NOS Alive 3º dia: De volta à Velha Fórmula
O NOS Alive 2024 chegou ao fim, deixando para trás três dias de música, dança e alegria que reuniram 165 mil pessoas no Passeio Marítimo de Algés. Mais de 20 mil fãs estrangeiros, de 70 nacionalidades diferentes, juntaram-se à festa, tornando o festival um verdadeiro encontro capitalizado de amantes da música…
Já dissemos outrora e voltamos a repetir:
É certo afirmar, que este evento anual é um aglomerado de concertos e ativação de marcas que supera os desafios financeiros de Portugal. E como o faz? Com a velha equação matemática de: cartaz nacional e internacional diversificado + headliners de peso = money in the bank. Assim, consegue atrair diariamente uma ampla e variada audiência e obter um retorno bastante lucrativo.
Prova disso foi a loucura que se apoderou da venda de bilhetes quando a banda Pearl Jam foi anunciada. Em poucas horas, o último dia desta edição esgotou. A chave para tal sucesso? Um profundo conhecimento da sociedade mainstream portuguesa, que valoriza a cultura musical apenas com eventos marcantes, frequentando-os no máximo uma ou duas vezes por ano. E se ainda restavam dúvidas sobre o impacto e a relevância de Pearl Jam, depois de mais de três décadas de carreira, os mesmos se encarregaram de responder com um espetáculo energético. Superou as expectativas tanto dos fãs fervorosos, quanto daqueles que dão primazia aos hits de embalar afazeres amorosos no banco traseiro de Ford Fiestas dos anos 90…
Mas não é só de Pearl Jam que se faz um festival
Infelizmente, também já não é só de Blasted Mechanism. Ficou a cargo desta banda portuguesa iniciar as atuações no palco principal, ainda a tarde ía longa e solarenga. Já nos encontramos tantas vezes, que iriam ser um dos principais destaques afirmativos deste artigo. É com um pesar enorme e aperto no coração que, ao fim dos seus 30 anos de carreira, nos vemos obrigados a ter um apontamento menos positivo.
O amor que temos por Blasted ultrapassa décadas. Ao vivo, começou aqui, neste festival, em 2009, tinha Pedro Guitshu acabado de entrar para a banda. Muitos concertos se seguiram, muita “uva pisamos” ao som do seu singular electro-rock tribal que percorre variados outros géneros. A febre por dançá-los foi tanta, que em duas ocasiões caía um dilúvio celestial e não arredamos o pé da frontline, de tão catártico que achamos este som. E se por um lado, louvamos os The Smashing Pumpkins por continuarem a fazer música sem estarem presos apenas a saudosismos do passado. A estes reis marcianos de world music é exatamente isso que cobramos. Nada contra a opção de se reinventarem, que já foi bem assente a partir de Egotronic (2015) e mais consolidada com New Militia (2018). Agora, com o single Come With Us (2024), alegam que “é um tema que evoca a essência de Blasted Mechanism, com uma sonoridade enérgica que junta a eletrónica a diversos elementos étnicos do mundo”. Até aqui tudo bem. Não há ninguém melhor do que banda para nos dizer o que é a sua essência.
Contudo, tudo desmorona um pouco, durante o que deveria ter sido um catártico concerto, quando não só temos de levar com o novo remix de Karkov (Nadabrovitchka) que dá soft trance vibes, com enfânse no soft. Quando todos os seus grandes êxitos têm exatamente este arranjo arrastado e perdem metade do seu poderio ao vivo. Já não caminhamos para novos, é certo. Talvez a energia de outrora, assim como os magnânimos fatos pseudo-alienisnas têm de ficar para trás. Mas ainda conseguimos abanar bem a cesta com o que outrora era então, a sua essência, com outros buffers e outras latências. A reinvenção é fantástica e resulta quando somos a Madonna, mas nem sempre dá bons frutos. Por momentos, pareceu que Hadouken e The Prodigy tinham tido um filho, mas este era leproso. E este conceito metafórico de algo a cair aos pedaços, nem nos deveria ter de passar pela mente com uma banda que está na mão de grandes promotores e gaba-se (e bem) de ter atuado no Glastonbury. Será de considerar, certamente, esta “roupagem musical” para o concerto de celebração de carreira que vem aí no próximo ano…
Ainda nem tinham terminado de atuar e já os tínhamos trocado pelo palco Heineken onde estavam Black Honey. Liderados pela carismática Izzy Bizu, estes britânicos tentaram transportar o público para uma viagem eletrizante aos anos 70, combinando a energia do garage rock com a teatralidade do glam rock. Esta última, é bem mais evidente em vídeos do que ao vivo. E sinceramente, ainda bem. Não precisamos de grandes artífices para desfrutar de um indie rockzinho para lavar a alma do trauma tuga que tínhamos acabado de vivenciar.
