Marilyn Manson – o senhor anti-microfone

Marilyn Manson - o senhor anti-microfone

Foi um Campo Pequeno lotado que recebeu a banda norte-americana que se deslocou a Lisboa para apresentar Heaven Upside Down, o décimo disco da banda liderada por Brian Warner.

Passaram nove anos desde a última passagem do senhor anti-Cristo por território nacional, nesta mesma sala. Desses tempos pouco resta dos Marilyn Manson, porém nada disso impediu que a sala lisboeta lotasse para receber Brian Warner e a sua banda.

Quanto mais se aproximava a hora de início, mais a neblina se adensava no palco do Campo Pequeno e foi no auge desse nevoeiro que Marilyn Manson subiu ao palco. Passavam poucos minutos das 21h30. Longe vão os tempos em que a banda investia nas grandes produções. Podemos recordar a passagem em 1998 pelo espaço hoje denominado Altice Arena, porém, em 2018 a banda aposta, sobretudo na imagem do seu líder e, principalmente, nos excelentes discos que tem lançado, mesmo sem obter os resultados de vendas de outrora, mas isso são outras questões.

Irresponsable Hate Anthem e Angel With Scabbed Wings, ambos de AntiChrist Superstar, foram o início de um concerto que durou cerca de uma hora e meia. Desde logo ficou a certeza de que Warner ganhou alguns (muitos) quilos e que a sua banda emagreceu, sendo que a ausência de Twiggy Ramirez e de um teclista, retira alguma da orgânica que é conhecida da banda. Com alguns feeds e uma estranha fixação pelos microfones, o senhor anti-Cristo lá ia desfilando os seus temas, com tudo (ou quase) a que se tem direito. Brian Warner ganhou peso, perdeu muita da insanidade que lhe era conhecida e percebeu-se que a voz já não dá para tudo.

O público esse, estava rendido a um som grandioso e de enorme qualidade. Não fossem os constantes micros que o vocalista ia rebentando, pelo menos 8 foram contados ao longo de todo o concerto. This is The New Shit, Disposable Teens e mObscene foram cantados em uníssono por um Campo Pequeno em delírio e onde já existia algum moshpit. Do novo registo foram tocadas Kill 4 Me, com membros femininos do público a subir ao palco e a entoar o tema com Warner e em que a nudez parcial tomou conta do palco, antes do músico se atirar aos temas Rock Is Dead e The Dope Show (após uma tentativa falhada de I Don’t Like The Drugs, culpa da senhora encarregue de ajudar Warner, que aparentemente não sabia o tema).

Como seria de esperar a versão de Sweet Dreams foi uma das mais efusivamente recebidas e deu a confiança que o quarteto necessitava para a recta final do concerto. Say10, do novo disco, Fight Song (retirada de Holy Wood) e Drop True D encerram a primeira parte do concerto. O público não arredava pé e o Reverendo, já em regime encore, trouxe The Beautiful People e AntiChrist Superstar (onde não poderia faltar o púlpito), entre dois temas que poderiam ser, facilmente dispensados e cujo nome não interessa.

Passavam poucos minutos das 23h00 quando Coma White, de Mechanical Animals, deixou de ecoar na sala. Com uma despedida acelerada, Manson sai de cena, deixando um vazio tremendo. O circo voltou à cidade. Marilyn Manson provou uma vez mais que é competente o suficiente para dar um grande concerto e para mostrar que isto é só rock’n’roll. Ele não é a besta. Ele já foi o senhor das trevas e do rock, hoje é apenas um artista. Haverá quem deteste e que venere este concerto. As dúvidas da sua vitalidade serão as mesmas que eram há 20 anos quando pisou o palco do Sudoeste. O que é certo é que ele ainda cá está e, goste-se ou não, Marilyn Manson está aí para ficar.

 

Texto: Nuno Lopes
Edição: Daniela Azevedo
Fotos: Francisco Morais

Nuno C. Lopes  

Melómano convicto, dedicado ás sonoridades mais pesadas. Fotógrafo, redactor, criativo. Acredita que a palavra é uma arma. Apesar de tudo, até é boa pessoa.


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