Pequena Gigante Polly Jean – A reportagem no concerto de PJ Harvey no Coliseu

The Hope Six Demolition Project apresentou-se esta quinta feira, em Lisboa, a um público que não disfarçava expectativas mas claramente sabia ao que vinha.

Eram 21:15 quando P.J. Harvey e os nove músicos que a acompanharam deram início ao desfile dos 20 temas que durante perto de 2 horas encantaram um Coliseu quase esgotado. E se usamos a palavra desfile é porque tudo no espetáculo revelou uma fluidez rigorosa de som e movimentos, estudados com a precisão de quem sabe que um pouco mais seria estragar.

Um palco negro encheu-se com os 10 elementos igualmente vestidos de negro numa marcha liderada por uma Polly Jean emplumada, de braços e pernas descobertos, revelando paradoxalmente a fragilidade e força do seu pouco mais de metro e sessenta, reforçada pelo saxofone empunhado na mão direita.

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O alinhamento, que contou com nove dos onze temas de The Hope Six Demolition Project, abriu com Chain of Keys e levou os fãs a revisitar os álbuns Let england Shake, White Shalk, Rid of Me e To Bring You My Love. Neste manifesto musical, brilhantemente liderado por esta ‘Ministra dos Assuntos Sociais’, as guitarras do rock cedem o lugar de destaque às percussões e sopros, nomeadamente o saxofone que passa boa parte do concerto nas mãos da cantora que a espaços o ostentou numa postura de extrema elegância e energia que tão bem caracterizam o comprometimento desta roqueira de pés literal e metaforicamente bem assentes no chão. A música foi senhora da noite, com P.J. a dirigir-se ao público apenas duas vezes: uma para cumprimentar o Lisboa e outra para apresentar a banda. Tudo o mais seria dito pelas canções.

Ao longo de todo o concerto, que na parte final nos levou a visitar os anos 90 com 50ft Queenie do album Rid of Me e os temas Down by the Water e To Bring You My Love do álbum homónimo, o público mostrou claramente ser O Público de P.J., aplaudindo cada pausa e acolhendo os temas mais antigos com a intimidade que se dedica aos companheiros de longa data. Mais de vinte anos foram percorridos deixando rendido um público heterogéneo onde não eram raros os ainda não nascidos no início da carreira da cantautora.

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A usar uma palavra-chave para definir a atuação, esta teria de ser, forçosamente, “agigantar”. A pequena/enorme Polly Jean deixou várias vezes o seu lugar central na boca de palco sem nunca perder a liderança de uma equipa claramente vencedora pela competência e harmonia. A tessitura vocal de P.J. esteve ao nível do brilhantismo durante toda a noite. O público ficou repetidas vezes suspenso nalguns dos seus agudos, afinados com a voz e postura sensualmente quente desta embaixadora da revolta, que contou com um excelente apoio vocal e instrumental por parte da banda.

O palco esvaziou-se após dezoito temas que deixaram o público satisfeito, porém não saciado, e o pedido de encore foi generalizado e persistente. No regresso, e a fazer todo o sentido, ouvimos Guilty – o tema que foi deixado de fora do álbum que dá nome à digressão. The Last Living Rose fechou com brilhantismo a noite deste verão tardio em que músicos e fãs desfrutaram daquela que para muitos continua a ser a melhor sala de espetáculos de Lisboa numa comunhão que a todos terá sabido a pouco mas deixa já aberto o caminho e desejo de reencontro.

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Carla Flores  

A repórter de guerra sonhada aos 10 anos deu lugar à professora de inglês que se dedicou a outras lutas, como a da promoção da leitura e a aquela coisa do "ah e tal, vamos lá mudar o mundo antes que ele nos mude!


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