Metal agora e na hora da despedida – Reportagem no 2º dia do VOA 2019

Metal agora e na hora da despedida - Reportagem no 2º dia do VOA 2019

A Altice Arena voltou a encher-se de uma onda negra para o segundo dia do VOA – Heavy Rock Fest. Gente de todas as idades viu pela última vez em Portugal os Slayer, mas não só. Afinal isto é só metal.

Ao segundo dia do VOA – Heavy Rock Fest parece que já todas as dúvidas se dissiparam. São 15h00 e no exterior já se sente um clima de celebração, para muitos já de nostalgia. Corpos cansados do dia anterior mas que são esquecidos logo assim que se entra na sala e os lisboetas W.A.K.O. começam a destilar o seu metal furioso e cheio de groove. Logo nesta actuação ficou bem patente que iria ser um longo dia e foi uma amostra do que viria mais tarde. Os lisboetas acordaram o VOA à pedrada e justificaram todo o mosh e headbang feito no público que se ia, literalmente, amontoando. (Será que alguém ainda se lembra das regras inicialmente divulgadas pela organização?)

Em estreia por estas bandas os Cane Hill deram conta de si mesmos. Com uma carreira não muito longa, mas que lhes garante o reconhecimento de público, a banda não defraudou as expectativas e soube cumprir o seu papel. Foi intenso mas, no geral, o som da banda pareceu sempre estar um pouco distante do contexto do dia. Foi pena, pois não faltaram temas como Fountain of Youth ou Too Far Gone (já a encerrar a actuação).

Por esta altura a afluência da sala aumentou e tudo por causa de uma banda de nome Moonspell. Finalmente a banda da Amadora sobe ao palco do VOA, dez anos depois da primeira edição. A jogar em casa e com o público do seu lado, a banda arrancou com Em Nome do Medo, 1755 e In Tremo Dei, todas do mais recente 1755, mostrando desde logo que não estava ali para brincadeiras.

Após este trio a banda arranca para uma viagem ao passado com Opium, Awake e Breath (Until We Are No More. Por esta altura já a actuação da banda passa pelo facto de Ribeiro ser um entertainer em estado bruto. A terminar um concerto sólido ficaram os temas Todos os Santos, Alma Matter e (claro!) Full Moon Madness, entoados em uníssono por uma alcateia. Estava tudo pronto para os Gojira. Só que não estávamos assim tão prontos!

Os franceses partiram a casa toda, ou pelo menos surpreenderam. A água que se bebe em França deve ser completamente diferente da nossa. Com um som tremendo (quase uma constante ao longo do festival), os Gojira mostraram neste regresso a Portugal que estão nisto muito a sério e nem mesmo um pequeno problema de som os atemorizou; pelo contrário. A partir desse momento a banda agarrou o público e temas como Love, Silvera ou The Shooting Star soaram mais fortes e coesos que nunca. Podemos mesmo dizer que, por esta altura, a Altice Arena era já uma tempestade, com diversos focos de mosh. Afinal é possível levantar pó sem terra.

Tal como o foi para o público, também para os Lamb of God esta era uma noite especial (também para os norte-americanos esta era a última data com Slayer). Por isso mesmo, Randy Blythe está chateado e mostra isso mesmo. John Campbell é senhor no seu baixo. Tudo nesta banda é caos e fúria. O público, esse, agradece com devoção. Pela sala lisboeta entoaram-se temas como 512, Hourglass ou Contractor mas é Redneck, a encerrar o concerto, que a Altice Arena dispara para o que aí vinha.

Estava na hora! Uma enorme cortina cai sobre a sala lisboeta. Os Slayer estão a chegar, pela última vez! Falar destes senhores é falar de uma das maiores instituições metal no Mundo. Não há ninguém que nunca tenha ouvido Slayer ao longo deste (quase) 40 anos. Na plateia vê-se gente de todas as idades numa sala esgotada, mas não há tempo para mais pois Repentless entra nos ouvidos como uma rajada de metralhadora. Aí estavam eles, Tom Araya, Kerry King, Paul Bostaph e Gary Holt a ferro e fogo, sem nunca esquecer Jeff Hanneman, falecido em 2013 e responsável por muito do que ouve por aqui. A sala atinge a sua temperatura máxima com chamas que saem do palco. Os Slayer são uma máquina de guerra, um ataque cerrado em vertigem máxima.

Kerry King continua a ter o mesmo power há 30 anos, Araya é apenas Araya, mesmo quando para o final fica a sós, com o seu público, absorvendo aqueles últimos instantes de Portugal, tal como nós próprios fizemos. O que aconteceu naquela sala é história; daquelas que vão entrar para a História da música. Pelo meio, em pouco mais de hora e meia de actuação, o público teve tudo a que tem direito. De Hell Awaits a Disciple, de Wold Painted Blood a Raining Blood para terminar com Angel of Death. Ainda agora partiram e já temos saudades deles. Até sempre Slayer. Obrigado por tudo.

Depois da mudança de local de última hora todos os receios eram legítimos (ainda que exagerados na nossa opinião). Não poderemos deixar de enaltecer a Prime Artists por, em tão curto espaço, levar o festival do Restelo para a Altice Arena e fazer o melhor possível. Quem sabe se este acontecimento não terá sido um feliz acaso. Fica a dúvida. Quanto ao público soube comparecer e fazer uma festa, porque o metal é isto mesmo, uma enorme família em festa.


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