“O Reggae precisa de muitos Richies”: Reportagem do concerto no Campo Pequeno

"O Reggae precisa de muitos Richies": Reportagem do concerto no Campo Pequeno

Supa Squad fizeram as honras da casa e aqueceram as vibrações de quem esperava ansioso pela chegada do maior nome do Reggae nacional: Richie Campbell. Já passava das 22h00 quando subiu ao palco a 991 Band e foi com a música «Piece of Bread» que Richie descansou as hormonas dos milhares de fãs que o aguardavam. Assim que «What a Day» aqueceu o ambiente, levando o público a repetir a frase uma dezena de vezes, Campbell apresentou de imediato os nomes dos três convidados da noite, agradeceu aos seus admiradores e pediu um aplauso para a família, ressaltando que «a família é a coisa mais importante do mundo», depois de ter cantado a intensa «Going Out», música dedicada a todas as pessoas que amamos e que se viram obrigadas a ir para fora em busca de uma vida melhor . Não descurando músicas como «Love Me So» e «Medley», deixámo-nos envolver num ambiente romântico desenhado por luz azul e uma enorme bola de espelhos,  criando assim o feeling e misticismo da música «Everytime I cry», single do álbum My Path.

«A casa está cheia» orgulhou-se o artista que fez estremecer o Campo Pequeno com a magnífica «Missing You» comprovando que a sua legião de fãs está sempre pronta para cantar em uníssono todas as suas músicas.

Directamente de Kingston, Richie Stephens cantou «True Believer» e mostrou a cumplicidade que existe entre os dois músicos, não tivesse Ricardo Costa inspirado-se no nome de um dos seus artistas preferidos. E também directamente de Colónia, o tão estimado Genttleman que nos presenteou o segundo duelo da noite com a música «Journey». O artista alemão mostrou-se muito contente por estar de volta a Portugal e fez questão de vincar o orgulho que sente por Richie Campbell. Mas se os fãs achavam que as surpresas ficavam por aqui, depois de muitos aplausos aos primeiros convidados, «Revolution» foi uma autêntica revolução levando o público ao rubro quando percebeu que a música era cantada pelos três, entre coreografias e brincadeiras. «Este momento que aconteceu aqui foi tão bom para vocês como foi para nós», confirmando que o verdadeiro espírito do Reggae não se sente apenas, vive-se.

E viveu-se. Richie Campbell prometeu surpreender-nos neste concerto que marcou o fim da FOCUSED Tour e mandou apagar as luzes. Com o Campo Pequeno totalmente às escuras, acenderam-se isqueiros e telemóveis, cantou-se a «Get With You» acompanhada por imagens de Lisboa e uma autêntica chuva de fogo. Mas houve mais, muito mais. Após um estrondo profundo, acenderam-se enormes sirenes em cima do palco e foi ao ritmo de «991» que Richie Campbell confirmou porque a sua fiel 991 Band é considerada uma das melhores bandas de Reggae do momento. Depois de nos ter relembrado que este concerto faria parte da gravação de um DVD, fomos nós que lhe mostrámos quem é que parte a casa toda.

Não querendo subestimar o talento da artista jamaicana Ikaya, dona da única voz feminina do álbum de Richie Campbell, é uma tremenda injustiça não realçar o vozeirão de Vânia que foi muito aplaudida e assobiada após a sua excelente actuação e jogo de cintura ao ritmo da música «Love Is An Addiction». A juntar a esta voz inata, foi a vez de Richie mostrar que também a sua projecção se faz soar e, acreditando que é dono de um talento incomparável, conseguiu arrasar com o microfone. Falhas à parte, a música «Whoa» é tão boa que tivemos direito ao mítico Pull Up, muito frequente em concertos de Reggae e Dancehall – tivessem os seus espectáculos o dobro do tempo, e era bem capaz de voltar todas as músicas ao princípio.

Terminada a primeira parte, Richie Campbell regressa ao palco ao lado de Paulo Croft que acompanhou a música «All About You» ao som de uma guitarra portuguesa. Regressa, ainda, ao álbum de 2010, mas os fãs surpreenderam-no quando se fizeram ouvir com a música «Blame It On Me». Richie nem precisou de cantar, apreciou o momento, bateu com o pé no palco e orgulhou-se de ser quem é. A música continuou e o Campo Pequeno encheu-se de confetes prateados.

Mas foi de ouro que se fez o espectáculo com a repentina entrada de Dengaz, um dos nomes mais respeitados na cena Rap portuguesa. «From The Heart», cantada para um dos melhores artistas do mundo, encheu os corações do público. Se é preciso perceber o hip-hop, é preciso sentir o Reggae e os dois músicos, entre uma amigável picardia, fizeram questão de vangloriar ambos os estilos musicais com a frase «Could Be You Love».

Depois do público ir abaixo e acima, depois de Richie Campbell ter feito história, o concerto terminou com a tão aguardada «That´s How We Roll» enchendo, mais uma vez, o Campo Pequeno de confetes com as três cores do Reggae. Este segundo álbum foi sem dúvida o salto na carreira de Campbell. E saltos foi coisa que não faltou no concerto de encerramento da FOCUSED Tour. O Reggae seja puro ou comercial, é vivido de forma muita intensa por quem o sente. Quer se goste ou não, a histeria traduz-se em ecos de `wows´ e braços sincronizados de um lado para o outro. Richie Campbell batalhou muito para chegar a todos os palcos que pisou e é responsável por um projecto irreverente e quase único em território luso. As mensagens das letras proferem uma enorme e intensa carga socialmente atenta e é o seu dom que suscita todo este constante alarido de volta do seu nome. Richie Campbell vive do Reggae e o Reggae precisa de muitos Richies.

Veja aqui a galeria fotográfica: Richie Campbell no Campo Pequeno, 19 de Dezembro de 2013

Mafalda Saraiva  

Eu sei lá resumir-me numa frase. Mas escrevo muitas no meu blog.


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Mais sobre: Dengaz, Gentleman, Richie Campbell, Richie Stephens

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