Mais tarde, também nesse palco, a nossa Marta decidiu dar um saltinho a Alec Benjamin, que presenteou o público com um concerto intimista e emocionante. O cantor e compositor americano cativou os demais pela sua sinceridade e conexão emocional. Nada que não fosse de esperar, visto ser hábil explorador de temas como a busca por significado, mágoa e deceção. A audiência que se identifica com este género, pareceu, profundamente tocada com as letras e melancólias do artista. Benjamin, entregou canções como “Devil Doesn’t Bargain” e “Let Me Down Slowly” de voz suave e expressiva, criando uma atmosfera aconchegante e reflexiva, para quem prefere este estilo de pop.
The Breeders, o rock não precisa partir tudo…
Confessamos revelar alguma surpresa por ver The Breeders no cartaz do NOS Alive. A banda americana de rock alternativo, formada em 1988, nunca foi tão aclamada em Portugal como outras do género. No entanto, parte do público português provou ser um bom apreciador de música, e acolheu-as de ouvido atento.
A banda, liderada pelas irmãs Kim e Kelley Deal, relançou o ano passado Last Splash (numa comemoração dos seus 30 anos) e apresentou uma setlist repleta de clássicos como Cannonball e Pastures of Plenty, relembrando a todos a sua sonoridade influente. Ao contrário de muitos dos seus conterrâneos do movimento grunge, The Breeders sempre se destacaram pela capacidade de combinar a energia do rock alternativo com uma sensibilidade pop irresistível. O que na altura, desde cedo, as afastou do puro rótulo grunge. As suas canções são pequenas obras-primas de melodia e harmonia, com letras que exploram temas como o amor, a perda e a nostalgia de forma simultaneamente honesta e poética.
No palco, a dupla de frontwomen demonstrou uma química inegável como irmãs e musicistas. As suas vozes entrelaçam-se em perfeita simbiose, criando um efeito hipnotizante que prende a atenção de parte de um público mais plurivalente. Foram um autêntico lembrete de que o verdadeiro rock alternativo não se define apenas pela distorção e pela fúria. A banda é a prova viva que é possível criar música poderosa e emocionante com melodias contagiantes e letras inteligentes.
Para trás, tivemos de deixar Khruangbin por uma questão de logística, devido a estarem colocados na malograda “hora da conversa e amontoado no palco secundário” (que assim designamos as 22h da noite em Oeiras). E também por uma questão de contabilidade, devido a ser a 3ª vez que nos encontraríamos, e é preciso um cenário idílico e de contacto direto com a natureza para tornar esta performance verdadeiramente mágica.
Sum 41, uma despedida inaudita
Não estávamos à espera que antes dos velhinhos do grunge de Seatle (que ainda dão muitas cartas neste jogo), tivéssemos um concerto tão hardcore como o dos canadianos Sum 41.
Tudo o que sabíamos sobre a banda do ex-marido da Avril Lavigne, era por imposição dos tempos áureos de American Pie (e de todas as bandas do macho hetero-world que Blink-182 carregou às costas). Êxitos dos 3 acordes de guitarra como “Fat Lip“, “In Too Deep” e “Still Waiting” não fazem jus à complexidade e alcance que encontramos ao longo de outras faixas menos conhecidas. E o público, que sejamos sinceros, não estava minimamente lá para os ver e ouvir, pareceu receber de braços abertos esta explosão de pop punk e hard rock.
A tour de Sum 41, que teve o NOS Alive como uma das suas paragens, foi anunciada como sendo a última da banda. Ao relembrar isto, Deryck Whibley ficou de lágrimas quase a escorrer pelos olhos, e fartou-se de agradecer a Portugal a energia que também emanou. Se será ou não a última, só o futuro o dirá, mas tornaram-se mais uma cereja no topo do bolo de performances com mais de 20 anos de carreira que ainda estão “aí para as curvas” neste último dia.
Depois dos tão queridos e aclamados Pearl Jam, que de igual forma se mostraram energéticos e a fazer as delícias de quem só veio cá com um propósito, voltamos ao WTF Clubbing para um último passito de dança. Não é possível congratular, a nível de eletrónica e sub-géneros, a curadoria deste palco como no ano anterior. Se em 2023 afirmávamos que fazia forte concorrência a um certo festival em Viana do Castelo, o mesmo não diríamos agora.
Mesmo assim, encerramos este festival com um velho amigo, o DJ e produtor francês, Vitalic. As suas misturas de electroclash, techno, electro house e dark disco são sempre uma boa aposta para quem gosta dos típicos movimentos de lagar. E mais uma comprovação da heterogeneidade de um cartaz que entra em diversos universos.
O NOS Alive regressa a 10, 11 e 12 de julho em 2025. Fiquem atentos às confirmações, e relembramos que podem ver a programação de eventos do género na nossa Agenda- CLICA AQUI – podem ainda usar o telemóvel para marcar com uma ⭐️ os concertos que não querem perder!
sou fã dos Pearl Jam por isso não vou comentar 🙂
Para mim as bandas que gostei no palco secundário foram: Black Puma e Black Honey. A meu ver estes deveriam ter estado no palco principal…