dos últimos 20 anos, ao vivo os californianos mostram serviço como quem já não tem nada a provar. Josh Homme tem gingar de anca, pose de guitarrista e tiques (dons bons, diga-se) de frontman à antiga. Não fala muito mas quando fala é certeiro, diz que adora o público, puxa dos “estão a gostar?” corriqueiros e dedica canções às meninas. Junte-se-lhe a alta competência do resto da banda, a entrega certeira de tema atrás de tema e o cenário de palco simples o suficiente mas com um toque de luzes led verticais que envolvem a banda e a temos concertaço garantido. Daqui ninguém terá saído desiludido.

Se os QOTSA trouxeram o rock and roll puro e dura, antes, os The National representaram o lado melancólico da coisa. Certeiros, como sempre, os norte-americanos que pisaram pela décima-quinta vez um palco nacional, trouxeram o sentimento à segunda noite de NOS Alive. Já sabíamos que Matt Berninger tem um dom para expelir sentimento profundo não só nas suas letras como nas suas performances, que a música dos National tem uma relação já longa e feliz com o público português e que, portanto, o momento seria especial. Apesar de curto (estamos habituados a vê-los com longos alinhamentos), o concerto iniciou-se com uma série de temas do último Sleep Well Beast – disco de 2017 que o grupo veio apresentar ao Coliseu em Novembro passado -, e passou por pontos fundamentais como Fake Empire, Bloodbuzz Ohio, I Need My Girl, Mr. November ou Terrible Love. Matt Berninger lembra que alguns dos melhores concertos que deram foram no nosso país, lamenta ter visto as notícias de manhã (quem nunca?), vai ao público distribuir abraços ou tirar uma cerveja, passeia-se pelo palco de mão no bolso e copo na mão, tantas vezes com um ar totalmente alheado e outras tantas completamente absorto na música. Tudo ali é altamente apelativo: a figura, a melancolia, os crescendos das melodias. Daí os braços erguidos e as palavras acompanhadas um pouco por toda a plateia (que praticamente encheu). Só podemos esperar que não falte muito para mais uma sessão de terapia – perdão, concerto – dos The National por cá.

Queens of The Stone Age - Foto de Arlindo Camacho (NOS Alive)

Queens of The Stone Age - Foto de Arlindo Camacho (NOS Alive)

Antes de toda essa emoção, o palco NOS abriu às 17h com o blues rock dos islandeses Kaleo, antes de os Black Rebel Motorcycle Club debitarem o seu rock old school perante uma plateia pouco entusiasta. Tudo bem que os mui experientes BRMC são peritos em riffs de fazer bater o pé, mas o facto de nunca passarem do mesmo registo não ajuda quando há uma plateia para aquecer. Plateia essa que de certo adoraria ter aquecidos com os The Kooks, britânicos donos de alguns dos maiores hits do início dos 00s, mas Luke Pritchard tinha ordens médicas para não cantar e à última hora lá vieram os Blossoms dar uma perninha. Tinham estado no palco secundário no ano passado (na altura até receberam uma bandeira portuguesa personalizada, que hoje exibiram nos amplificadores) mas a verdade é que o público português ainda desconhece o indie pop dos seis de Manchester que tem vindo a conquistar cada vez mais hype por terras de sua majestade. Com a tarefa ingrata de preencher o lugar de alguém bastante esperado, a jovem banda não perdeu a postura e entregou os temas do novo Cool Like You e as canções já rodadas da sua estreia sem medos. Mereciam mais.

A fechar a noite em festa absoluta (possível vencedor da categoria concerto com mais pessoas às cavalitas desta edição do festival) estiveram os Two Door Cinema Club. De regresso ao NOS Alive depois de terem actuado no palco secundário há dois anos, os irlandeses trouxeram um alinhamento bem balançado entre álbuns para o final de noite perfeito no palco principal. Apesar das novas canções não perderem o ritmo contagiante clássico do grupo, foram os temas do primeiro disco que mais estragos fizeram. O início, com Undercover Martyn, I Can’t Talk e This Is The Life provou isso mesmo.

