Ornatos Violeta – O ‘Até Sempre!’ em Lisboa

Ornatos Violeta - O 'Até Sempre!' em Lisboa

Ao completar 20 anos de existência, O Monstro veio comemorar a Lisboa e os amigos não se fizeram rogados. Dia 6 de dezembro o Campo Pequeno encheu-se para receber o espectáculo de encerramento da digressão do segundo álbum dos nortenhos Ornatos Violeta.

Caso singular na música portuguesa, a popularidade dos criadores de Cão e do agora festejado O Monstro Precisa de Amigos, cresceu a olhos vistos desde que em outubro de 2002 a banda deu por finda a sua carreira e se é verdade que para o comum mortal os amigos nunca são demais, não é menos verdade que, 20 anos após o seu nascimento, o Monstro tem mais amigos que nunca e isto só podia resultar numa festa de dimensões gigantescas.

‘Coração cheio’, ‘Alma lavada’, ‘Laços renovados’ e outras expressões similares poderiam ser usadas para descrever o estado de espírito dos milhares de fãs que rumaram à sala de espectáculos da capital após um banho de duas horas de música que deu direito a tudo, num pacote composto por duas dúzias de canções distribuídas por dezasseis temas numa primeira parte e três regressos ao palco.

Engana-se quem pensar que houve algum exagero ou que Manel Cruz, Nuno Prata, Peixe, Kinörm e Elísio Donas forçaram a mão. O público esteve de pedra e cal do primeiro ao último instante, reconhecendo e, talvez, premiando a maturidade que os muitos anos de estrada e participação em diversos projetos deu aos donos da arena neste serão.

Com cerca de vinte minutos de atraso, os cinco magníficos subiram ao palco perante uma plateia disposta a 360 graus. Foi possível observar a magia de Manel Cruz e companheiros de frente, de costas, de lado. Com o vocalista, como já nos habituou, a gerir o espaço com mestria, cada gesto dos músicos, cada pausa, cada piada foram motivo de aplauso dos fãs.

Os Ornatos começaram por nos ensinar Como Afundar, prosseguindo com Tanque e uma ordem a que era impossível obedecer. Ninguém conseguiu (nem poderia!) parar de olhar para um quase hipnótico Manel Cruz que, com a enorme cumplicidade dos seus pares, nos conduziu até um O.M.E.M a terminar com o vocalista deitado no chão do palco. – Aparentemente foi tão bom para ele como para nós!

Estava preparado o terreno para um explosivo Chaga cantado a uma só voz, a que se seguiria o regresso à calma com Coisas. O momento de intimismo atinge um ponto alto com Deixa Morrer e Devagar, altura em que centenas de lanternas se acendem em sintonia com os temas: “Só quisemos tocar o céu”, diz o poema. “Ei-lo”, parece dizer o público. Após Capitão Romance – tema que Manel Cruz poderia escusar-se a cantar, tal é o número de vozes síncronas que o entoam – a referência aos revivalismos e a Da Weasel, com Pára-me Agora a ser dedicado à Doninha e o inevitável Dia Mau, com um abraço da banda ao centro do palco a fechar esta parte do concerto, antes do regresso, melhor dizendo, antes dos regressos dos heróis da noite.

O final avizinha-se. Tal como sabemos que a Dama do Sinal vai voltar, todos os fãs de Ornatos Violeta esperam que eles voltem sempre mas, não vá o diabo tecê-las, vivem cada concerto como se fosse o último, aplaudindo intensamente, acompanhando as canções com a emoção própria de quem funde a sua maturidade com a dos músicos em palco, de quem cresceu com o Monstro ou é mesmo mais jovem que ele.

É por isto que podemos ver bancadas inteiras a acompanhar cada palavra, a mostrar entusiasmo de cada vez que Manel Cruz despe uma camisola, faz um brinde ou nos diz com a genuinidade que o caracteriza: “Olá pessoal!”… “’Tá do car…!”. Um público que aprecia o bom humor do sanjoanense e festeja a amizade cada vez mais forte dos rapazes do norte. Um público que tendo pouca ligação com a cidade do Porto aplaude com entusiamo o momento em que o baterista Kinörm enverga uma camisola do Boavista ou se inclina em sinal de vénia e que mesmo quando Manel Cruz se despede com um “até à próxima” sabe que este ainda não é o Fim da Canção.

Os fãs de Ornatos Violeta, os amigos do Monstro esperam o regresso da sua banda de eleição ao palco que uma luminotecnia bem desenhada transforma ora em caixa mágica, ora num cenário a fazer lembrar o amanhecer junto ao Douro carregado de neblina. Todos quantos vieram para a festa dos 20 anos, número redondo de uma idade respeitável, sabem que falta ainda Raquel para fechar esta grande noite e sabem, sobretudo, que entre eles e os Ornatos, mesmo quando se ouve o Derby Day em jeito de fim de emissão, não é de um final que se fala, mas tão só de um “Obrigado, Lisboa! Até sempre!”

Carla Flores  

A repórter de guerra sonhada aos 10 anos deu lugar à professora de inglês que se dedicou a outras lutas, como a da promoção da leitura e a aquela coisa do "ah e tal, vamos lá mudar o mundo antes que ele nos mude!


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