O dia do Jubileu – Ozzy Osbourne e Judas Priest na Altice Arena
Desta vez foi a sério e o Prince of Darkness pisou mesmo os palcos nacionais pela primeira vez. Foi preciso esperar cinco décadas e suportar um falso alarme em 2012, mas os portugueses souberam perdoar.
Eram muitos os que se concentravam no exterior da Altice Arena. Muitos deslocaram-se de locais distantes do país para assistir ao concerto daquele que é visto como o “Pai” do metal. Depois da “balda” em 2002, quando Ozzy preferiu estar com a Rainha em vez de estar no seu festival, desta vez foi a sério e Portugal viu, finalmente, uma lenda viva da música, principalmente do rock.
Em cima do palco a simplicidade reina, uma cruz gigante e dois ecrãs bastam para se perceber que tudo se vai resumir à celebração e ao legado de um dos músicos mais influentes de sempre. No público percebe-se a ansiedade que fervilha e espanta-se a faixa etária que vai compondo a maior sala do país. Literalmente dos 8 aos 80. Este êxtase tem o seu momento alto quando começa a ecoar O Fortuna, de Carl Orff e passam alguns momentos da carreira de Ozzy Osboune ecrãs. Estamos muito perto de o presenciar. Mito ou realidade? Enfim Ozzy aparece e, contemplar para o músico pelos olhos de uma criança é um desafio. O mítico vocalista dos Black Sabbath parece frágil, porém, existe um estranho efeito Dorian Grey, pois nos últimos 20 anos parece não ter envelhecido. É o prórpio Ozzy que lança o desafio: «I want you to go crazy…the crazier you go, the crazier I Go». Está lançado o mote e, após um Louder!, que assumiu contornos assustadores, o músico, acompanhado pelo “enorme” Zakk Wylde, mas também por Tommy Clufetos, Rob Nicholson e Adam Wakeman, arranque de imediato para Bark at The Moon. Finalmente o público solta as suas amarras e fica, desde aí, preso à magia de um concerto como há muito não se via e Mr. Crowley é o momento que se segue, cantado em uníssono por uma Altice Arena que, por esta altura, já tinha perdoado Osbourne. O tempo agora é de celebração e, independentemente do que se diga, escreve ou pensa, onde estivemos foi num concerto rock. Fairies Wear Boots é a primeira passagem pelo legado Sabbath. Ozzy salta, aplaude, diverte-se com baldes de água atirados para o “golden circle” (bem composto). Ozzy parece uma criança em cima do palco, enérgico, provocador, encantador. É assim que o músico ataca Suicide Solution e de seguida No More Tears.
Já muito se falou do músico, da pessoa. Há quem brinque e faça piadas sobre Ozz. É certo que os anos passaram e que, ao longos destas cinco décadas, o músico teve altos e baixos, porém, quando se assiste a momentos como Road to Nowhere e War Pigs (mais uma viagem aos Black Sabbath), percebemos que Ozzy é uma figura eterna e que, talvez, o palco seja demasiado pequeno para ele. Tão pequeno que Zakk Wylde foge para fora do palco, com a sua guitarra e durante, possivelmente, mais de 10minutos tem um daqueles solos de despertar o inferno, num medley de Miracle Man, Crazy Babies, Desire e Perry Mason que, bem junto dos fãs nos faz esquecer tudo e de todos. Passeia devagar, de um lado ao outro, guitarra às costas para no fim a levar à boca, a música não pára, não pode parar.
É já um Ozzy retemperado o que se atira a I Don’t Want to Change The World e a inevitável Shot in The Dark. Não sem antes se ouvir um solo, brilhante, de Clufettos. Isto é rock e ninguém sabe melhor isso que Ozzy. Rapidamente o músico passa por Crazy Train e, claro, Momma I’m Coming Home. A despedida aqui tão perto. Há quem solte uma lágrima, há quem cante, há quem filme. Marcante. Para o final a, talvez, demasiado rápida Paranoid. Passou tudo tão rápido. Changes ouve-se já na PA e Ozzy já saiu de cena. Fica a certeza de um grande concerto. Fica a certeza que o público português perdoou o vocalista. Foi o «Olá e Adeus» do britânico.
O mesmo não se pode dizer dos Judas Priest, que terminaram o concerto com uma quase, garantia de regresso. É um Rob Halford envelhecido que sobe ao Altice Arena, porém tudo continua lá. A voz, o timbre. Mas este não era o dia Priest e eles sabiam-no. Com um set de, aproximadamente, uma hora, a banda britânica arrancou desde logo com Firepower, do mas recente disco com o mesmo nome. Fiéis a si mesmos os Judas Priest não alteram em nada a sua fórmula e, como tal, o seu heavy metal será sempre robusto e musculado e é isso que se percebe nos temas Turbo Lover ou You Got Anothet Thing Coming, mas falta ali algo, e esse algo são as guitarras. Não que os músicos que lá estão sejam maus, nada disso, porém Faulkner e Sneap não são Downing e Tipton e isso percebe-se, ainda mais quando, estranhamente, Scott Travis tem uma bateria muito sumida. Isso não invalida que temas como Painkiller, Grinder, Sinner e, claro, The Ripper (com direito a Harley no palco) tivessem dado o mote para o que se seguiria. Há ainda espaço para Tipton fazer uma aparição surpresa que, fritas as contas, soou a pouco, pois o público deu menos a Tipton. Para final de noite e num set equilibrado, ficaram Breaking The Law e Metal Gods. Afinal o heavy metal está vivo e recomenda-se.
Não interessa se as guitarras isto ou aquilo. Não interessa se deveriam ter tocado esta, aquela ou a outra. Hoje nada interessou a não ser a celebração de uma vida. O adeus merecido a alguém que mantém hoje, como há cinquenta anos, uma aura que o coloca no Panteão dos Notáveis.
Ozzy esteve em Portual! Que mais interessa?
N.R.: Por opção dos artistas não nos foi possível fotografar os concertos
Texto: Nuno Lopes
Edição: Daniela Azevedo
Foto Judas Priest: Nuno Conceição (EIN)
Foto Ozzy Osbourne: Direitos Reservados