Primavera Quente – O 3º e último dia no NOS Primavera Sound 2015
Ao começo do dia 3 do NOS Primavera Sound, a noite de enchente anterior ainda se fazia sentir no corpo e na cabeça de muitos.
Como uma lufada de ar fresco na tarde abrasadora com que nos deparamos, o bom filho voltou a casa . Entre material novo, Pluto, Foge Foge Bandido e Supernada passeou o seu sotaque e carisma pelo recinto. Ao fim de uma hora continuo sem saber quem é a Camila, mas posso orgulhar-me de lhe ter cantado os parabéns com o Manel Cruz.
E Manel, se em S. João da Madeira te chamam louco, deixa-te ficar pelo Porto. Aqui és sempre bem-vindo como pudeste ver.
De seguida no palco ATP, dois ex-Sonic Youth numa banda homónima ao que tem o maior ego agraciaram novos e velhos, saudosistas ou descobridores com aquilo que para muito anos antes e ainda agora é inspirador e inovador.
Receita já gasta?
Diria que não. O estilo de Thurston é-lhe tão característico, e num registo mais “sonic youthesco” que na sua primeira mostra do novo álbum em Paredes de Coura percorreu “The Best Day” perante um prado em que pouca relva se via dada a enchente.
“Forevermore” e “Speak to the Wild” foram recebidas com carinho e atenção. “Detonation” deixou saudades de uma vida passada.
Pequeno interregno para refrescar as ideias e o corpo e forrar o estômago para uma noite em que não haveria tempo para parar e em que ninguém o queria.
Com isto Foxygen foi perdido, o que deixa pena pois a insanidade transparente traduziu-se numa excelente e completa experiência.
Estômago cheio é agora tempo de ir ver todo o fascínio por trás de Damien Rice, e foi num anfiteatro natural cheio de pessoas sentadas em que o irlandês subiu ao palco NOS. Sozinho com uma guitarra e mais tarde com uma pedaleira de efeitos, Damien Rice abriu a noite com o seu pop-folk/folk-pop repleto de músicas para o fim da novela da TVI ou para um episódio dramático de Grey’s Anatomy.
Sem surpresas e sem deixar marca percorreu “Delicate” ou a esperada por muitos “Blower’s Daughter” do “O”. Se era adequado a este festival, era. Se foi no melhor horário ou noite? Talvez não.
22:15, a esta hora sobe ao Palco Super Bock uma banda que tinha pazes a fazer com a tribo do (agora) NOS Primavera Sound: Death Cab For Cutie.
No que me toca, desculpas aceites e pazes feitas, agora toquem lá mais meia hora e escusam de forçar as coisas do “Kintsugi”.
A abertura com “I Will Possess Your Heart” deu um bom indício ao que seria um concerto com a ingratidão de ser 30 minutos sobreposto com Einstürzende Neubauten. “The New Year” e “Transatlanticism” foram recebidas com euforia e cantadas em coro por quem encontrou espaço no coração para os perdoar.
Ride, são aquele primo da família shoegazing que fica ali no canto sossegado enquanto toda a família olha para os feitos do filho mais velho que acabou de se formar – se esses forem os My Bloody Valentine.
Num concerto que não devia ser no maior palco e que resultaria sim num palco ATP para um público que se deixaria entorpecer pela música ou álcool ou outros elementos alteradores de espírito (falo dos gelados da Santini ou Sandes do Guedes obviamente), o grupo de Oxford não deixou para trás aqueles que os foram de propósito ver.
Altura de uma decisão complicada, de um lado o indie-rock com provas dadas de The New Pornographers, de outro a diversão assegurada de Dan Deacon.
O problema de “provas dadas” é que se mantem uma coerência que por vezes resulta numa repetição de métricas e em que tudo cai no marasmo de soar tudo ao mesmo. E findos 30 minutos, a constante interação apejada de impropérios de Dan Deacon com o público clamava.
“De génio e de louco temos todos um pouco” é o que se costuma dizer. Dan Deacon abusa de ambos.
Nunca um concerto é igual e é divertimento pela certa.
Parar? Com Dan Deacon? Até quem sentado estava com o corpo dançava.
Underworld, o clubbing, o techno made mainstream, revisitar um álbum que não tem aquela que toda a gente foi lá ouvir – foi perante isto que nos encontramos.
Com “Dirty Epic”e “Cowgirl” começamos a achar que este é o fecho ideal para um festival com um sentimento de máquina do tempo;
Tempo esse, que passou a correr depressa demais num ritmo acelerado e que nos faz temer pela ressaca no dia a seguir.
Eis então que ocorre a “Rez” conhecida por ser passagem para a “Born Slippy NUXX” e o coração acelera.
É então que Hyde, que se esforçou para falar com toda a gente gira que lá estava e que defendeu a tecnologia mesmo ante problemas técnicos, diz que é a altura.
O coração salta. O corpo também.
“Shouting
Mega mega white thing
Mega mega white thing
Mega mega white thing”
Até para o ano NOS Primavera. Sound Foi bom. Foi óptimo.
Fotos: NOS Primavera Sound 2015 / Hugo Lima