Two Door Cinema Club - Foto de Arlindo Camacho (NOS Alive)

Two Door Cinema Club - Foto de Arlindo Camacho (NOS Alive)

Os Portugal. The Man já não são os mesmos, mas felizmente Sam Herring e os seus Future Islands não mudaram nada.

Se os Japandroids só precisam de uma guitarra e uma bateria para causar estragos (dos bons) e convencer os presentes na tenda do palco Sagres, os Yo La Tengo tiveram infelizmente mais dificuldade. Veteranos do indie rock, Ira Kaplan, Georgia Hubley e James McNew trouxeram o novo There’s a Riot Going On e uns quantos clássicos (Ohm, Pass The Hatchet, I Think I’m Goodkind) que, infelizmente, poucos na plateia pareceram apreciar. Lugar e hora errada para os autores de I’ll Be Around, que já mereciam um regresso em nome próprio ao nosso país.

Já Mark E e os seus Eels foram mais convincentes. A simpatia do trato e a música propícia ao gingar de anca de cerveja na mão ao final da tarde foi receita suficiente para encher o recinto do palco Sagres. Horas depois, a enchente agravou e ao final do concerto dos National, no palco NOS, já era impossível sequer chegar perto do palco secundário do festival. Eram os Portugal. The Man e o efeito Feel It Still – êxito maior que os próprios. Parece que já lá vão os tempos em que a banda de John Gourley passava algo despercebida como uma interessante proposta de um rock que ora era mais psicadélico ora mais indie. Tudo bem que o sucesso foi sendo conquistado a bom ritmo, mas Feel It Still, single do último Woodstock, catapultou-os para um estatuto maior. O tema que todos queriam ouvir veio no final, entregue sem demoras e de fim abrupto. Adivinham-se altos voos para os Portugal. The Man, que agora se juntaram ao Turismo de Portugal para uma nova campanha, e que simpaticamente agradecem o nome que lhe damos. Ora essa.

Ao mesmo tempo de Josh Homme entrou em cena no palco NOS, na ponta oposta do recinto, algumas dezenas de pessoas juntavam-se em frente ao Coreto para ouvir a voz doce de Francisca Cortesão, nas belas melodias dos Minta & The Brook Trout. No meio de tanta multidão, uma pausa com os temas de Slow provou ser um óptimo recarregar de baterias para tudo o que ainda aí vinha. A música portuguesa fica renegada ao palco mais recôndito do recinto e a horários pouco favoráveis, mas folgamos em saber que está tão bem representada.

O final de noite no palco Sagres, já pós Queens Of The Stone Age no palco principal, ficou a cargo dos Future Islands. Nome já muito bem amado no nosso país, os autores de Seasons (Waiting On You) contam com a prestação sempre marcante do seu vocalista, Sam Herring. Tenda a abarrotar, guitarras e sintetizadores perfeitamente alinhados e canções bonitas: há melhor receita para um belo concerto? Cremos que não. A fechar estiveram os escoceses Chvrches a oferecer melodias altamente dançáveis a todos os que, às três da manhã, ainda tinham capacidade para tal.

O NOS Alive’18 chega hoje ao fim com actuações de Pearl Jam, Jack White, Franz Ferdinand, Alice In Chains, At The Drive In e muitos outros.

 

N.R.: Não nos foi possível fotografar os concertos de Queens of  The Stone Age e Two Doors Cinema Club

Teresa Colaço  

Tem pouco mais de metro e meio e especial queda para a nova música portuguesa. Não gostava de cogumelos mas agora até os tolera. Continua sem gostar de feijão verde.


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Mais sobre: Black Rebel Motorcycle Club, Blossoms, Japandroids, Kaleo, Portugal. The Man, Queens of The Stone Age, The EELS, The National, Two Door Cinema Club


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