O mexe e remexe voltou à Avenida – O primeiro dia do Vodafone Mexefest 2016
(Caríssimos, isto não é um artigo dedicado a um concerto do Marco Paulo na Avenida da Liberdade. Sabemos bem que a avenida está reservada para o Tony, e para o Vodafone Mexefest.)
Final de Novembro já é sinónimo de Vodafone Mexefest e ao seu regresso juntam-se as rezas para que não chova, o cálculo intensivo para conseguir saltar de palco em palco, e perder o menos tempo possível entre concertos, e as filas quase certas para a ginja.
Tempo de assistir à fusão de ícones e de novos nomes do panorama musical, de apreciar a cidade de Lisboa e os seus recantos, de reencontrar amigos pelas ruas. O Mexefest é essencialmente de redescoberta e é isso mesmo que continua a trazer o público de volta.
Aquecidos com duas ginjas cada um, porque é Novembro e faz frio, a equipa do musicfest.pt deu início ao primeiro dia de reportagem.
Se há algo que é especial no Vodafone Mexefest é acedermos a espaços alfacinhas a que geralmente não temos acesso e a Sociedade de Geografia de Lisboa é um belíssimo exemplo disso mesmo. Às 19:30h a compositora e instrumentista lisboeta Lula Pena desejou-nos boa viagem e, para nós, marcou-se o inicio oficial do festival.
Pouco tempo depois, tocava o cuco, ou como quem diz, estreava-se uma das novidades deste ano, o Vodafone Cuckoo com Moullinex + Da Chick na varanda do Coliseu dos Recreios obrigando todos a uma hiperextensão do pescoço e a um ouvido mais atento nos primeiros momentos de ajuste de som. Deram-se uns passinhos de dança enquanto se distribuía chocolate quente, misturado com cervejas, bifanas, e bolas de Berlim (só porque podemos e temos estômagos de ferro) e estudavam-se horários.
A edição de 2016 fica marcada pela reabertura de um dos palcos mais emblemáticos de Lisboa, o Capitólio, e foi lá que se juntaram dois nomes já repetentes no Mexefest, Nerve e Mike El Nite, que ostentaram a ebulição e poderio do atual rap português para iniciar uma noite de primor para os fãs de boas rimas e batidas com vários convidados a ajudar à festa, entre eles Capicua.
Descendo a avenida fomos de encontro a mais uma das novidades desta edição do Mexefest, os Concertos Surpresa. Jorge Palma foi o senhor convidado para a primeira noite e juntou no Largo de São Domingos, público do festival e quem quisesse juntar-se já que a entrada era livre.
Como no Mexefest continua-se sempre a mexer, perdoem-me o pleonasmo, subimos as escadarias da estação do Rossio para assistir àquela que foi a centésima atuação de Baio, quase sempre lembrado como baixista dos Vampire Weekend.
“Boa noite Mexefest”, com o seu jeitinho aperaltado, com um lacinho irrepreensível ao pescoço que poderia fazê-lo passar por aluno de uma das faculdades da Ivy League, e com o seu ‘jeito desajeitado’ de dançar, Chris Baio cativou quem esteve no palco Estação Vodafone.FM, com o castelo de São Jorge a dar um charme extra atrás do palco. Ninguém chegou (de perto) aos moves dele, mas também ninguém conseguiu ficar quieto. Ele dizia que se sentia “fuckin’ good”, pois nós também.
De volta ao palco do cineteatro Capitólio, Talib Kweli mostrou porque é dos mais aclamados MCs e o porquê de continuar a ser uma referência do hip-hop. Podemos já estar bem longe dos anos 90 mas a verdade é que por momentos esquecemo-nos de que estávamos mesmo ali no centro do Parque Mayer e fomos transportados para os clubes de Brooklyn “Hip Hop’s right here”.
Lá fora faziam-se filas e filas para entrar já que Talib estava com lotação mais que esgotada. Mãos em W no ar, a festa estava lançada.
Às 22:20h estava marcado o início da atuação da britânica Neo Jessica Joshua, NAO, para os amigos.
Pouco a pouco o coliseu, ainda bem despido de público, foi enchendo para uma das atuações mais esperadas da noite e para quem lá esteve, por favor concordem comigo, não há como não gostar de NAO. Descalça, dotada de uma voz poderosíssima, rodopiando pelo palco e dançando verdadeiramente como se ninguém estivesse a ver, trouxe-nos o seu álbum “For All We Know” de onde saíram singles como “Girlfriend”, “Fool to Love”, ou “Bad Blood” com o qual fechou o concerto.
Quando fala com o público é um autêntico poço de doçura o que é uma oposição inaudita à atitude que tem quando canta.
Para quem não a conhecia ela disse no seu melhor português “O meu nome é NAO”. Vai continuar a dar que falar e temos a certeza que a vamos voltar a ver.
Não fomos autorizados a fotografar o concerto de NAO.
No teatro Tivoli BBVA Dinamite trazia uma panóplia de (bons) artistas nacionais em jeito de celebração da carreira de Dina. Afinal, e como os dois concertos especiais que antecederam o Mexefest comprovaram, a trajetória de Dina não parou no “Peguei, trinquei e meti-te na cesta”.
Quase quase a chegar ao fim do primeiro dia apanhei o último Carris nos Restauradores, aliás, apanhámos o Vodafone Bus com os portuenses Fugly e com mais um bando de gente que não sabia bem ao que ia. A timidez passou depressa e num abrir e fechar de olhos aquele autocarro foi o concretizar de todos os desejos das nossas crianças rebeldes interiores de saltar, ter música aos altos berros, bater no teto do autocarro e de fazer malabarismos nos varões. Quem ainda se passeava pela Avenida com os saquinhos da Black Friday não podia estar mais alheio ao que se passava mas vimos como tinham vontade de se juntarem ao bando. Perderam festa, da brava.
Os australianos Jagwar Ma foram os senhores responsáveis pelo encerramento do Coliseu dos Recreios na primeira noite do Vodafone Mexefest sendo esta a sua quarta passagem por Portugal. Desta vez tivemos direito ao já nosso bem conhecido “Howlin”, mas também ao novo álbum “Every Now and Then”, lançado no mês passado. Com um coliseu bem recheado proporcionaram algo quase como uma reunião final entre todos os que circulavam pela Avenida para o festival.
Até às duas da manhã, e porque continuámos cheios de sorte e sem chuva, Pedro Coquenão apresentou “Os Projecionistas” no Palco Tivoli BBVA e como em Lisboa não faltam opções, para os resistentes, Jono Ma continuou a festa no Musicbox.
Vemo-nos logo pela Avenida 😉